Cos'è?



venerdì 6 gennaio 2012

A Joaninha de Veríssimo

Nestes 600 anos de nascimento da lendária Joana D’Arc (1412-1431), destaco um livro cujo título é simples e direto: “A Vida de Joana D’Arc” (Editora Globo, 1978), de Érico Veríssimo. Conforme anuncia, o livro aborda do nascimento à execução na fogueira daquela que foi considerada heroína de uma guerra (a dos “Cem Anos”- 1337-1453) e séculos depois, elevada à condição de santa (padroeira da França).

Como para falar sobre Joana D’Arc é necessário retornar séculos no tempo, existem várias versões de episódios envolvendo o nome da “Donzela”. Bom, mas se escritores, cineastas e outros interessados na vida de personagens históricos levassem à risca a necessidade de se comprovar todos os detalhes, não teríamos tantas produções sobre Cleópatra (69? a.C- 30 a.C), a rainha do Egito, por exemplo. No caso da figura principal deste texto, Veríssimo explica no prefácio do livro (o prefácio foi escrito em 1960, quase 30 após a publicação da primeira edição):

“Acabei mandando para o diabo todas as limitações [editoriais] e escrevi a história como achei que devia escrevê-la, sem pensar em conveniências tipográficas nem na idade de seus possíveis leitores. O resultado é este livro em que a vida da Donzela aparece romanceada até onde foi possível fazer isso sem trair a verdade histórica”.

Veríssimo, que ainda no prefácio se diz um “fascinado” por Joana D’Arc, apesar de ter realizado uma grande pesquisa histórica sobre a Donzela, realmente romanceou a sua vida até onde foi possível (!). A primeira impressão sobre a “menina Joana” (ou “Joaninha”) é como sendo meiga com seus amiguinhos, doce com os seus animais, plantas e rio, além de muito trabalhadora e religiosa. O autor, que diz dar ao texto “riqueza de cores”, acaba exagerando, muitas vezes, em suas pinceladas, e o resultado é um excesso de cores (principalmente no começo do livro), onde até o burrinho de Joana é repleto da melhor “pureza animal”. Ao destacar as crendices de Domrémy, na Lorena (onde a francesa Joana nasceu) do começo do século XV, como a de fadas que habitam em bosques, pensa-se que durante a infância, Joana estaria apta a protagonizar um conto-de-fadas, onde (quase) tudo era belo e perfeito. Se a guerra contra os ingleses criava rixas entre a população local, isto, a princípio, não interessava tanto à garota, que além de não compreender o que se passava, tinha como principal interesse a devoção por santos.

Como diz a História (neste caso, não necessariamente me refiro ao livro de Veríssimo), Joana D’Arc, que via a imagem espiritual de santos e recebia mensagens destes, tornou-se conhecida graças a estas visões: envolveu-se com a guerra, defendendo o seu povo e conseguindo algumas vitórias (eis a heroína), mas acabou sendo presa, julgada e condenada à morte por heresia. Na história de Veríssimo, os santos foram claros com Joana sobre o fim de sua missão: tomar dos inimigos os lugares citados por eles e entregar a coroa ao rei Carlos VII (como bem dizia a profecia de que uma donzela montada em um cavalo e vestida como homem conseguiria). Mas a Donzela, agora transformada em heroína, não é mais a menina meiga da infância, e Veríssimo retira um pouco de “suas cores”, relembrando ao leitor (finalmente), que aquela história é real. Então, a heroína Joana, que só vê batalhas e conquistas pela frente, só quer lutar e tomar Paris, para também dá-la ao rei. Neste ponto, o biógrafo retrata as batalhas com as “cores certas”, ou seja: sem exceder ou faltar com adjetivos e verbos de ação.

No livro, as visões de Joana, além de darem ao texto a aura do momento, também trazem um breve retrato histórico da vida de lendárias e santas figuras, como Santa Catarina e Santa Margarida. Como o principal sobre a vida da Santa Joana D’Arc já é supostamente conhecido dos leitores, a associação que se tem com essas páginas é que se houve um grande sofrimento no instante da morte das primeiras santas (e páginas depois, no de Joana), ele será recompensado na passagem para o “reino dos céus”- como se já consolasse o leitor de que aquela terna menina, apesar da morte horrível que a esperava, teria o seu nome gratificado (mas neste caso, como explica Veríssimo no posfácio, o nome de Joana D’Arc só ganhou reconhecimento cinco séculos depois de sua morte).

Independente do fanatismo patriota ou religioso que se apossou da jovem de Domrémy, o fato é que Joana foi capturada e levada a julgamento (o próprio rei, Carlos VII, prefere esquecer aquela que o ajudou e preocupar-se apenas com a sua “vida de rei”, conforme mostra Veríssimo ao narrar os pensamentos de Carlos VII). Os "interrogadores" precisavam punir àquela que saiu de uma aldeia pobre e fez sucesso na França com a sua ousadia nas batalhas e palavras profanas! Que motivo mais óbvio para puni-la senão o seu fanatismo religioso, que agora, crescia em boatos pelas várias cidades francesas (Joana, com suas visões, era tida como milagrosa pela população)? Veríssimo é cauteloso com os detalhes de seus depoimentos, que se não seguem com rigor as palavras realmente ditas pela Donzela, ao menos seguem as palavras cravadas na História e tidas como suas. Assim, a herege, feiticeira e cismática Joana D’Arc foi queimada viva na fogueira aos dezenove anos de idade por não renunciar aos seus princípios (religiosos e de pátria- os "interrogadores" queriam que ela voltasse a se vestir com roupas femininas).

Já no posfácio, Veríssimo, que conversa com “Joaninha”, narra a ela muito do que se passou nos muitos e muitos anos seguintes: outras tantas guerras que vieram e se foram, bem como as invenções tecnológicas até o início do século XX. Mas finaliza, voltando às “cores do começo”, como se todos os burrinhos da Lorena tivessem as mesmas características amáveis daquele da menina Joana.

giovedì 5 gennaio 2012

A jovem e o bem-te-vi


Aos pés de uma colina descansava um vilarejo. Suas casinhas eram simples, mas agradáveis, com flores coloridas pelo chão. Homens e mulheres trabalhavam em suas lavouras, crianças brincavam com seus burricos e uma jovem cosia eternamente um pedaço de tecido. É preciso dizer que esta jovem tinha a pele fresca como as maçãs regadas com o sereno da noite, mas era também frágil como a um beija-flor; a pobrezinha era doente, ou melhor, seu coração era doente. Por isto, a jovem quase nunca saía de casa e passava os dias em seu quarto, a coser, coser, coser...
Só que agora, a jovem arranjara mais uma atividade para acompanhá-la na sua solidão: para a sua surpresa, seu coração, por mais doente que fosse, ainda tinha capacidade para pulsar ardentemente uma paixão; a jovenzinha amava! Amava já há algumas semanas, quando tivera autorização de sua avó (a jovem morava com a avó) para ver a festa dos lavradores que tinham feito uma ótima colheita aquele ano. Era certo que a jovem só podia permanecer no centro da vila por alguns minutos para ver homens, mulheres e crianças cantando, dançando e bebendo, porém, isto fora o suficiente para que ela visse no meio da pequena multidão um rapaz com olhos de oliva e com um sorriso doce como os favos de mel. A partir daquele instante, o coração doente da jovem mostrou-se capaz de também amar.
Desde então, a jovem cosia e amava, cosia e amava, cosia e amava. Também sonhava de vez em quando, e em seus sonhos, o rapaz também a amava e queria casar-se com ela.
Enquanto costurava, a jovem lançava olhares apaixonados e compridos para fora da janela de seu quarto... A agulha perfurava o pano, a linha fazia a sua marca e o tempo passava...
Não muito distante dali, morava um bem-te-vi, que gostava de se esconder nas árvores da colina. Certo dia, o bem-te-vi, sob muita coragem e determinação, resolveu alçar voo e voou lá para os lados do vilarejo. Voou, voou, observando a tudo e a todos, quando notou a presença de uma linda jovem que cosia distraidamente na janela de seu quarto. O coraçãozinho da avezinha vibrou de alegria e ele sacudiu suas peninhas de emoção.
Entretanto, no mesmo instante em que o bem-te-vi observava a jovem, a jovem notou que o rapaz que ela amava estava passando calmamente do lado de fora de sua janela. Trazia uma enxada nos ombros, além de seu sorriso de mel. O bem-te-vi namorava a jovem, que namorava o rapaz, que namorava o horizonte a sua frente. Eis então, que o bem-te-vi, do galho onde havia pousado, não aguentando mais a paixão em seu peito amarelo, explodiu a sua voz:
-Bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi!
A jovem deu um sobressalto com o que acabara de ouvir.
-Ele me viu?!
O rapaz parou a sua caminhada e buscou quem o havia citado de maneira tão carinhosa.
Porém, a jovem, envergonhada com àquele que havia descoberto o seu segredo, murchou o seu corpo na janela e o rapaz não soube jamais quem o havia visto. O bem-te-vi, por sua vez, voou até a janela da jovem e a encontrou encolhida em sua cadeira. Ele a denunciou:
-Bem, te vi! Bem, te vi!
A jovem, ao ver o real dono daquela voz, ficou furiosa com tamanho atrevimento que decidiu fechar para sempre a sua janela. Ela só não soube que o rapaz continuou a passar por ali e já desconfiava que a dona daquela voz morava atrás daquela janela.


Imagem: Emanuele Luzzati