Cos'è?



martedì 3 maggio 2011

A dor de Pedro

Era impossível para Pedro conhecer todas as palavras e mesmo as que já ouvira, não conseguia memorizar todas de uma vez só; afinal, eram os seus três anos de vida contra os mais de 2000 da língua portuguesa!
Pedro estava inquieto, sentava-se, levantava-se, andava de um lado para o outro e a mãozinha direita sempre indo de encontro ao peito.
-Sinto uma dor horrível!- disse ele à professora- Estou passando muito mal!
A professora desesperou-se. Todas as crianças cochilavam após retornarem do recreio escolar, menos Pedro, que se encontrava em tal estado. Durante todo o intervalo, ela observou que o menino exitou em comer o próprio lanche. Tudo bem que crianças pequenas têm certas frescuras de vez em quando, mas Pedro era diferente das demais. Às vezes, ele se expressava tal como um adulto e isto surpreendia muito a professora e a todos que estavam ao redor.
-Onde dói?- perguntou ela.
-Aqui- disse Pedro, enquanto apontava o tórax.
-O que mais você sente?
-Sinto uma dor que me rouba o ar.
"Será que ele tem algum problema respiratório? Ou seria mesmo cardíaco?", pensava a professora.
-Desde quando você sente isto?
-Desde hoje cedo e esta dor vai aumentando a medida que o tempo passa. Ela aperta muito o meu peito e me deixa tonto, sem saber o que fazer- respondeu Pedro.
-E desde quando um menino da sua idade sabe o que fazer?- brincou a professora, esboçando um sorriso.
-Ora, professora, desde que eu cresci. Eu já senti esta dor antes, mas foi há tanto tempo, que me esqueci como ela se chama. Minha mãe já me contou sobre ela.
-O que a sua mãe lhe contou?
-Que esta dor, que não me lembro o nome, dói muito mesmo. Será que nunca mais vou parar de senti-la, professora?- indagou Pedro, que contraía os dedos da mão sobre o peito que arfava.
A professora notou que o garotinho estava muito preocupado com o que sentia. Colocou as costas da mão sobre a sua testa e viu que ele não estava com febre; no entanto, havia um leve tremor em seus lábios.
-É claro que esta dor vai passar, Pedro. Tenho certeza que daqui a pouco você já estará curado- respondeu.
Pedro, então, levantou os olhos, os longos cílios a refletirem sob o sol, e falou:
-Não, professora. Esta dor não passa assim. Eu estou desesperado, você me entende?- e segurou as mãos da professora.
-Como desesperado, Pedro? O que está realmente acontecendo com você?
Pedro, de olhos baixos desta vez, apenas disse baixinho:
-Eu não sei.
Alguns segundos se passaram e durante eles, mil indagações percorreram a cabeça da professora sobre o seu aluninho. Pedro ergueu a cabeça, colocou as mãos sobre as coxas e prosseguiu:
-Aperta muito aqui dentro, mas não sei explicar como, já que não me lembro o nome desta dor. É a pior dor que já senti na vida. Você já sentiu algo assim, professora?
-Talvez, Pedro. Mas não sei o que você tem. É melhor telefonar a sua mãe para que ela lhe leve ao médico.
Com isto, a professora se levantou e caminhou até o telefone, na sala da secretaria. Disse à mãe de Pedro sobre a situação do menino e esta ficou preocupadíssima: "será que o coração do meu filho tem má formação?", pensava, enquanto ligava ao pediatra para marcar uma consulta e ao mesmo tempo, procurava a chave do carro para correr à escola.
Pedro estava com o seu material e sua lancheira (intocável) aguardando a mãe. A professora esperava ao seu lado e notava como o menino ia ficando cada vez mais tenso. "A dor deve estar aumentando", era só o que achava. Ele estava calado e sério, o que não era comum para o seu jeito.
-A mamãe já vem- disse ela a ele.
Ele acenou com a cabeça.
-Ela deve estar morrendo de saudades suas- continuou dizendo.
Os olhos de Pedro se encheram de luz e ele abriu bem a boca para falar:
-É isto, professora! É esta a palavra da minha grande dor: saudades.
Quando a mãe de Pedro o pegou no colo, ele estava completamente curado.