Cos'è?



domenica 17 gennaio 2010

O homem de outros mundos- entrevista com o escritor Pedro Maciel


“Eu não sou deste mundo. (...): no mundo é preciso viver com o mundo”.(pág. 41)


O escritor Pedro Maciel tem um velho conhecido há anos; uma amizade que surgiu no dia de seu nascimento e que vem fortalecendo-se com o passar do tempo. Mas, quem seria tal companheiro? Nada mais, nada menos do que ele mesmo! Se Pedro Maciel apresentou-se para si mesmo alguma vez, isto não importa. O que importa é que ele se torna conhecido de seus leitores a partir de suas obras. Seus personagens, além de narrarem toda uma história, também dão pistas da personalidade de seu criador. São indicações de pensamentos, ideias, condutas, leituras e gostos (que também devem ser lidos nas entrelinhas). Assim, o autor dos livros “A hora dos náufragos” (2006) e “Como deixei de ser Deus” (2009) diz, em outros momentos, que não gosta muito de comentar sobre si. Também não vê necessidades em se produzir biografias: “(...) acho as autobiografias uma bobagem. Afinal, pode-se ler sobre a vida do escritor através das suas criações”. Discreto, ex-jornalista e hoje, totalmente ligado à literatura, Maciel fala um pouco sobre o seu mais recente livro, “Como deixei de ser Deus*”.
*Maciel, Pedro. Topbooks. Rio de Janeiro, 2009.

BRUNA-Baseando-se em seu último trabalho “Como deixei de ser Deus”, como surgiu a ideia de contar uma história em fragmentos? Por que não fazer como ‘todo mundo’ e abordar o tema em um grande texto corrido?

PEDRO-Ciência é antítese e arte é síntese. Os fragmentos me ajudaram a encontrar a forma mais sintética e contemporânea de contar uma história já contada há milênios. Muda-se a maneira de se contar a história mas os episódios se repetem ao longo da existência.

B- Você fala tantas vezes no pensamento e na ação de pensar. Que pensamentos lhe passavam pela cabeça enquanto escrevia o livro?

P-Pensar exige muito da memória. Escrevo para esquecer.

B - O narrador de seu último livro deixa de ser “Deus” ao fazer diversos tipos de reflexões. O que é Deus para você? Religião e fé podem andar juntas?

P-O ser humano já é naturalmente religioso. Ele está religado a outros tempos e espaços desde o surgimento do Universo. Religião é uma redundância da vida sobrenatural. Pode-se dizer que “Deus é a alma dos brutos”.

B -Dar margem para a múltipla interpretação é uma marca de seu livro. Porém, quando se permite multi-interpretar, pode-se perder o foco inicial. Você não teve ou tem nenhum receio quanto a isto?

P-Não tenho receio sobre as interpretações do meu livro, já que considero todo leitor mais inteligente do que o não-leitor. O meu livro é o que o leitor quiser que ele seja. Cada leitor vai interpretar o meu mundo conforme a sua cultura. Aliás, o leitor é mais importante do que o autor.

B -Este é o seu segundo trabalho como escritor e que tem uma boa aceitação pela crítica nacional. Que tipos de ansiedades e aspirações sente um escritor no pré e pós -lançamento?

P-Quando se exerce a autocrítica, a crítica não tem tanta importância. A crítica nunca nos diz nada de novo. Eu não alimento ansiedades, afinal eu me conheço há séculos. Deve ser por isso que não me importo em ser conhecido ou reconhecido.

B-Nomes como Luis Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar teceram bons comentários sobre a sua obra. Como é ter um livro criticado por grandes mestres da literatura brasileira contemporânea?

P-Os comentários destes escritores honram qualquer escritor brasileiro. Aliás, os comentários de Veríssimo e Scliar estão estampados em uma das orelhas do meu livro. Apesar de que adoro Van Gogh.

B -Você tem contato direto com eles? Como você recebeu a notícia de que seu trabalho estava em tais mãos?

P-Eu mesmo enviei os originais para estes escritores que admiro para que fizessem breves críticas. Eu só os conheço virtualmente. Desde o lançamento do meu primeiro romance “A Hora dos Náufragos”, ed. Bertrand Brasil, que envio os originais antes para escritores avaliarem. Só após receber os comentários que envio para o editor.

B -A originalidade é uma característica de sua obra. Mas ser original, muitas vezes, é correlacionar ideias anteriores. Por que criar é por vezes, tão difícil?

P-Creio na ‘confluência’ e não na ‘influência’. Busco a originalidade o tempo todo. Alguém já disse que para ser original é preciso voltar-se às origens. Por isso o leitor vai ouvir ecos de vários tempos e culturas em minha literatura. O difícil me estimula.

B -Por que também existe dificuldade em aceitar o novo? Quebrar paradigmas (nos mais diversos setores) é uma saída para o desenvolvimento da criatividade?

P-Às vezes uma obra não é aceita em seu tempo porque a geração não está preparada para entendê-la. Apesar de que certas obras de arte não necessitam de ser entendidas mas apenas de serem sentidas, me disse um leitor. Eu sempre ouço com a maior atenção os comentários dos meus leitores. Eu escrevo para eles. Afinal, não há literatura sem leitores.

B-O Pedro Maciel é rebelde?

P-Às vezes não sei volto ou revolto.

B -Quais são as maiores ilusões de um escritor?

P-Eu já não mais me iludo em plena luz do dia.

B- Muitas de suas resenhas publicadas em jornais como O Globo, JB, Suplemento Literário de Minas Gerais, entre outros, são de livros que você gostaria de ter escrito. Que autor e obra mais te causam “inveja” por não ter sido criação sua?

P-A obra de Shakeaspeare, Proust, Dostóiveski, Beckett, Rimbaud, Drummond, Guimarães Rosa e tantos outros não me causam ‘inveja’ mas me causam ‘emoção’.

B -Sua atuação como jornalista terminou em 2003. Por que o jornalista tem que saber a hora em que deve parar com a profissão para exercer a literatura?

P-Literatura é devaneio com método. Jornalismo é método, método, método.

B-Quais suas evoluções em termos literários e ideológicos com relação à “A hora dos náufragos” e “Como deixei de ser Deus”

P-Os comentários sobre as ‘evoluções’ ou ‘involuções’ da minha literatura deixo aos críticos. Torço para que os críticos herdeiros da crítica impressionista ou os críticos-mandarins não façam comentários acadêmicos ou artificiais sobre a minha sintaxe.

sabato 16 gennaio 2010

A era dos deuses (?) - resenha sobre o livro "Como deixei de ser Deus"


A impressão que se tem é que ele, o narrador, apontou o dedo para Deus e o chamou para uma conversa; uma conversa de ‘deuses’. Arrumou as almofadas no sofá da sala, preparou o café e a prosa começou: deus, tempo, pensamento, moralidade, palavras são alguns dos ‘assuntos’ discutidos. Uma discussão que começa com a arrogância de um ‘deus’e termina com a humildade de um ‘homem’- mais precisamente no ano de 2046, com a morte do narrador- “O mundo já está descoberto; esse mundo parece-me não ser meu mundo”, diz ele.
“Como deixei de ser Deus” (Topbooks, Rio de Janeiro, 150 páginas, 2009), do escritor Pedro Maciel, conta antes de tudo, a história de um ser humano, que no caso, pode ser o narrador, eu, você, o vizinho ou o autor. É uma mescla dos mais diversos pensamentos já ditos, dos mais diversos anseios e reflexões sobre a vida (incluindo a própria). No meio dos debates, grandes mestres vão ‘surgindo’ a partir de referências ideológicas e, assim, Nietzsche, Marcel Proust, Dostoievski, Virgínia Woolf, Guimarães Rosa, Machado de Assis entre outros, ficam cara-a-cara na sala do narrador. Este, com toda a sua maleabilidade em argumentar, pensa que a máxima de Sócrates “Só sei que nada sei” já não é tão verdadeira: “Desaprender: ensinar a si mesmo. Quem acredita que nada podemos saber não sabe sequer se sabemos o suficiente para afirmar que nada sabemos.” É filosofia, é religião, é sociologia e antropologia, é psicologia, é literatura...
A originalidade caminha em todas as páginas do livro, que apresenta na capa uma sala de decoração vermelha, convidando a pessoa que lê a acomodar-se por ali e aguardar o diálogo que em instantes irá começar. Mas o leitor, recém chegado ao lugar, nem imagina em quão estranho mundo está prestes a observar. É o mundo do narrador e seus convidados, um planeta desabitado por criaturas de senso-comum; uma região azulada, repleta de crateras e com uma fotografia logo na página 12.
Passar para a folha seguinte é ainda mais intrigante: espera-se por um romance, palavra anunciada na capa, e, quando se fala em romance, pensa-se em histórias povoadas de personagens, situações e conflitos. E é exatamente isto o que “Como deixei de ser Deus” traz (porém, de uma maneira um tanto quanto diferente). O livro é composto por fragmentos enumerados, pequenas frases soltas interligadas por entrelinhas. A sequência dos números não é sempre perfeita (do 151 passa-se para o 158, por exemplo) e nem mesmo a estrutura dos pequenos períodos gramaticais segue uma ‘lógica’ (uma máxima pode iniciar-se com reticências ou terminar com elas; pode ainda, ter dois pontos, como em uma citação). Enquanto o lado esquerdo do livro é toda uma página em branco, o outro lado mostra a união das palavras em trechos. Porém, a ordem destes não é tão importante; pode-se começar a ler o livro em qualquer página, em qualquer fragmento, de trás para frente ou até mesmo, de cabeça para baixo (no caso dos mais habilidosos). Um grande romance com textos ocultos; apenas algumas frases à mostra e em destaque (deveria o leitor preencher toda a narrativa?).
Sim, talvez esta seja mesmo a ideia de seu autor. Em determinado momento, o excerto 1321 diz: “Quantos de meus leitores percebem que estes escritos podem ser entendidos da forma que se desejar? A minha ambição é dizer em dez frases o que qualquer outro diz em um livro- o que qualquer outro ‘não’ diz em um livro”. A imaginação percorre a cabeça de quem acompanha os ‘diálogos’. Pode-se querer saber quem era aquele irmão que “se matou para tornar-se Deus.” Também pode haver reflexões em frases como “Por que tanto esforço em ser como eles? Um dia serei eu o outro.”
Em meio a tantos questionamentos, o livro, lançado no segundo semestre de 2009, tem como seus ‘leitores-indagadores’ pessoas ilustres da literatura nacional, como Luís Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar e Antonio Cícero. Pessoas nada comuns em seus dizeres e que portanto, sentem-se em casa quando se sentam no sofá vermelho da capa.
As páginas viram, o tempo passa (mas o que é o tempo?, está o leitor a estas alturas a se perguntar) e de repente, chega-se ao ano de 2046. “Cada tempo é uma história. Todo fim é uma imensidão”, encontrou-se lá atrás, na ‘sequência’ 1265. No final de tudo, todo o debate transformou aquele triste mundo em um planeta pintado de vermelho, repleto de números, relógios, riscos e dimensões. Tudo se modificou: o ambiente, o tempo, o pensamento e até mesmo, o leitor. Este deixa a sala avermelhada e agora caminha com expectativas, sentimentos e ambições modificados. Está a refletir, apesar de já ter fechado o livro. Porém, continua a ler entrelinhas, a preencher folhas em branco e a notar que em um mundo onde ‘mandam’ os deuses, um dia, estes também perderão os seus reinados.

mercoledì 6 gennaio 2010

A guerra das Cores


Há muitos anos (na verdade, não tantos assim), quando eu era apenas uma criança que brincava de sonhar, contaram-me uma história que me fez aproximar-me ainda mais dos meus cadernos e dos meus lápis de colorir. A história era mais ou menos assim:

Aconteceu neste mesmo planeta em que moramos, mas em um tempo tão remoto, que nem os dinossauros seriam capazes de imaginar tão longínqua época! Tudo se passou em um período onde só havia três países no mundo: o país Vermelho, o país Amarelo e o país Azul. A paz reinava absoluta em toda a Terra, porque estes três territórios nunca tinham tido nenhum tipo de acordo político, econômico, social ou cultural uns com os outros. Não havia nenhum tipo de encontro internacional: nenhuma convenção, seminário, congresso ou apresentação. Nenhum de seus habitantes viajava para o exterior- muitos, nem sabiam da existência dos outros dois países. Resolviam seus problemas internos como bem entendiam e nada e nem ninguém jamais ousava romper isto.
Apesar de nunca terem contatos entre si, os governos de cada um dos países sabiam da existência um dos outros e um ponto importante a se destacar é que o modo de vida em cada um deles era muito semelhante. Eram monarquias absolutas, que prezavam seus costumes e valores e onde todos idolatravam suas respectivas realezas.
No país Vermelho, tudo era vermelho: as pessoas e suas roupas; as cidades e suas casas; os carros e suas estradas; os animais e seus habitats; a comida, a bebida, os eletrodomésticos, os documentos e até mesmo, as imagens da televisão e da fotografia eram vermelhas. As pessoas do país Vermelho tinham personalidade forte: eram ousadas, determinadas e, um pouco orgulhosas também. Em qualquer briguinha entre vizinhos, ficavam ainda mais vermelhas de raiva! Seus governantes, o rei Red e a rainha Rouge eram muito amados pelo povo. Moravam em um lindo castelo no topo da mais alta colina e ambos gostavam de exibir para a população, aos domingos, suas lindas e felpudas capas vermelhas amarradas ao pescoço. Domingo era o dia em que anunciavam os planos da semana e também, comentavam o sucesso daqueles já executados. O país Vermelho fervilhava, sempre!
No país Amarelo, tudo era amarelo: pessoas, animais, lojas, prédios, vassouras, papéis, canetas, tinteiros e computadores. Até mesmo as letras das palavras nos jornais eram amarelas! Ser médico não era uma boa carreira a se seguir neste lugar, pois seus habitantes eram pessoas sadias e raramente adoeciam. E quando ficavam doentes, qualquer um podia dar o diagnóstico: febre amarela! A família real do país Amarelo também era muito querida pela população: o rei chamava-se Yellow e em seu castelo, sua linda filha, a princesa Gialla, gostava de passar horas penteando seus longos cabelos dourados... Pai e filha gostavam muito de oferecer festas em seu palácio e, quando isto acontecia, as preciosas coroas de ouro caíam-lhes perfeitamente sobre as suas cabeças...
Já no país Azul, tudo era azul: as águas, as árvores, as flores, as pessoas, os bichos e também, os filhos de todos estes seres. No país Azul, tudo era tão harmônico, em tão perfeita sintonia, que em todos os lugares aonde se ia, podia-se ouvir alguém cantando alguma canção. Em qualquer beco, travessa ou esquina, sempre se encontraria letras de músicas chamadas: “Azul da cor do mar”; “Moody Blue” ou simplesmente “Azul”. É claro que o único estilo de toda e qualquer música era em Blues. A rainha Blau era uma mulher muito bonita, com grandes e brilhantes olhos azuis-claros. Sua cor preferida era o azul-turqueza, assim, exigia de seus súditos que todo e qualquer material que lhe fosse entregue, fosse dessa cor. A rainha Blau não era do tipo que aparecia muito em público; era discreta, mas cumpria seu reinado com grande afinco. Assim, os nativos azuis não tinham do que reclamar.
Tudo ia bem na Terra até que um dia, uma ilha desconhecida e, portanto, sem cor, foi descoberta quase que instantaneamente por navegadores dos três países. O mundo não era muito grande naquela época, o que sempre fazia com que marinheiros das diversas nacionalidades e cores se encontrassem em alto-mar (o mar era de tonalidade neutra, até então). O capitão do país Azul foi o primeiro a avistar a ilha, porém, o capitão do país Vermelho foi o mais rápido em alcançá-la. Por sua vez, o do país Amarelo, resolveu não desembarcar na ilha e sim, voltar para a sua terra e avisar o governo de sua existência.
Enquanto os capitães vermelho e azul discutiam incansavelmente na ilha sobre a sua posse, o rei Yellow caminhava de um lado para outro em uma das salas de seu castelo, enquanto ouvia seus conselheiros. Após alguns instantes, convocou a população local para um importante anúncio. De coroa dourada na cabeça e ao lado de sua filha, disse:
-Uma nova ilha foi descoberta por nossa marinha! O país Amarelo estende suas terras, sua cultura e sua cor! Amanhã mesmo, um novo território amarelo será apossado!!!
Ainda no mesmo dia, os capitães dos outros dois países argumentaram entre si até não haver mais palavras. Mesmo assim, não deixaram a ilha por um segundo sequer. Por outro lado, enviaram mensageiros aos seus países avisando sobre a nova descoberta.
Algumas horas depois, a rainha Blau convocou seu povo e em voz baixa, mas firme, anunciou:
-Hoje é um dia de grande felicidade para a nossa nação! Nossa querida marinha ao percorrer mares distantes, fez a descoberta de uma ilha inabitada. O país Azul estender-se-á, minha gente!
No país Vermelho, a população estava em polvorosa com a notícia, espalhada por fofoqueiros em uma velocidade altíssima! Em seus pronunciamentos, o rei Red e a rainha Rouge, apenas precisaram dizer:
- Viva o país Vermelho!!! Viva a nossa terra e a nossa gente!!! Viva a nossa nova conquista!!!
E assim, em comemoração à nova descoberta, os vermelhos cantaram, dançaram e beberam por toda a noite.
No dia seguinte bem cedo, tropas dos três países zarparam de suas terras em destino à nova ilha incolor. Devido à posse, os governos das três nações estavam a bordo nos navios com toda a pompa que lhes cabiam. O mar estava calmo, as ondas ajudavam a conduzir os navegantes e por pura coincidência, chegaram ao lugar no mesmo minuto e no mesmo segundo.
- Mas o que fazem aqui os governantes do país Amarelo e do país Azul?, berrou o rei Red. Não vieram para a nossa posse, vieram?
- Não, vim para a MINHA posse, disse o rei Yellow. Eu que me pergunto o que o senhor, a sua senhora e toda esta gente vermelha fazem na minha ilha.
- Cavalheiros, por favor. A ilha é de minha propriedade, da posse do meu governo. Foi o meu capitão quem a avistou primeiro, portanto, ela me pertence, falou a rainha Blau educadamente. Por gentileza, queiram se retirar, continuou, ao mesmo tempo em que mostrava o mar, como se este fosse uma porta de entrada e de saída.
Os outros dois governantes apenas se olharam e muito mais vermelha do que de costume, foi a vez da rainha Rouge em explodir:
-Se retirar? De minha terra? A senhora só pode estar brincando. Saiam a sua majestade e a sua tropa e agora!!! Aproveitem e levem estas caras amarelas convosco, também.
Foi então que a princesa Gialla reclamou:
-Papai, eles estão nos expulsando de nossa ilha! Nosso povo espera por esta posse e não podemos desapontá-los!!! Vamos, papai, faça alguma coisa!
-Amarelos!, gritou o rei. Em nome de nosso país proponho que os senhores mandem embora imediatamente, eu disse imediatamente, todas estas pessoas que não são de nossa cor. Façam por bem ou por mal, mas façam!!!
-Pois eu proponho o mesmo à minha tropa!, gritou ainda mais alto o rei Red. Então, ergueu o braço e em um urro, exclamou: com o nosso sangue vermelho quero que expulsem estes invasores, vermelhos!!! Já!!!!!!!
A rainha Blau mantivera-se quieta em seu canto, até então. Estava de braços cruzados, mas de cabeça erguida e com esta posição, chamou seus oficiais em um canto e sussurrou:
-Não podemos perder esta batalha, azuis. Está claro que a ilha é nossa, mas como eles insistem em nos enfrentar, vamos ter algo inédito em nossa defesa militar: teremos que enfrentar uma guerra! Convoquem o exército e a aeronáutica se for preciso, mas tirem-os daqui o quanto antes.
E assim, teve início à Guerra das Cores. Militares das mais diversas áreas, cargos e cores estavam a postos na ilha incolor. Em pouco tempo, uma enorme rajada de munições vermelhas, amarelas e azuis começou a manchá-la. Elas partiam de todos os lados, vinham com as mais diversas intensidades e atingiam os mais variados alvos. Porém, algo inusitado começou a ocorrer no local. As balas, bombas e rajadas não apenas produziam uma grande coloração na ilha, mas também, formavam novas cores. Se o amarelo atingisse o azul, por exemplo, formava-se uma tonalidade que mais tarde se denominaria verde. O vermelho com o amarelo geravam o laranja e, já o azul com o vermelho originavam o roxo. Estas cores secundárias por sua vez, em uma série infinita de contatos criavam cada vez mais e mais cores, até que chegou um momento que nenhum dos três governos não aguentava mais lutar.
-Não estamos tendo nenhum resultado com esta batalha, meus caros, falou o rei Yellow. Estamos criando, sim, novas categorias de cidadãos que ainda poderão se unir contra nossos países!
- Concordo, respondeu prontamente a rainha Blau. Por isto, se todos concordarem em retirar suas tropas, eu também retirarei as minhas.
Em seguida, foi a vez da rainha Rouge se posicionar:
-Obviamente meu país retirará as tropas se vossas majestades retirarem as suas. Esta guerra não precisava ter acontecido se desde o início, vossas tropas tivessem ido embora e permitido a posse do país Vermelho sobre a ilha.
O rei Red prontamente balançou a cabeça concordando.
O rei Yellow e a sua filha Gialla trocaram olhares com a rainha Blau, que se manifestou:
-Não temos mais uma guerra entre três países. Temos, sim, a descoberta de uma nova terra e a formação de novas etnias, de novos povos e por que não, de novas nações? Nossa guerra trouxe não apenas uma guerra de territórios, mas também, uma guerra de cores. E se não nos entendermos aqui, agora, esta guerra de cores será infinita e suas consequências também!
A representante suprema do país Azul tinha toda a razão em seu breve discurso. Esta era a primeira batalha da Guerra das Cores; uma guerra que nunca deixou de existir, por mais que se passassem os anos. Independente de sua origem e cor, os muitos países que surgiram continuam a brigar pelos mesmos motivos e isto parece nunca ter fim.

domenica 3 gennaio 2010

O poeta da era do ar condicionado




A impressão que se tem é que ele está sempre com a inspiração a lhe acompanhar lado-a-lado. Em diversos momentos, compartilhados por simples e-mails, cada palavra parece ter sido escolhida cuidadosamente, como flores para um arranjo; e no meio deste seu contar, surgem expressões um tanto quanto diferentes, quando o que se espera, é apenas uma simples conversa informal: “um beijo azul”, despede-se ele; ou então, falando sobre o desafio de sua vida, explica que busca o “equilíbrio entre o dionisíaco e o apolínio”.
Assim se expressa o poeta mineiro Jovino Machado. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele possui uma grande bagagem em termos de carreira: são 11 livros publicados (o último “Cor de Cadáver” em 2009), participações em antologias nacionais e internacionais e publicações em veículos consagrados da literatura (como o Rascunho de Curitiba e o Suplemento Literário de Minas Gerais). Só que Jovino também trás em seu currículo atuações como jornalista, capoeirista, figurações em cinema e em recitais. Como se ainda não bastasse, administra três restaurantes em Belo Horizonte, onde vive atualmente.
A seguir, a definição da “Felicidade”* para o poeta:

O céu está azul
O mar está calmo
O campo está florido

A meleca do meu nariz secou

*(Machado, Jovino. Cor de Cadáver. Belo Horizonte: Anome Livros, 2009, pg, 16).

No meio de todo um correio eletrônico surge a seguinte entrevista:


Bruna: Quem nasceu primeiro: o poeta ou o Jovino?

Jovino: Quando nasci, minha mãe me disse: "Vai, Jovino ser gauche na vida”.

B: Como foi a sua infância?

J: A minha infância foi maravilhosa. Fui menino criado no interior com muita fruta no quintal. Tinha também galinheiro e passarinhos. Morei em muitas cidades de Minas. Em todas elas sempre tinha um campinho de futebol perto de minha casa. Meu pai comprava jornais, revistas e livros. Minha mãe comprava enciclopédias. Eu gostava muito de desenhar e aos domingos sempre ia ao cinema assistir filmes de bandido e mocinho e também dos Trapalhões.

B: No seu livro "Fratura Exposta", você fala em uma "máquina de pensar". Quais são as ferramentas que movem esta máquina?

J: A ferramenta maior é o grande desejo de construir uma obra poética.

B:Como a sua poesia amadurece?

J: Na falta, na dor, na tristeza e na morte.

B: Qual a diferença entre o poeta Jovino em seu primeiro poema e o poeta Jovino em seu último poema?

J: A diferença é a ingenuidade que não existe mais. Quando eu escrevi meu primeiro poema eu achava que a vida era só alegria. Hoje vejo que tristeza não tem fim, felicidade, sim. O meu "último poema" fala da dor que estou sentindo como a morte de meus amigos Lúcio Tadeu, Alécio Cunha e Fernando Machado.

B: O que tem no estado de Minas Gerais que faz muito de seus "filhos" serem escritores?

J: Tem Drummond, Rosa e Darcy Ribeiro que são grandes influências e no outono tem uma luz cinematográfica.

B: Você nasceu na época certa?

J: Sim, adoro avião e ar-condicionado.

B: Qual a melhor época para se nascer?

J: Não sei, mas acho que teria sido maravilhoso ser pintor na Paris de Lautrec e Modigliani.

B: Como é administrar três restaurantes? É difícil? O tempero na comida e nos poemas é o mesmo?

J: É muito difícil.Tenho que matar um leão por dia. Sou sócio de meus irmãos e isso ajuda muito. Eu tenho a sorte de ter cozinheiras maravilhosas. O tempero é o desejo de sempre fazer o melhor na comida e na poesia. É preciso ter delicadeza, paciência, coragem, sorte e determinação.

B: Quais são seus hobbies?

J: Andar de bicicleta, ler jornal e tomar cerveja assistindo a tarde cair.

B: A poesia tem sexo? Teria também forma, cor, nome e sobrenome?

J: A poesia é do sexo feminino, tem a forma das belas pernas da musa, usa roupas pretas e bebe uísque com os poetas.

B: Vejo que você tem um grande interesse pela astrologia. Mas o que você realmente pensa sobre ela? De qual signo o leonino Jovino não seria de jeito nenhum?

J: O interesse é apenas poético. Amei virginianas, librianas e arianas.Eu jamais seria geminiano, mas seria do signo de escorpião que é puro sexo.

B: Quais são seus ídolos?

J: Drummond,Glauber Rocha,Baudelaire, Xico Sá, Clarice Lispector, James Joyce, João Gilberto, Hilda Hilst, Chico Buarque, Pasoline, Monteiro Lobato, minha mãe, Sônia Braga, meu pai, Darcy Ribeiro, Chet Baker, Nelson Cavaquinho, Picasso, Frida Kahlo, Ella Fitzgerald, Balzac, Marcel Proust, Torquato Neto, Charlie Parker,Godard,Almodóvar,
Woody Allen, Swann e Odete, Rimbaud, Fernando Pessoa, Ricardo Piglia, Manuel
Bandeira, Cartola, Mário de Andrade, Pagu, Sartre, Simone de Beauvoir, Miró, Auguste Rodin, Camille Claudel, Sá Carneiro, Rê Bordosa e etc...

B: Se você pudesse viver em um livro e vivenciar toda a sua história,em qual seria? Gostaria de ser algum personagem em especial? Ou seria o Jovino mesmo?

J: Eu seria o Ulisses da Ilíada e da Odisséia. Não é fácil estar dentro de meus sapatos. Quando eu crescer quero ser o Tom Jobim.

B: Fernando Pessoa diz: "Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura". Até onde você enxerga?

J: Sou do tamanho do que sinto e tenho 1 e 78 de altura como Stephen Dedalus do romance Retrato do artista quando jovem de James Joyce

B: Do que você tem medo?

J: Tenho medo da dor, do sofrimento e da morte das pessoas que eu amo.

B: O que você ainda busca?

J: Sou como Balzac.Somente duas coisas me interessam: o amor e a glória.

B: A poesia é a melhor arte?

J: A poesia é o patinho feio das artes. Na minha imodesta opinião é superior à música, ao cinema e pintura.

B: Conte-me um segredo.

J: Só posso contar bem baixinho no seu ouvido!!!