Cos'è?



lunedì 9 agosto 2010

Família Medo

A família Medo encontra-se reunida para jantar: pai, mãe e três filhos estão ao redor da mesa, mastigando alimentos enquanto uma enorme fome interior devora-os por dentro. Fome de angústia, fome de cansaço, fome de lutar. A família Medo evita falar o que quer que seja, ali, naquele espaço, mas também quase não diz nada no trabalho, na escola ou na rua.
O pai olha atento para todos os lados, como a procurar algo ou alguém que os pudesse perturbar e só após se certificar de que não há nada estranho ao redor, volta a fazer a sua refeição. A mãe treme toda e sente calafrios por todos os poros do corpo. Faz preces seguidas, mas sem mudar o conteúdo de todas aquelas orações: quer o fim de todo aquele pavor. Quem mais parece ter serenidade naquela mesa são as crianças: comem tentando ignorar que não estão vendo seus pais temerosos. Porém, elas sabem que logo após o jantar, elas deverão ir dormir e os pesadelos virão.
Alguém bate à janela três vezes. Todos se sobressaltam. A mãe ergue os olhos, o pai pula da cadeira, os filhos param de mastigar. A família Medo se agita. Quem será? Provavelmente um assaltante tentando roubar-lhes os bens, ou então, um sequestrador que os fará de refém por dias ininterruptos, quem sabe ainda, um assassino cruel, pronto a degolá-los. Mas não era nada disto, era apenas o vento que esbarrou na janela, na tentativa de circular por aquela sala tensa.
"Minha avó dizia que quando o vento bate em uma casa três vezes, é sinal de que tempos difíceis virão", comentou a mãe Medo. O pai nada disse e mais uma vez, certificou-se de que nada havia para daí, poder voltar a jantar.
Alguns breves minutos se passaram quando o segundo dos três filhos resolve abrir a boca para falar: "E se a comida estiver envenenada?". Instantaneamente ouve-se diversos tilintares de garfos e facas por sobre os pratos. A família Medo troca olhares entre si. A mãe vai com a mão à boca, apavorada. "Meus filhos, meus filhos", ela pensa. O pai acha inadmissível que até aquele momento, ele, o responsável pela proteção de todos os Medos ali presentes, não tenha pensado naquela possibilidade. As crianças, um pouco pálidas pelo susto, olham para os pais, esperando a decisão que eles irão tomar.
"Infelizmente, não há mais nada a se fazer", lamenta o pai Medo e começa a derramar grossas lágrimas. Então, todos se levantam e se abraçam e caminham juntos para o sofá mais próximo. Medos entrelaçados e ali, a expectativa de que o pior aconteça.