Cos'è?



sabato 25 giugno 2011

O dia em que escrevi sobre mim


Ponho no papel tudo o que sinto. Escrevo sobre intuições, sobre promessas não cumpridas, escrevo raiva, amor, saudade, esperança. Ah, sentimentos que me consomem por dentro, que sugam as minhas forças sem ao menos me deixar segurar com força, a caneta.
As linhas são como caminhos que percorro com pressa, com pressa de chegar ao desconhecido. Anoto, ando, corro, voo! Os segundos têm pouca importância para mim, eu que já tanto lutei e que continuo a sobreviver neste mundo confuso. Letras viram palavras que viram frases que viram pensamentos. Ações que se tornam e que se veem em alguns rabiscos...Há! Há! Há! Rio de meus devaneios, que agora com formas, olham para mim com faces mascaradas e cruéis. Eles também riem de mim, um riso muito mais alto e agudo, que cutuca meus ouvidos.
Agora meus devaneios dançam ao meu redor e cantam canções que já me embalaram um dia. Mas desta vez, o embalo é assustador em seu ritmo frenético por meio das vozes pesadas. Ah, tudo gira em volta de mim: os devaneios, as linhas-caminhos, a tinta da caneta que continua a demarcar o percurso, eu mesma... Giro em torno do meu corpo, giro em torno da minha mente, giro em meus próprios caminhos. Estarei andando em círculos?
As linhas estão tortas e os caminhos descem e sobem, em infindáveis montanhas. O suor desliza pelo o meu corpo e me agarro em uma pedra-vírgula pelo caminho. Paro. Respiro. Ouço as vozes dos devaneios tentando me indicar por onde seguir. Não posso dar ouvidos a eles, mas está difícil ouvir a mim mesma, eles que tanto gritam e uivam em minha mente. Está difícil a continuar a me prender por muito tempo na pedra-vírgula. Caio. Despenco de minhas próprias palavras em um risco torto. Sinto medo. Sinto o vento dos sentimentos a bater nas minhas costas. A caneta está grossa em minhas mãos e não tenho mais controle sobre ela. Tremo. Paro. Não sei mais aonde estou. Os devaneios surgem lentamente e voltam a me olhar com suas máscaras negras. Não consigo me movimentar e apenas olho a longa distância da qual caí. O tempo passa e os devaneios estão sentados em pedras a me velar. Movimento-me e eles levantam, sem nada dizer. Percebo que estou na penúltima linha da minha folha. Restam-me apenas dois caminhos: permanecer onde estou ou ir para a próxima linha, sem saber o que ambas me revelam. O que fazer? Talvez, com um ponto final, posso ao menos, libertar os devaneios do meu corpo-fantasma.

giovedì 9 giugno 2011

Poemas de Alda Merini


Não Precisei de Dinheiro

Não precisei de dinheiro.
Precisei de sentimentos,
de palavras, de palavras escolhidas sabiamente,
de flores como pensamentos
de rosas como presentes
de sonhos que habitassem em árvores
de canções que fizessem dançar estátuas,
de estrelas que murmurassem ao pé do ouvido dos amantes.

Precisei de poesia,
desta magia que incendeia o peso das palavras,
que desperta as emoções e dá cores novas


Os Poetas Trabalham à Noite

Os poetas trabalham à noite
quando o tempo não urge sobre eles,
quando cala o rumor da multidão
e termina o linchamento das horas.

Os poetas trabalham no escuro
Como falcões noturnos ou rouxinóis
de dulcíssimo canto
e temem por ofender Deus.

Mas os poetas, em seus silêncios
fazem bem mais rumor
Que uma dourada cúpula de estrelas.

A Carne dos Anjos

Um ponto é o embrião
um século de vida
que escuta o universo
a memória do mundo
fim da criação.

O homem que nascerá
é um eco do Senhor
e sente palpitar em si
todas as estrelas.


Amor, Voe até Mim

Amor, voe até mim
em um avião de papel
da minha imaginação
com o engenho do seu sentimento.

Verá florescer terras repletas de magia
e eu serei a copa da árvore mais alta
para te dar frescor e abrigo.

Faz destas asas
duas asas de anjos
e traga também a mim um pouco de paz
e um brinquedo dos sonhos.

Mas antes de me dizer qualquer coisa
veja o espírito em flor
do meu coração.

ALDA MERINI
A poeta milanesa Alda Merini (1931-2009) foi um dos principais nomes da poesia contemporânea italiana, com uma série de poemas consagrados. Recebeu alguns prêmios por sua obra, como o Librex Montale, em 1993, o de maior reconhecimento na Itália aos poetas de sua língua. Alda também escreveu livros em prosa, em que realça a sua própria pessoa.
Alguns destaques da obra de Alda Merini são: “A Presença de Orfeu” (1953), “Tu és Pedro, Ano 1961” (1962), “A Terra Santa” (1984), “Testamento” (1988), “Delírio Amoroso” (1989), “As Palavras de Alda Merini” (1991) e “A Louca ao Lado” (1995).