Cos'è?



sabato 12 novembre 2011

Me


Penso-me.
Esboço-me.
Rascunho-me.
Escrevo-me.
Repasso-me.
Sublinho-me.
Leio-me.



Imagem: Camille, de Monet

domenica 23 ottobre 2011

Anedotas da vida real (e meu estômago no meio delas)


*Logo pela manhã, no Sacolão da Economia, um grande cartaz anunciava a promoção do dia: "Giló e berigela 1 real".

*Certa vez, durante uma aula específica do curso, uma universitária perguntou à professora nascida em Minas Gerais:
-Professora, eu nunca me lembro: é Juiz de Fora a capital de Belo Horizonte?

*Três garotos conversavam. Dizia o primeiro:
-Eu não me lembro quase nada das regras de gramática.
-Eu também não- respondeu um deles.
O terceiro disse:
-Eu não me lembro nem o que é hiato.
-Disto eu me lembro- falou o primeiro. Então prosseguiu:
-Hiato é saúde!

*Uma cliente, antes de pagar o estacionamento do shopping, pergunta a uma funcionária do estabelecimento:
-Compras acima de 30 reais não se paga o estacionamento, não é isto?
-O estacionamento está sendo pago, minha senhora. Só foi aprovada uma eliminar até agora.

*Enquanto isto, no centro da cidade...
O trânsito estava parado em uma das faixas, pois os veículos aguardavam o sinal verde. Um dos carros tinha os vidros cobertos com longos dizeres religiosos. Subitamente, os olhos da motorista do carro de trás leem a seguinte frase: "descida onde você quer viver depois de morrer."

*Já na saída da cidade, uma casa muito humilde anunciava em sua parede:
"Vende-se caxorro pudo".

*Em outra casa (observação: longe da casa do "caxorro pudo"), o anúncio era:
"Arranca dente Promoção Só R$ 5".

*A cliente de um banco ainda esperava ser atendida, quando uma outra cliente sentou-se ao seu lado, também aguardando atendimento. Tocou o telefone celular da segunda:
-Alô?
-(...)
-Sim, estou aqui.
-(...)
-A estas alturas, Palmas inteira já está sabendo...
-(...)
-Ah, é! O Leandro me conversou...
A outra cliente deu um salto de seu lugar, tamanho foi o susto que levou!

*Uma escola de italiano promovia palestras sobre a cultura daquele país. A palestrante daquela noite, uma italiana de Bolonha, falava sobre os aspectos importantes de sua cidade e região, quando um homem-não-identificado invade a sala de aula.
-Good night, good night, good night!- disse o homem-não-identificado a cada um dos brasileiros ali presentes, que acompanhavam a palestra em italiano.
O homem-não-identificado sentou-se. A ministrante da noite continuou a falar em italiano sobre o seu assunto.
-Aqui é uma escola de italiano?!- berrou de repente o homem-não-identificado.
A responsável pela escola respondeu educadamente que sim.
-Pergunta pra ela sobre o Da Vinci- tornou a berrar o homem-não-identificado.
A diretora da escola traduziu em italiano a dúvida daquele senhor, ainda que a pergunta estivesse totalmente fora do contexto.
Dois minutos mais tarde e o homem-não-identificado volta a fazer-se notar:
-Sabe o que que é? Eu morei muitos anos nos Estados Unidos e acabei de voltar de lá. Queria aprender italiano. Qual é o método de vocês? Porque eu aprendi inglês através de uma bíblia em espanhol.
A responsável pela escola tentou explicar ao homem-não-identificado que aquele não era o momento mais adequado para se falar sobre isto, já que a moça ali na frente, estava tentando passar algum conhecimento da língua e da cultura italiana aos presentes, quando ele chegou.
-Ahhhh...- murmurou o homem-não-identificado. Então, ele levantou o seu pesado corpo da carteira e foi-se embora da mesma maneira como chegou:
-Good night, good night, good night!




Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência

venerdì 21 ottobre 2011

Chove no meu cartão-postal


Chove no meu cartão-postal e as ruas estão cheias de lama. São poças e poças de uma água que caiu do céu e meus pés estão sempre molhados- pés como tantos outros que caminham pelas avenidas, alamedas e sarjetas desta cidade.
Chove no meu cartão-postal e o céu é sempre cinza de dia e vermelho à noite, com suas nuvens carregadas de lágrimas e consolo. Sim, consolo-me quando chove, pois é quando lavo meus pensamentos junto com a água que escorre na vidraça.
Chove no meu cartão-postal e a cidade é um grande amontoado de guarda-chuvas coloridos, que juntos, formam um belo arco-íris no zoom de minhas pupilas. Ah, estes olhos que enxergam cores, que enxergam vida e que veem vida nas estações do ano: punhados e punhados de pessoas que vão e vem, tais como o inverno e o verão.
Chove no meu cartão-postal e eu só tenho gotas em meus dedos- gotas estas, que aguçam o meu tato, dando-lhe um pouco de frio ou de calor. Sinto um arrepio quente a percorrer meus braços: são as gotas de chuvas que viraram córregos de sensações em meus membros.
Chove no meu cartão-postal e eu escuto o seu ruído: chuá, chuá. Um barulho leve e confortante que produz notas musicais em meus ouvidos (talvez, a chuva não esteja cantando, mas contando-me a seu modo qualquer coisa que viu lá do alto, quando ainda pertencia às nuvens... mas eu, pobre ignorante que sou, não falo a língua das chuvas e tudo para mim resume-se a melodias...).
Chove no meu cartão-postal e as flores sacodem-se de alegria, dando olés no vento que as envolvem. Meu jardim sorri e é tudo o que me importa.
Chove no meu cartão-postal e a chuva manchou a minha escrita de tinta azul. Minhas palavras estão borradas e suas letras descem em longos fios, desfazendo as frases, mas formando pequenas poças sem sentido... A chuva quando desce, não precisa ter sentido: basta somente ser chuva.






Imagem: postcard from London by Phillip D.H. Short

giovedì 13 ottobre 2011

Construção


Família

Quem sou eu?
De onde vim?
Quem foram meus ancestrais?
Carrego dentro de mim
A herança dos meus pais
Que por sua vez receberam
Os genes de meus avós.
Eram a minha família.
Gerações me antecederam
Longe,
Longe
Bem longe,
Sumiram
Nas eras imemoriais.
Meus filhos, netos, bisnetos
Também se questionarão
Quem sou eu?
De onde eu vim?
Procurarão no olhar,
No jeito de ser,
No falar,
Traços dos antepassados
Ou qualquer coisa de mim.
A hereditariedade,
As descendências,
Irão se expandindo,
Séculos,
Séculos,
Séculos,
Mais séculos virão,
E os que me sucederem
No infinito dos tempos
Continuarão conduzindo
Os genes que eram meus.
Serão a mesma família
Abençoada por Deus.


Construção

A construção
Da casa vizinha
Está demorando
Para ser concluída.
Estou passando um sufoco,
Aguentando a britadeira
Com seu barulho infernal,
Caminhão a toda hora
Trazendo material,
Coitados dos meus ouvidos
Começaram a escutar mal.
Procurei um otorrino
Que após fazer um exame,
Falou que eu não tinha nada
Voltaria a escutar bem
Depois da obra acabada.
Tenho asma e a poeira
Deixou-me asfixiada,
Mal podia respirar.
(Até parece piada!)
Fui ao pneumologista
Que falou com voz pausada;
“- A asma só vai embora
Depois da obra acabada”
Fui ao neurologista
Com a cabeça atormentada,
Mandou-me ao psiquiatra
Pois eu estava pirada,
Esse, nem me ouviu!
Disse que eu voltasse lá
Depois da obra acabada.
Derrubaram meus ciprestes
E a dona da construção
Ordenou erguer um muro
Nem me deu satisfação
Chorei muito e adquiri
Uma bruta taquicardia.
Com a alma amargurada
Busquei um cardiologista
Para ver o que havia.
Disse que eu estava estressada
E só sentiria alivio
Depois da obra acabada.
Pedreiros da construção
Tiraram a privacidade
Da nossa casa, por isso
Ela está sempre fechada.
A conta da luz cresceu
Foi uma baita aumentada
E só vai diminuir
Depois da obra acabada.
Conversei com a vizinha,
A dona da construção,
Mostrei meu prejuízo
Pedi indenização
Respondeu que não pagava
Não tinha dinheiro, não!
Retruquei, vá ao cartório
Passe a casa no meu nome
Está resolvida a questão.
Como tenho paciência
E sou muito sossegada
Sei que o pagamento vem
Depois da obra acabada.


Vida

Os prótons, os elétrons,
O átomo,
A bactéria,
Micro organismo
Unicelular.
O ar, a poeira,
A terra, a areia,
Planetas, cometas,
Estrelas brilhantes,
O cintilar da faísca,
O fogo flamejante,
Que arde e abrasa,
A luz.
O orvalho trêmulo,
Delicado.
O mar imenso, belo,
Magnificente,
A água.
A grama humilde,
Rasteira,
A árvore soberba,
Altaneira.
Flores e frutos,
Pássaros e peixes,
Insetos e animais.
O homem
Senhor poderoso
Entre os irracionais.
Teu nome é vida,
És mistério,
Enigma, sim,
Pois vieste do verbo
Que não teve princípio
E nem há de ter fim.



*Poemas de Carminha Medeiros, minha avó
imagem: Marc Chagall, "Red Bouquet"

martedì 4 ottobre 2011

Quando uma estrela cai...


Uma estrela caiu do céu
ao escorregar das mãos do anjo
que todos os dias dava-lhe brilho.

Tamanha foi sua carreira
que arranhou um pedaço do céu.
Os meninos lá na Terra,
que conferiam o trabalho do anjo,
olharam por todas as bandas,
mas não acharam sequer um rabo.

-Onde ela caiu? Onde se escondeu?

O anjo, já conformado
com a ida da estrela fujona,
respondeu-lhes:

-Quando uma estrela cai,
é porque decidiu receber
novo brilho de outras mãos.

lunedì 19 settembre 2011

Como se tornar um brontossauro


Três camaradas estavam em um rodízio vegetariano. Conversavam alegremente enquanto comiam beterraba com salsinha, tomate com cebola e coentro, rúcula e coxinha de jaca.
-Coxinha de jaca?!
-Sim, coxinha de jaca. Uma adaptação da receita, que substitui o frango pela jaca, explicou um dos garçons.
-Ah, sim! Sendo assim... E continuaram a saborear os pratos e a deliciar as coxinhas de jaca.
-Mais pepino, senhores?, perguntou subitamente o garçom.
-Sim, claro!, responderam dois dos três amigos, ao que o terceiro disse:
-Para mim, não muito. Você sabe, preciso deixar espaço para a lasanha de berinjela!!!, e deu um pequeno tapa no ombro do garçom, que saiu sorrindo.
A lasanha de berinjela não demorou muito a chegar (e estava uma delícia, segundo os três amigos). Aliás, berinjela era um dos destaques do rodízio: vinha na forma de lasanha, de fritura, grelhada com queijo, ou cortada em cubos com azeite.
-A berinjela pode até fazer sucesso, mas nada se compara a este suflê de espinafre, disse um dos rapazes.
-Você come suflê de espinafre a semana toda, Marcelo, e ainda pensa em comer aqui?, indignou-se um deles.
-Pois fique sabendo que o meu suflê de espinafre faz o maior sucesso com as garotas, ao contrário do seu bolinho de arroz, respondeu Marcelo dando risada.
-É verdade, Ricardo. A Sara e a Renata quase morreram comendo os seus bolinhos, acrescentou Flávio, o outro amigo, entre gargalhadas.
Ricardo ficou quieto, um tanto quanto sem graça, porque era verdade que era um péssimo cozinheiro de bolinhos de arroz. Para fingir que não estava nem aí para os comentários dos amigos, resolveu mudar de assunto:
-Cadê a salada de alface que nunca vem?
-Isto eu não sei. Mas olha só o que está chegando!, apontou Flávio.
-Os senhores aceitam batata recheada com quatro queijos?, ofereceu o garçom.
Os amigos ainda se empanturraram com a couve refogada, com quibebe de abóbora, mandioca frita, creme de cenoura e com trouxinhas de palmito.
Meia hora depois, estavam tomando um cafezinho na entrada do restaurante. Pagaram a conta e saíram. Saciados como estavam, lembravam brontossauros após a refeição.

martedì 6 settembre 2011

O sotaque brasileiro de Ammaniti



“Te pego e te levo embora” foi o que li na capa de um dos livros de Ammaniti. E assim o fiz. Peguei o livro, paguei 10,50 euros e o trouxe para o Brasil. A longa distância que separa a Itália do Brasil não se resume apenas à geografia, mas de certa forma, atinge também, o mercado editorial. “Ti Prendo e Ti Porto Via” (Mondadori, 2011, 452 páginas), lançado a primeira vez em 1999, é um dos principais livros de Niccolò Ammaniti, um nome de grande força na literatura italiana atual. Entretanto, não tem tradução no Brasil. Dizem, que o cantor de pop-rock Vasco Rossi escreveu a canção “Ti Prendo e Ti Porto Via” inspirado no livro, que continua sem tradução no Brasil. Mas justiça seja feita: em terras brasileiras, Ammaniti possui ao menos dois livros traduzidos: “Não Tenho Medo” (Companhia das Letras, 2003, 216 páginas) e “Como Deus Manda” (Bertrand Brasil, 2009, 436 páginas), dois títulos de destaque em sua obra, que além de romances, também possui contos e outros formatos.
Apesar da disparidade que existe entre ser muito traduzido no exterior (em cerca de 45 países) e pouco conhecido no Brasil, Ammaniti tem um quê de brasilidade... Uma coisa tropical que agita os ventos de inverno, um tempero nas palavras que sacode a imaginação, uma coisa cômica e triste, agitada e calma, irreverente, inteligente, emocionante, sarcástica e sentimental, tal como as linhas do mineiro Fernando Sabino ou do gaúcho Érico Veríssimo. Poderia citar uma boa dúzia de autores brasileiros que trazem como características da literatura brasileira o reforço de suas terras, a regionalização, a vida... E como há vida em “Ti Prendo e Ti Porto Via”! Nada daquela coisa francesa e fria do meramente descrever, em que se sente um abismo entre a personagem e o seu autor. O italiano Ammaniti dá vida às suas criaturas, transformando-as em seres que pensam e agem por si sós. O centro da trama é a pequena cidade de Ischiano Scalo, que apesar de não existir em um mapa real, pode ser visualizada rua a rua pelos leitores; pode-se até mesmo sentir asco do “esconderijo” do menino Pietro, uma lagoa cheia de salamandras, serpentes e insetos.
É a visualização de um “paesino” italiano, que realça muito da cultura daquele país, inclusive as mais clichês, como o gosto pelas massas. É a pintura de suas paisagens, de um país ocidental em fins do século XX; é a maneira italiana de festejar, de agir e de falar: tal qual a Belo Horizonte de Sabino, com a sua “mineirice”. E tudo isto escrito com tamanha naturalidade, que atinge a perfeição do contexto, sem torná-lo meramente vulgar ou frio, mas deixando-o na medida certa (assim como fez o nosso mineiro tantas vezes).
Desde que Dom Casmurro foi lançado, há mais de cem anos, o já lendário Machado de Assis vem causando nós na cabeça de muita gente. Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? “Ma, dái!”, diriam os italianos. Faça-se um perfil psicológico da personagem! Somente Ammaniti poderia responder, em uma entrevista, se leu este clássico machadiano (antes de tudo, brasileiro), mas o fato é que em “Ti Prendo e Ti Porto Via” as personagens também têm um aspecto psicológico muito forte. Para contar os impasses de Pietro, Graziano e Flora, Ammaniti cria um punhado de bons personagens, cujas características de personalidade são muito bem definidas, mas que em contato ao meio social, dão novos ares ao psicológico de seus portadores, como acontece na vida fora dos livros. Os humanos deste livro, bem como tantas pessoas fictícias ou reais, são impulsionados pelo meio e, muitas vezes, deixam traços pelo caminho. Marcas como as deixadas no final trágico por Pietro e Graziano: nos outros e em si mesmos.
A literatura de Ammaniti se aproxima ainda mais do Brasil quando ele se lembra da existência deste país sul-americano. Alguns breves exemplos: um cachorro fila-brasileiro, uma das andanças do músico Graziano em plena favela carioca (com muitos perigos, claro!) e o que poderia ser a melhor “brasilidade” de Ammaniti (ou melhor, de Graziano): enquanto faz amor com Flora, Graziano canta em seus ouvidos: “O minha macona, o minha torcida, o minha flamenga, o minha capoeira, o minha maloka, o minha belezza, o minha vagabunda, (...) minha galera, o minha capoeira, o minha cashueira, o minha menina”. É certo que a música “Minha Galera”, apesar de ser em português brasileiro é cantada pelo francês Manu Chao... Mas ao assistir a cena, percebo que Graziano-Ammaniti canta esta música da mesma forma que se fazem, por aqui, telenovelas “italianas”: com um sotaque um tanto quanto engraçado e irreal.

martedì 9 agosto 2011

Crônica de um lugar distante


Certa volta, pegou o avião e foi parar em Londres. Mas Londres não era o seu destino e por isto, pegou outro avião e mais um carro para chegar a um lugar entre flores, nos arredores do Mar Adriático. Uma cidadezinha pequena, com imóveis antigos e ruas de pedras e que abriga em uma praça a torre de um castelo. Um certo Raimundo tem o seu nome envolvido na história da cidade e da torre, mas isto foi há tanto tempo, que hoje se pode contar até 700 anos!
O mês era somente julho, em seu quarto dia. Tal como o sol de verão que brilhava no céu e queimava a sua pele branca, julho também prometia um certo brilho especial: afinal, era a sua primeira vez em uma experiência daquelas. Olhava para todos os lados e via punhados de colinas que não se cansavam de subir e de descer. Muitas carregavam nas costas campos de girassóis que reluziam no horizonte. Por baixo da ponte que separava a sua residência provisória do resto da cidade, passavam os trilhos do trem: linhas e linhas de conexões com outros destinos.
Com o passar dos dias, descobriu ruas com tapetes em folhas, jovens praticando esportes, sorvetes de sabor especial, noites de música, termômetro que marca vinte e oito graus às onze da noite, idosos que observam, vaga-lumes que iluminam seratas, massas suculentas e um riacho que corta um endereço. De repente, silêncio. Quando a noite já era velha, só restavam os bares para se divertir. Só mesmo no "alemão" ou no "londrino", com suas decorações de "pub" para se encontrar com os novos amigos.
Mas se o dia amanhecia, ah, deixava a preguiça de lado! Lições de uma língua na qual tem um certo conhecimento, aliadas a conversas, caminhadas, cantorias e cochichos. Escadas que a empurravam para cima e para baixo, jardins de estudos e animais de estimação.
Pensava no tempo que corria e nas cinco horas à frente em que vivia; pensava nos minutos que passavam e nos segundos que viriam; colhia horas de expectativas e guardava nos bolsos da memória cada flash de instante. Era feliz. Uma felicidade provisória, era certo, mas qual felicidade é eterna? Qual felicidade é perfeita?
Nas fotografias e vídeos, o momento se eternizou. Nos papéis, a marca de um punho em vida. Ponto.
Pronto. Chegou a hora de partir. A manhã era calma e lembrava recordações. Por trás dos vidros do carro, viu dois amigos, um senhor e um cachorro se afastarem até ficarem tão pequenos que sumiram. Viu a ponte e as ruas e as árvores e o bar... Viu os girassóis que continuavam sob o sol, mas sobre as montanhas. E acima de tudo isto e debaixo de um novo sentimento, pegou a estrada e se foi.

lunedì 8 agosto 2011

Valores*



Valorizo a amizade inesperada e se espero alguma coisa, não é mais do que uma noite de estrelas.
Valorizo as fotos das crianças que têm imortalizadas a inocência em seus retratos.
Valorizo as palavras que dizem sem nada dizer, os cheiros que aguçam os sentidos, os toques que arrepiam a pele e os olhares que se encontram.
Valorizo o pôr-do-sol e os livros e todas as minhas e as suas recordações.
Valorizo as cartas de papeis amarelos cujas linhas pararam no tempo.
Valorizo as pegadas na areia, as risadas contidas, as balas de menta, a abelha que me persegue quando tenho um sorvete.
Valorizo a terra molhada e os girassóis.
Valorizo um relógio parado, um bilhete amassado, a comida fria e o adeus.
Valorizo o amor e os dias de chuva que trazem chuva ao coração.
Valorizo os cães da minha infância, a joaninha que faz detalhe na folha, a bicicleta da menina, assim como valorizo tudo o que conquistei.
Valorizo aquilo que não sei se terei.

*paródia do seguinte texto:

Valore

Considero valore ogni forma di vita, la neve, la fragola, la mosca.
Considero valore il regno minerale, l'assemblea delle stelle.
Considero valore il vino finché dura il pasto,
un sorriso involontario,
la stanchezza di chi non si è risparmiato,
due vecchi che si amano.
Considero valore quello che domani non varrà più niente e quello che oggi vale
ancora poco.
Considero valore tutte le ferite.
Considero valore risparmiare acqua,
riparare un paio di scarpe,
tacere in tempo, accorrere a un grido,
chiedere permesso prima di sedersi,
provare gratitudine senza ricordarsi di che.
Considero valore sapere in una stanza dov'è il nord,
qual'è il nome del vento che sta asciugando il bucato.
Considero valore il viaggio del vagabondo,
la clausura della monaca,
la pazienza del condannato, qualunque colpa sia.
Considero valore l'uso del verbo amare e l'ipotesi che esista un creatore.
Molti di questi valori non ho conosciuto.

Erri De Luca (da “Opera sull'acqua e altre poesie”, Einaudi, To, 2002)

sabato 25 giugno 2011

O dia em que escrevi sobre mim


Ponho no papel tudo o que sinto. Escrevo sobre intuições, sobre promessas não cumpridas, escrevo raiva, amor, saudade, esperança. Ah, sentimentos que me consomem por dentro, que sugam as minhas forças sem ao menos me deixar segurar com força, a caneta.
As linhas são como caminhos que percorro com pressa, com pressa de chegar ao desconhecido. Anoto, ando, corro, voo! Os segundos têm pouca importância para mim, eu que já tanto lutei e que continuo a sobreviver neste mundo confuso. Letras viram palavras que viram frases que viram pensamentos. Ações que se tornam e que se veem em alguns rabiscos...Há! Há! Há! Rio de meus devaneios, que agora com formas, olham para mim com faces mascaradas e cruéis. Eles também riem de mim, um riso muito mais alto e agudo, que cutuca meus ouvidos.
Agora meus devaneios dançam ao meu redor e cantam canções que já me embalaram um dia. Mas desta vez, o embalo é assustador em seu ritmo frenético por meio das vozes pesadas. Ah, tudo gira em volta de mim: os devaneios, as linhas-caminhos, a tinta da caneta que continua a demarcar o percurso, eu mesma... Giro em torno do meu corpo, giro em torno da minha mente, giro em meus próprios caminhos. Estarei andando em círculos?
As linhas estão tortas e os caminhos descem e sobem, em infindáveis montanhas. O suor desliza pelo o meu corpo e me agarro em uma pedra-vírgula pelo caminho. Paro. Respiro. Ouço as vozes dos devaneios tentando me indicar por onde seguir. Não posso dar ouvidos a eles, mas está difícil ouvir a mim mesma, eles que tanto gritam e uivam em minha mente. Está difícil a continuar a me prender por muito tempo na pedra-vírgula. Caio. Despenco de minhas próprias palavras em um risco torto. Sinto medo. Sinto o vento dos sentimentos a bater nas minhas costas. A caneta está grossa em minhas mãos e não tenho mais controle sobre ela. Tremo. Paro. Não sei mais aonde estou. Os devaneios surgem lentamente e voltam a me olhar com suas máscaras negras. Não consigo me movimentar e apenas olho a longa distância da qual caí. O tempo passa e os devaneios estão sentados em pedras a me velar. Movimento-me e eles levantam, sem nada dizer. Percebo que estou na penúltima linha da minha folha. Restam-me apenas dois caminhos: permanecer onde estou ou ir para a próxima linha, sem saber o que ambas me revelam. O que fazer? Talvez, com um ponto final, posso ao menos, libertar os devaneios do meu corpo-fantasma.

giovedì 9 giugno 2011

Poemas de Alda Merini


Não Precisei de Dinheiro

Não precisei de dinheiro.
Precisei de sentimentos,
de palavras, de palavras escolhidas sabiamente,
de flores como pensamentos
de rosas como presentes
de sonhos que habitassem em árvores
de canções que fizessem dançar estátuas,
de estrelas que murmurassem ao pé do ouvido dos amantes.

Precisei de poesia,
desta magia que incendeia o peso das palavras,
que desperta as emoções e dá cores novas


Os Poetas Trabalham à Noite

Os poetas trabalham à noite
quando o tempo não urge sobre eles,
quando cala o rumor da multidão
e termina o linchamento das horas.

Os poetas trabalham no escuro
Como falcões noturnos ou rouxinóis
de dulcíssimo canto
e temem por ofender Deus.

Mas os poetas, em seus silêncios
fazem bem mais rumor
Que uma dourada cúpula de estrelas.

A Carne dos Anjos

Um ponto é o embrião
um século de vida
que escuta o universo
a memória do mundo
fim da criação.

O homem que nascerá
é um eco do Senhor
e sente palpitar em si
todas as estrelas.


Amor, Voe até Mim

Amor, voe até mim
em um avião de papel
da minha imaginação
com o engenho do seu sentimento.

Verá florescer terras repletas de magia
e eu serei a copa da árvore mais alta
para te dar frescor e abrigo.

Faz destas asas
duas asas de anjos
e traga também a mim um pouco de paz
e um brinquedo dos sonhos.

Mas antes de me dizer qualquer coisa
veja o espírito em flor
do meu coração.

ALDA MERINI
A poeta milanesa Alda Merini (1931-2009) foi um dos principais nomes da poesia contemporânea italiana, com uma série de poemas consagrados. Recebeu alguns prêmios por sua obra, como o Librex Montale, em 1993, o de maior reconhecimento na Itália aos poetas de sua língua. Alda também escreveu livros em prosa, em que realça a sua própria pessoa.
Alguns destaques da obra de Alda Merini são: “A Presença de Orfeu” (1953), “Tu és Pedro, Ano 1961” (1962), “A Terra Santa” (1984), “Testamento” (1988), “Delírio Amoroso” (1989), “As Palavras de Alda Merini” (1991) e “A Louca ao Lado” (1995).

lunedì 23 maggio 2011

Venceslau com V


Meu amigo Venceslau é o que se diz de alguém “politicamente correto”, a começar pelo o seu nome: Venceslau com v, como se escreve no tradicional português (meu amigo nasceu muitos anos antes da recente reforma ortográfica, que aceita “w” e tudo mais).

Dono de uma mercearia, ele paga seus impostos e nunca acende uma luz quando se pode aproveitar a luz natural. Também vai ao médico e dentista religiosamente no tempo sugerido pelos especialistas e sempre separa o lixo para a reciclagem (por mais que não haja coleta seletiva por parte da prefeitura de nossa cidade). Venceslau, quando sai de casa para ir a sua mercearia, faz questão de atravessar na faixa de pedestres: caminha os 23 passos (ele já contou) que separam a sua casa da faixa e retorna nos mesmos 23, já que a mercearia é exatamente em frente a sua residência.

Certa vez, fui testemunha de uma cena que me deixou irrequieto. Venceslau, sempre muito correto com seus clientes, devolveu de troco o um centavo de uma consumidora.

-O senhor está me achando com cara de pobre, de munheca ou o quê?- disse a mulher, indignada.

Venceslau não sabia o que fazer: se pedia desculpas e pegava a moedinha de volta, se explicava que estava apenas retornando o troco ou se saía correndo e chorava. Escolheu a última opção.

Correu o quanto pode e quando chegou à faixa de pedestres, por sorte o sinal estava fechado para os carros e ele atravessou a faixa e continuou a correr por mais duas esquinas, até que se sentou no meio fio de uma velha calçada e chorou. Chorou por ser “certinho” demais e ser apelidado de “bocó” pelos amigos do futebol; chorou por levantar cedo em dias de eleição para ir votar, mesmo não gostando de nenhum candidato, enquanto outros, justificavam o voto meses depois a hora que bem queriam; chorou pelos gatos de rua que alimentava e que quando estavam de barriga cheia, nem um miado de retribuição lhe davam; chorou por não dizer palavrão, apesar das “más” palavras que lhe engasgavam na garganta; chorou por nunca rir de uma piada de humor negro, mesmo achando graça em algumas; chorou por estar com câncer, apesar de ir ao médico; chorou por nunca ser reconhecido por nada que fazia.

-Venceslau, não fique assim- eu lhe disse.

Ele nada respondeu, somente fungava. Mas eu sabia de seus pensamentos, sabia de sua raiva, sabia do quão revoltado ele estava por se sentir assim: afinal, o que ele fizera de errado?

Leis dizem o que devemos fazer, humanos criam constantemente outras infindáveis regras sociais que devem ser seguidas. Venceslau segue todas à risca. Muitos, que não necessariamente têm o nome de Venceslau com v, também; já outros, nem tanto. Há ainda os que não seguem quase nunca nada. E daí, eu pergunto: quem ganha nesta história?

Com certeza, Venceslau acha que não são os de seu tipo, que sempre são os “chatos” do pedaço. Confesso que me incluo no grupo dos que seguem as regras com certa maleabilidade, que não são nem corretos, nem incorretos, nem politicamente nada- ou tudo!

Não sou do tipo que se sinta ofendido por receber um centavo de troco, assim como raramente brigo pela devolução da mesma moeda (só quando o caixa é do tipo grosseiro). Assim como Venceslau, tenho direitos e deveres, que sigo de acordo com a “demanda”, mas colocando uma pitada de meu eu- um eu menos preocupado. Pessoas como Venceslau sempre são vistas com maus olhos e muitas vezes, são consideradas malucas. Tenho dó de meu amigo, porém, entendo as suas atitudes.

Ser radical é difícil, ser diferente é cansativo, aceitar tudo é chato (e por vezes, burro). Como mudar isto? Venceslau continuou a chorar por muito tempo, tal como uma criancinha perdida. Provavelmente é mesmo um perdido neste mundo onde só faz obedecer e tentar ser normal. Seríamos eu e a cliente que não aceitou a moeda, os anormais? Seria, você, que está lendo isto o extravagante? Ou você é um Venceslau com v?

Só sei, que quando as lágrimas secaram, Venceslau se lembrou que não era muito adequado continuar sentado em plena calçada (as pessoas poderiam falar). Além do mais, já era tarde e ele precisava colocar o óleo das batatas que fritou dentro de uma garrafa pet, pois a estas alturas, o óleo da frigideira já havia esfriado.

venerdì 20 maggio 2011

Imperativo!


Caminhe! Pense! Reflita! Pare! Olhe! Escute! Estude! Vire! Respire! Coma! Sinta! Escreva! Ame! Diga! Vá! Note! Anote! Controle-se! Pule! Deite! Relaxe! Comece! Apague! Digite! Plante! Beba! Fortaleça! Sente-se! Acorde! Feche! Tweet! Envie! Navegue! Caia! Ouça! Relembre! Edite! Surfe! Invente! Copie! Invada! Venha! Flutue! Boie! Divague! Alimente-se! Leia! Abrace! Concorde! Chute! Grite! Pinte! Memorize! Lave! Role! Enrole! Discorde! Marque! Aja! Manipule! Sonhe! Fale! Minta! Cutuque! Fure! Prometa! Cumpra! Molhe! Alargue! Alegre-se! Busque! Permaneça! Enumere! Brigue! Emagreça! Engorde! Disfarce! Pendure! Coce! Aperte! Borbulhe! Receba! Livre-se! Suje! Calce! Transe! Cole! Ligue! Intrometa-se! Coloque! Corra! Acelere! Diminua! Espalhe! Delete! Equilibre-se! Entreviste! Receba! Manche! Cozinhe! Sirva! Empanturre-se! Penteie! Xerete! Segure! Rasgue! Desmaie! Floreie! Agrade! Belisque! Bata! Aspire! Mergulhe! Pisque! Cace! Corte! Musicalize! Ignore! Recoloque! Pedale! Risque! Faça! Corte! Reme! Jogue! Cuide! Levante-se! Experimente! Teste! Martirize! Desenhe! Esconda! Machuque! Introduza! Pulse! Soque! Vista-se! Engula! Viva! Ria! Gire! Torça! Encabule-se! Trote! Lata! Chore! Picote! Beije! Muja! Sacoleje! Mie! Vire! Pedale! Espirre! Tussa! Boceje! Reconheça! Separe! Dance! Rosne! Tenha! Empreste! Alugue! Atravesse! Perfure! Conquiste! Procure! Proteja! Investigue! Instigue! Duble! Colha! Negue-se! Dedique! Assine! Voe! Xingue! Resmungue! Assista! Balance! Jogue-se! Fuce! Fofoque! Sorria! Paralize! Poupe! Compre! Acesse! Fotografe! Desmorone! Monte! Prossiga! Gargalhe! Mexa! Toque! Dê! Enlouqueça! Esqueça! Aprenda! Duvide! Mame! Pague! Conte! Julgue! Junte! Finja! Peça! Implore! Amamente! Bique! Ligue! Desligue! Abra! Feche! Tatue! Queira! Remarque! Arrote! Assopre! Ataque! Produza-se! Brilhe! Transpareça! Reviva! Reveja! Revolte! Parta! Reze! Apresse-se! Pontue! Procure! Cochile! Atire! Imponha-se! Retire! Perdoe! Cacareje! Assopre! Limpe! Sussurre! Enterre! Pegue! Atualize-se! Viaje! Ultrapasse! Volte! More! Visite! Conheça! Gargareje! Pingue! Importe-se! Minimize! Apareça! Oponha-se! Critique! Duvide! Apanhe! Cresça! Torne-se! Seja!

martedì 3 maggio 2011

A dor de Pedro

Era impossível para Pedro conhecer todas as palavras e mesmo as que já ouvira, não conseguia memorizar todas de uma vez só; afinal, eram os seus três anos de vida contra os mais de 2000 da língua portuguesa!
Pedro estava inquieto, sentava-se, levantava-se, andava de um lado para o outro e a mãozinha direita sempre indo de encontro ao peito.
-Sinto uma dor horrível!- disse ele à professora- Estou passando muito mal!
A professora desesperou-se. Todas as crianças cochilavam após retornarem do recreio escolar, menos Pedro, que se encontrava em tal estado. Durante todo o intervalo, ela observou que o menino exitou em comer o próprio lanche. Tudo bem que crianças pequenas têm certas frescuras de vez em quando, mas Pedro era diferente das demais. Às vezes, ele se expressava tal como um adulto e isto surpreendia muito a professora e a todos que estavam ao redor.
-Onde dói?- perguntou ela.
-Aqui- disse Pedro, enquanto apontava o tórax.
-O que mais você sente?
-Sinto uma dor que me rouba o ar.
"Será que ele tem algum problema respiratório? Ou seria mesmo cardíaco?", pensava a professora.
-Desde quando você sente isto?
-Desde hoje cedo e esta dor vai aumentando a medida que o tempo passa. Ela aperta muito o meu peito e me deixa tonto, sem saber o que fazer- respondeu Pedro.
-E desde quando um menino da sua idade sabe o que fazer?- brincou a professora, esboçando um sorriso.
-Ora, professora, desde que eu cresci. Eu já senti esta dor antes, mas foi há tanto tempo, que me esqueci como ela se chama. Minha mãe já me contou sobre ela.
-O que a sua mãe lhe contou?
-Que esta dor, que não me lembro o nome, dói muito mesmo. Será que nunca mais vou parar de senti-la, professora?- indagou Pedro, que contraía os dedos da mão sobre o peito que arfava.
A professora notou que o garotinho estava muito preocupado com o que sentia. Colocou as costas da mão sobre a sua testa e viu que ele não estava com febre; no entanto, havia um leve tremor em seus lábios.
-É claro que esta dor vai passar, Pedro. Tenho certeza que daqui a pouco você já estará curado- respondeu.
Pedro, então, levantou os olhos, os longos cílios a refletirem sob o sol, e falou:
-Não, professora. Esta dor não passa assim. Eu estou desesperado, você me entende?- e segurou as mãos da professora.
-Como desesperado, Pedro? O que está realmente acontecendo com você?
Pedro, de olhos baixos desta vez, apenas disse baixinho:
-Eu não sei.
Alguns segundos se passaram e durante eles, mil indagações percorreram a cabeça da professora sobre o seu aluninho. Pedro ergueu a cabeça, colocou as mãos sobre as coxas e prosseguiu:
-Aperta muito aqui dentro, mas não sei explicar como, já que não me lembro o nome desta dor. É a pior dor que já senti na vida. Você já sentiu algo assim, professora?
-Talvez, Pedro. Mas não sei o que você tem. É melhor telefonar a sua mãe para que ela lhe leve ao médico.
Com isto, a professora se levantou e caminhou até o telefone, na sala da secretaria. Disse à mãe de Pedro sobre a situação do menino e esta ficou preocupadíssima: "será que o coração do meu filho tem má formação?", pensava, enquanto ligava ao pediatra para marcar uma consulta e ao mesmo tempo, procurava a chave do carro para correr à escola.
Pedro estava com o seu material e sua lancheira (intocável) aguardando a mãe. A professora esperava ao seu lado e notava como o menino ia ficando cada vez mais tenso. "A dor deve estar aumentando", era só o que achava. Ele estava calado e sério, o que não era comum para o seu jeito.
-A mamãe já vem- disse ela a ele.
Ele acenou com a cabeça.
-Ela deve estar morrendo de saudades suas- continuou dizendo.
Os olhos de Pedro se encheram de luz e ele abriu bem a boca para falar:
-É isto, professora! É esta a palavra da minha grande dor: saudades.
Quando a mãe de Pedro o pegou no colo, ele estava completamente curado.

lunedì 11 aprile 2011

Espelho


Eu
me perdi de mim mesmo
quando me vi no espelho
de reflexos tortos
que mentiam caminhos sem fim.

Eu
caminhei até onde pude
e com calos nos pés
e mãos que tremiam
olhei para o céu
e perguntei
onde encontrar o todo de mim.

Eu
não obtive resposta audível
somente caíram gotas frias
de tempestade
que me lavaram os olhos
e assim
pude enxergar
que não se pode voltar
ao começo do espelho
de si mesmo.

mercoledì 9 marzo 2011

Questões


O dia começa. E não nos perguntamos por quê?
Levantamos, nos arrumamos, um gole de café. E não nos perguntamos por quê?
Vamos ao trabalho, à escola, às compras, a passeio. E não nos perguntamos por quê?
Vestimos uniformes, jeans, um social na festa. E não nos perguntamos por quê?
Comemos com garfo e faca, bebemos em copos, xícaras, taças. E não nos perguntamos por quê?
Dizemos obrigado, por favor, com licença e não enche. E não nos perguntamos por quê?
Estudamos, pesquisamos, blefamos. E não nos perguntamos por quê?
Usamos xampu, desodorante, relógio e sapatos. E não nos perguntamos por quê?
Assistimos tv, ouvimos música, navegamos na internet. E não nos perguntamos por quê?
Compramos Ipod, Ferrero Rocher, Arezzo, Dior, Lady Gaga, chuchu e batata. E não nos perguntamos por quê?
Tomamos banho, cerveja, porre e na cabeça. E não nos perguntamos por quê?
Brigamos, amamos, esquecemos. E não nos perguntamos por quê?
Temos raiva, alegria, obrigações e contas a pagar. E não nos perguntamos por quê?
Casamos, separamos, procuramos, morremos. E não nos perguntamos por quê?
Vivemos dias chatos, dias inesquecíveis, dias de sol e de chuva ou um dia qualquer. E não nos perguntamos por quê?
Ansiamos, esperamos, planejamos, desistimos, não sabemos. E não nos perguntamos por quê?
Bocejamos, espirramos, vamos à academia, à Suécia, ao bar da esquina. E não nos perguntamos por quê?
Escolhemos nomes, chamamos nomes, esquecemos nomes, reinventamo-nos. E não nos perguntamos por quê?
As horas passam, o vento sopra, o relógio marca 23h, a noite cai e estrelas brilham. E não nos perguntamos por quê?
Vamos dormir, sonhamos. E não nos perguntamos por quê?
Questionamos. E não nos perguntamos por quê?

domenica 27 febbraio 2011

Quando sonhava acordada...



A noite estava agitada. Ela corria de homens armados que queriam prendê-la em um quarto imundo. Corria, corria, as pernas a pesarem sobre os pés, os homens a se aproximarem, de repente tropeçou, mas levantou-se rápido, olhou para trás, os homens ainda estavam ali, só que desta vez, tinham cachorros furiosos com eles. Como escaparei, como escaparei, pensava ela. Um muro alto estava a sua frente: não hesitou em tentar escalá-lo. Uma mão segurou-lhe o pé, que deu-lhe um chute no rosto. Caiu. Os homens a dominaram, os cachorros a mordiam aqui e ali. Tentou gritar. O grito foi abafado pelo próprio grito, só ela o escutava. De repente estava em uma casa, mas nesta casa não havia nenhum quarto imundo. Era uma casa estranha, com longas paredes alaranjadas, com uma escada em caracol e com muitas, mas muitas flores. Flores que recendiam o seu perfume em cada canto daqueles inúmeros cômodos. Uma mulher apareceu e elas se sentaram no sofá da sala e começaram a conversar- futilidades. "Eu cortei meu cabelo, mas fiquei com cara de caqui", dizia ela. "Cara de caqui? Pois olha, eu se fosse você, fazia logo uma balaiagem para melhorar este aspecto. Por que não vai na Nancy, ela é ótima?! Levei nela a Dolly, a minha poodle,na semana passada". "Na Nancy?! Ótimo! Bem lembrado. Vou buscar mais rosquinhas de nabo com pitanga para a gente", disse ela. E se levantou. Passou por um pequeno corredor até chegar à cozinha. Não se lembrava mais aonde tinha deixado as rosquinhas de nabo com pitanga, quando ouviu um barulho estranho. Ao abrir a porta da cozinha, deu de cara com as águas do mar a invadirem todo o seu quintal. Ondas rolavam pelo chão, fazendo chuá e aumentavam a densidade de água por ali. "Meu deus, o Tobias!!!", ela gritou. E entrou n'água para salvar o cãozinho que se afogava. Apenas a cabeça do animal aparecia por entre as águas do mar. Seu olhar transparecia solidão e desespero e ela logo o agarrou e conseguiu colocá-lo em uma cadeira que boiava por ali. "Ele está a salvo!", gritaram juntas três sereias que se exibiam na água. Suas caldas esverdeadas brilhavam intensamente, mas sem contrastarem com seus cabelos azuis. Flutuavam pela correnteza, todas com o corpo levemente inclinado, o braço direito dobrado a segurar suas cabeças mitológicas. "Há!há!há!há!", riam as sereias loucamente, causando vertigens nela que ainda estava na água. A água, por sua vez, era de uma imensidão assustadora e já não havia Tobias, nem quintal e nem porta de cozinha. Tudo desaparecera com a risada das sereias e agora era só ela naquele mar. As águas eram tão azuis quanto de uma piscina com cloro e tão macias que ela permanecia em sua superfície, sem querer pensar na profundidade daquele lugar. Sentiu uma baleia a passar por debaixo de seu corpo e viu aquele ser negro lá embaixo. Não teve medo. Começou a nadar, como se pressentisse o que estava prestes a vir: era sempre assim, ela já sabia. Não tardou a chegar uma grande,comprida, enorme e gigante onda, que escondeu todo o céu. Vinha com sua fúria em busca dela, queria pegá-la, atingi-la com sua potência, afogá-la em seu interior, pegá-la com sua superioridade, afundá-la em águas, sepultá-la em seu oceano para mantê-la sempre ali. A onda deslizava vagarosamente, não havia pressa em capturá-la. Ela nadava o quanto podia e debatia braços e pernas, virava a cabeça, uma pausa para respirar e soltar o ar na água. Socorro, socorro, o mar não tem fim. Olhou para trás e viu a onda imponente a preparar-se para derramar todo o seu poder em seu corpo. Tudo estava escuro e a onda foi caindo, caindo, caindo e ela caindo junto com a onda, a rolar, rolar, rolar até se ver em um telhado. No telhado encontrou uma máquina fotográfica e começou a tirar fotografias do sol. Era o sol mais amarelo que ela já havia visto, muito mais amarelo do que todos os amarelos juntos. Estava parado no céu no lado oeste, porém não demonstrava sinais de se pôr. Ela caminhou sobre o telhado e viu algumas pequenas flores cor-de-rosa nele. Sentou-se em frente a elas e brincou com seus pequenas pétalas. Seus caules tremiam de um lado a outro. Ela olhou novamente o céu e notou que ali, do lado leste, havia outro sol, tão amarelo quanto o primeiro. Sentiu vontade de chorar ao ver sóis tão belos a reinarem sobre aquele teto. Chorou, chorou até que o seu choro chamou a chuva, uma fina e fria garoa que começou a cair. Mas ela não sabia como descer daquele telhado, porque ao seu redor, só havia o céu, a chuva, as flores e os sóis. Não conseguia achar o fim do telhado para saber a qual altura estava. As telhas marrom-avermelhadas só empurravam para baixo a chuva, mas não lhe apontavam nenhum caminho. Começou a sentir frio e a desejar um guarda-chuva. Um uivo surgiu no telhado e era o vento que chegava. Ela cruzou os braços em frente ao corpo, os cabelos molhados a grudarem-lhe ao rosto, o corpo que reclamava do frio. Então o vento sussurrou bem forte em seus ouvidos: "Uuuuuhhhh..." e fez um rodopio em suas pernas. "Uuuuuhhhhh....", ele insistia e gritou ainda mais forte "Uuuuhhhh...." e arrancou uma a uma as florzinhas côr-de-rosa. O vento achou que ela era uma daquelas flores e a arrancou junto daquele telhado. Ela e as flores saíram a voar com o vento e percorreram muitos telhados por onde passavam, trombando em prédios e chaminés. Até que o vento cansou de falar e a deixou sozinha sem as florzinhas na entrada de um castelo. A porta do castelo se abriu e logo ali na entrada havia deliciosas amêndoas. Ela comeu todas que encontrou e seguiu em frente. Logo deparou-se com toda uma corte em reunião. "Não irei a Barenópolis", berrava um moço vestido em trajes de príncipe. "Então case-se comigo", dizia uma moça em trajes de princesa. "Só se houver um baile e muito farto de comida", bradou um homem que mais parecia um rei. E fez-se o baile subitamente. Príncipes e princesas rodopiavam por um grande salão em roupas de gala. Ela notou que também estava no meio dança e seu vestido era vermelho e elegante. Dançava com um homem alto, que segurava-lhe suavemente as mãos. Só que ela não conseguia ver-lhe o rosto e cada vez que se esforçava para distinguir-lhe as feições, mais ele a levava para cá e para lá, fazendo o seu cabelo balançar-se. Era bom dançar com ele e ouvir violinos ao fundo. Então, a fome apareceu e falou-lhe "olá!". Ela se lembrou do comentário do homem que parecia rei e correu até à mesa posta logo a frente. Arrancou uma suculenta coxa de frango e começou a mastigar. Comeu saladas, frutas e carnes e resolveu conferir às horas: 4h53.Tentou puxar da memória os afazeres daquele horário, mas como estava em seu quarto, não se importou muito. Passou esmalte vermelho nas unhas e abriu uma das janelas. Era outono. Sentou-se na poltrona e abriu um livro. Só conseguiu ler poucas páginas, porque um barulho a chamava cada vez mais alto. Alto, alto, alto e ela acordou. E logo começou a sonhar novamente. Gostava de sonhar acordada, porque era a única maneira de controlar os seus sonhos.

mercoledì 23 febbraio 2011

Trevas, por onde andas?



Corpos maltrapilhos que se levantam de seus túmulos; lords refinados que dormem em caixões. Não importa a forma, a sede por sangue é a mesma ao longo dos séculos- tempo este que nunca deixou de ter em moda estes fantásticos seres mitológicos: os vampiros.

Lançado em 2010, o livro “Contos Clássicos de Vampiros- Byron, Stoker e outros” (Editora Hedra, 266 páginas) com tradução de Marta Chiarelli e introdução de Alexander M. da Silva, resgata com elegância um pouco dos primórdios do tema, exemplificando-o com autores consagrados no assunto, tais como Lord Byron, Bram Stoker, John Polidori, Theóphile Gautier e M.R. James.

O vampirismo, questão tão debatida na atualidade com seus vampiros adolescentes, nada mais é do que um dos mitos mais antigos da humanidade. Eis aí a primeira surpresa nos leitores que ainda pensam no surgimento do tema com os dráculas da Transilvânia. Mero engano... Logo na introdução, Alexander da Silva despe o vampiro e o mostra em suas origens: este ser que habita o imaginário humano existe há tão longos séculos e está presente em tantas culturas diversas (das ocidentais às orientais) que se torna um obstáculo desmascará-lo de uma única e exclusiva vez.

Talvez pela dificuldade de enquadrá-lo em algo tão simplório e objetivo que o vampiro tenha conseguido o destaque e a importância adquiridos ao longo dos anos- e que anos! Por muito tempo, intelectuais das mais importantes potências, como Inglaterra e Alemanha, dedicaram-se ao estudo do ser que causava pânico entre a sociedade e que era acusado de muitos ataques e homicídios. Mas como acreditar em mortos que ressuscitam de suas tumbas em busca de vingança pela morte tida? Obviamente, os estudos levaram a conclusões científicas que não foram suficientes em liquidar com o mito. A Europa dos séculos XVIII e XIX vivia uma Revolução Industrial e por consequência desses avanços, seus principais estudiosos não podiam acreditar em ditos populares. Entretanto, a lenda dos vampiros continuava em suas mentes: assim, os estudiosos-escritores deram o próprio sangue para produzir no papel muitas histórias vampirescas- que se petrificaram no “primitivo leste europeu”, onde os relatos de vampiros eram ainda mais fortes e creditados pela população. Deste imaginário e contexto, surgiu a mais famosa obra sobre vampiros: “Drácula” (1897), escrita pelo irlandês Bram Stoker, mas cuja introdução foi abolida pelos editores, por deixar a obra muito extensa. O resgate do texto, na atualidade, foi feito pelos responsáveis de “Contos Clássicos de Vampiros” sob o título “O Hóspede de Drácula” (1914).

Se por muito tempo o vampiro não passava de um morto-vivo em farrapos que vinha, por vingança, sugar o sangue dos vivos, na literatura do final do século XVIII, como produto histórico-cultural, isto mudou. Agora, ele é um “ser sofisticado e angustiado por dúvidas existenciais”; pode-se até dizer que “o vampiro vem se adaptando para refletir a angústia das sociedades nas quais ele se insere”. Obras como a de Stoker fazem contestações do período vivido (neste caso, o século XIX), incluindo às que dizem respeito às mulheres: “ Em uma época quando os papéis sociais reservados às mulheres eram apenas os franqueados por meio do matrimônio e da maternidade, o ataque do conde vampiro às personagens Lucy Westenra e Mina Murray se configura como uma ameaça ao status quo da rígida sociedade vitoriana visto que, ao se transformarem em vampiras, elas abandonam a sua condição futura de esposa e mãe e se transformam em mulheres sexualmente ativas, algo inconcebível para a moral da época” escreve Da Silva.

O questionamento de valores se quebrou com a passagem do tempo, fazendo do vampiro um ser alienado e, de certa forma, marginalizado. Mas tais fatores são relativos aos vampiros de hoje, que se acoplam ao social pelas veias da atual juventude: esta deixou de contestar o presente? Deixou de dar importância a certos valores? Certamente que não. O que mudou é a maneira de fazê-lo e o vampiro moderno é somente um torto reflexo (de um espelho, desta vez) de muitos jovens. Porém, como diria o próprio Da Silva, “ainda é cedo, todavia, para avaliar o impacto da série [Crepúsculo-2005] sobre a longa tradição da literatura de vampiros”, refere-se à obra de sucesso da americana Stephanie Meyer.

Pelas páginas de “Contos Clássicos de Vampiros”, o leitor se depara com os mais variáveis seres da espécie. Há histórias interessantes como “Porque o Sangue é Vida” (1905), de Marion Crawford; misteriosas, como “Um Episódio na Catedral” (1931), de M.R James; ousadas, como “A Morta Amorosa” (1836), de Theóphile Gautier e desengonçadas, como “O Vampiro” (1819), de John Polidori. Isto sem falar nos textos de Filóstrato (“Vida de Apolônio de Tiana” (?)), Heinrich August Ossenfelder (“O Vampiro”-1748), Johann Wolfgang von Goethe (“A Noiva de Corinto”- 1797) e Samuel Taylor Coleridge (“Christabel”- 1795/1816), que dão charme ao tema ao instigarem o leitor a pensar em mistérios e fantasias: eles não pontualizam o vampiro propriamente, que fica apenas nas trevas das palavras; são breves passagens de um enigma sedutor e fóbico e que por isto, viraram fontes de inspirações a outras páginas do mito: “Carmilla” (1872) de Joseph Sheridan Le Fanu é uma boa inspiração da “Christabel”, de Coleridge.

Os contos em prosa ou em verso não apenas criam situações pavorosas, mas também contextualizam a maneira de sentir medo da população de todos aqueles séculos. Em um tempo em que as noites eram ainda mais escuras pela falta de energia elétrica, em que cemitérios eram construídos em muitas residências, em que a ciência não tinha muitas das respostas levantadas, como então, justificar mortes, sumiços e barulhos sinistros? Um cenário perfeito para trazer à tona fantasmas e vampiros de outros mundos... Além disso, como explica Da Silva, a morte e o sangue sempre envolveram os seres humanos em curiosidade e respeito, criando assim, a simbologia existente ao redor desses elementos.

Aos humanos que ainda hoje têm preferência (madura) pelo tema, “Contos Clássicos de Vampiros” é uma boa sugestão para o assunto. Tal como uma fotografia, ele retrata o vampiro, deixando a mostra um pouco de seu contexto, história, clima e detalhes. Basta somente correr os olhos por sobre as palavras e enxergar na mente um pouco do que muitos já viveram com este mito.

martedì 8 febbraio 2011

É tempo de voar...



Lá vai a pipa voando, subindo sempre faceira, passando rasteira em todas as nuvens do céu. Quando alcança o ponto onde é preciso inclinar a cabeça e forçar a vista para vê-la é porque chegou bem lá no alto e lá no alto ela é ainda mais livre para voar um vôo dos sonhos dos meninos que ficaram aqui embaixo, na terra.
"Deve ser bom ser pipa e poder olhar o mundo lá de cima", pensa Zezé, que puxa levemente a linha, cutucando a pipa lá em cima. Esta rodopia uma, duas, três vezes e continua a flutuar soberana sobre os céus da cidade. Quem a olha vê logo um ponto vermelho com barbatanas coloridas a pairar na imensidão do azul do céu. Tal como um peixe solitário no mar, a pipa de Zezé segue adiante, deixando para trás ondas e ondas de ventos impulsores de força. Neste chacoalhar de brisas, nada mais belo do que ver uma pipa a bailar com a intensidade dos seres destituídos de alma, mas repletos de puros e simples significados.
O cordão umbilical continuar a ligar Zezé à pipa. Não há maneiras de se separarem, visto que são componentes um do outro. O menino fez a pipa. Agora, a pipa faz o menino. Brincadeiras que ficarão eternizadas em céus, mentes e mãos. Uma época que só pertence a eles dois. "É tempo de voar", deve pensar a pipa, que no alto de seu olhar, encontra outras pipas a percorrem distâncias relativas. Elas se cumprimentam com rápidas reviravoltas e em seus jeitos de pipas colocam-se a postos a darem vivas e olés a cada um dos meninos que seguram a linha de suas vidas...

mercoledì 2 febbraio 2011

Violino



Oh, violino, por que tocas assim?
Tua música me envolve, me levando para longe de mim.
Quero que cada nota seja eterna em seu tempo... Lamento.
Lamento ouvir só com os ouvidos e o coração:
Quero ouvir com os olhos e com a boca e com as mãos.
Oh, mãos! Mãos que embalam melodias, fazendo o som ninar;
Venha comigo, violino. Até onde tu podes suportar
Tocando, sempre tocando?
Agilidade, leveza, pureza e amor vejo em ti
Vamos, por que não tocar em mim?
Meus cabelos podem virar cordas e emitir sonoridade.
Sei que meu canto não é tão belo quanto o teu, violino
Mas também é repleto de sinceridade.
Oh, violino, por que tocas assim?
Se não me queres perto de ti,
Não embale meus sonhos e nem meus receios
Deixe-me livre por aí,
A viver sem música, a viver sem teu amor.
Desejo tanto estar contigo,
Mas não suportaria a piedade em notas de um desamor.

martedì 1 febbraio 2011

Capitão do barco do amor


É apenas mais um dia? É apenas um dia a mais? Não há como saber. A imprevisibilidade caminha por trás de nós, tal como uma sombra que não pode ser vista e que insiste em esconder-se em paredes, becos e calcanhares. Ela não quer se mostrar... Mas também, o que importa se nós não íamos mesmo querer vê-la?
Queremos o controle de tudo, de todos, de nós mesmos. Queremos manipular massas, estilos, conceitos, fenômenos, o tempo... E no meio disto, terremotos fazem ondas, ao tentarem acabar com o câncer criado por nós. Estúpidos pensamentos humanos. Mesquinharias de uma gente pobre e podre de espírito. Sentimos o fedor desta alma e a inalamos como algo comum. Apenas nossos jardins floridos deveriam exalar...
E o que vem primeiro: o amor ou a dor? Há quem diga que seja o amor; há quem diga que seja a dor; há quem diga que amor rima com dor nesta confusão de sentimentos e de sensações. Haverá mesmo uma luz a nos iluminar? A luz, a grande preferida neste meio de trevas, a mais almejada, a mais esperada. Quando chegará?
Enquanto ela não chega e enquanto o mundo continua a ser o mesmo, fique aqui comigo neste barco e segure a minha mão. Assim... Me abrace e me proteja e cante comigo uma canção intitulada "amor".

Love Boat Captain (Pearl Jam)

(Gasper/Vedder)

Is this just another day, this god forgotten place
first comes love and then comes pain, let the games begin
questions rise and answers fall, insurmountable
love boat captain, take the reigns and steer us towards theclear, here
it's already been sung, but it can't be said enough
all you need is love
is this just another phase? of earthquakes making waves
trying to shake the cancer off? oh, stupid human beings
once you hold the hand of love, it's all surmountable
hold me and make it the truth
that when all is lost there'll be you
cuz to the universe, i don't mean a thing
and there is just one word i still believe
and it's love...
it's an art to live with pain, mix the light into grey
lost nine friends we'll never know, two years ago today
and if our lives became too long, would it add to our regret?
and the young they can lose hope
cuz they can't see beyond today...
the wisdom that the old can't give away, hey
constant recoil
sometimes life don't leave you alone
hold me and make it the truth
that when all is lost there will be you
cuz to the universe, i don't mean a thing
and there is just one word and i still believe
and it's love... love, love, love, love
love boat captain, take the reigns, steer us towards the clear
i know it's already been sung, it can't be said enough
love is all you need... all you need is love
love, love...

giovedì 27 gennaio 2011

Os anos-luz entre nós dois


Galanteio a galáxia
e cada uma de suas bilhões de pequenas estrelas
Quero pertencer ao universo
e criar abraços quando for me esconder em seus buracos negros
Girando em torno de uma massa comum- a força que une nós dois
eu galanteio a galáxia
e tenho mais pressa em beijá-la do que os anos-luz que nos separam
Perdendo-se num tempo sem horas, e num espaço sem lugar, minha galáxia é meu mundo
e meu fim
Galanteio a galáxia em busca de um único corpo
que não seja celeste, mas que seja consistente
e que aguente todas as explosões de um louco amor.

sabato 22 gennaio 2011

Palhaço

Lápis nos olhos para transparecer meu profundo olhar, nariz vermelho, boca além de sorrisos, sou um palhaço. Exagero no pó em meu rosto, faço meu cabelo ficar azul, me visto com todas as cores e meus sapatos sempre são maiores que meus passos. Ainda assim, sou um palhaço, mas não porque faço estardalhaço: meu pequeno camarim é meu casulo, onde me escondo da multidão lá fora e ali metamorfiso-me para em seguida, dar asas à alegria que guardo em meus bolsos.
Sou um palhaço quando rodopio, canto, grito e caio. Sou um palhaço quando tento ser criança outra vez.
Uma vez, uma lágrima saiu-me dos olhos e borrou-me a maquiagem. Descobri que palhaços também choram... Descobri que também guardo mágoas nos bolsos da minha larga calça. Sou um palhaço.
Meus olhos translúcidos trazem os caminhos que andei. Escondo minhas rugas por debaixo de meu ser- este ser que insiste em tampar defeitos. Trago em minhas mãos flores que não tem cheiro, mas que arrancam risos quando cheiradas. Meus ouvidos veem gargalhadas e minha voz escuta a si mesma. Sou um palhaço.
De repente, vejo-me sozinho olhando para mim mesmo. O picadeiro é apenas mais um lugar como tantos. Não posso me desfazer, não posso me recompor, não posso tirar aquilo que faz de mim o que sou: um palhaço.

mercoledì 12 gennaio 2011

...e os anjos choraram esta noite



Cem anos se passaram desde que Gaston Leroux (1868-1927) escreveu uma das obras mais inspiradoras do último século: o livro "O Fantasma da Ópera".
Fonte de devaneios para leitores, artistas e adaptadores, a história de um suposto fantasma que assombrava a Ópera de Paris em meados do século XIX também tem sua origem em um momento de sensibilização do autor: foi durante uma visita a este teatro, que Leroux ao se infiltrar por bastidores, salas e corredores, chega às partes mais baixas do lugar, descobrindo uma espécie de lago entre grades de ferro. O ambiente, iluminado apenas por uma tocha, ganhou proporções na imaginação e no talento do escritor francês, que também foi jornalista e estudante de Direito.
Para compor o seu mais famoso livro, Leroux utilizou-se de conhecimentos e habilidades vindos das áreas em que atuou. Assim, o romance, com ares de suspense em cada página, tem em sua narração elementos do jornalismo e da justiça-policial da época. Estes dois meios auxiliam a marcar as características de estilo do autor, que sempre pendem ao diferente, macabro e altamente misterioso. No livro "O Mistério do Quarto Amarelo" (1907) é possível notar esses seus traços de escrita.
Em "O Fantasma da Ópera" (Ed. Ática, 2006), logo nas primeiras páginas há explicações sobre o inusitado que se encontrará logo adiante. Os comentários são de um “repórter-escritor”, tal como o próprio Leroux fora, e sua maneira de abordar o mistério do Fantasma da Ópera conduz os pensamentos de quem o lê a uma situação "verídica", repleta da mais profunda importância para o meio social e que por isto, deve ser trazida a tona. O personagem- que se mistura com o próprio Leroux, ao se apresentar como autor do livro-, traz documentos e entrevistas em sua narrativa, além de dar o seu entendimento dos fatos. Porém, a maior parte do enredo é composta por falas de outros personagens, como bailarinas, cantoras, demais funcionários e frequentadores do teatro. Contada desta forma, o realismo da história aumenta a cada minuto, devido ao efeito do instantaneísmo.
Porém, tal artifício, ao mesmo tempo em que cria a ilusão no leitor de estar vendo muito dos fatos no momento em que acontecem, por outro lado, levam o autor a pecar ao ir revelando os mistérios em torno do "fantasma": muitas das revelações ganham ares infantis e simplórios na boca dos personagens, como no momento em que a cantora Christine Daaé conta ao seu amado, o visconde Raoul de Chagny sobre algumas das peripécias de Erik, o Fantasma. Se a ideia foi mesclar a pureza infantil com a frieza da mente adulta, o resultado final não atingiu o objetivo de manter uma narrativa instigante e envolvente o tempo todo, pois não sacia o leitor em alguns dos pontos-chaves do texto. Este, já sensibilizado com a romântica ideia de um "Anjo da Música", tem ainda mais sede em saber da verdadeira identidade do “fantasma”, entretanto, não espera que as revelações deem-se de forma clara, objetiva e óbvia nos próximos capítulos. A simplicidade do descobrimento desaponta o leitor, que esperava por algo mais maduro para a situação.
Para aqueles que estão acostumados a ver as grandes produções musicais no teatro e no cinema da obra, não imaginam o quanto o escritor se preza de adjetivos para caracterizar personagens, lugares e situações. Erik e sua aparência horrenda é sem dúvida, a mais marcante descrição em todas as páginas. Por outro lado, as adjetivações originam vertentes na mente do leitor, que passa a refletir sobre a real personalidade do fantasma e sobre os sentimentos de Christine por ele.
Ao se ressaltar o papel de cada personagem na narrativa, Leroux define bem a importância de atuação de cada um deles na trama. É preciso que existam as inocentes bailarinas, como Jammes e Meg para assombrarem ainda mais a aparição de um "fantasma", como também é necessário que haja diretores céticos, para se contraporem aos pensamentos das artistas. Mais uma vez, são fundamentais as presenças da lanterninha Sra Giry, em sua "amizade" com a "caveira de olhos de fogo", além do enigmático Persa, peça-chave na explicação do mistério em torno de Erik e até mesmo criaturas como Joseph Buquet, o enforcado, e o Sr. Daaé merecem destaque por acrescentarem detalhes vitais na história como um todo. Quando se costura fatos a personagens, corre-se menos riscos de se ter uma trama com buracos, com pequenos enganos que raramente passam despercebidos aos olhos de quem a lê.
O clima de mistério e sombras que Leroux desenvolve no decorrer da história não é muito similar com relação a algumas de suas adaptações no teatro e no cinema. Principalmente nas mais recentes (como nos musicais apresentados na Broadway e no último filme lançado em 2004), as novas versões prendem-se mais ao triângulo amoroso entre Christine, Raoul e Erik, romantizando ao extremo o enredo, que nada mais possui do "relato jornalístico" do livro. Se não bastasse, também minimizam a postura tida como cruel de Erik, que adquire ares ainda maiores de piedade por parte do público. Como ocorre em muitas adaptações, em "O Fantasma da Ópera", várias situações e personagens originais têm ou seus papeis suprimidos ou alterados. O filme de 1925 baseado na obra, com Lon Chaney interpretando Erik é considerado por muitos como um dos pioneiros nas histórias cinematográficas de terror.
O trecho a seguir do livro, relata o instante em que Raoul flagra Christine conversando com uma voz misteriosa. Até aqui, não se sabe nada além disto:
"A voz de homem fez-se ouvir novamente:
-Você deve estar cansada.
-Oh! Esta noite eu lhe dei a minha alma e estou morta.
-A sua alma é muito bela, minha menina- replicou a voz grave de homem-, e eu lhe agradeço. Não há imperador que tenha recebido presente igual! Os anjos choraram esta noite.”

O livro "O Fantasma da Ópera" fez 100 anos de lançamento em 2010