Cos'è?



giovedì 27 gennaio 2011

Os anos-luz entre nós dois


Galanteio a galáxia
e cada uma de suas bilhões de pequenas estrelas
Quero pertencer ao universo
e criar abraços quando for me esconder em seus buracos negros
Girando em torno de uma massa comum- a força que une nós dois
eu galanteio a galáxia
e tenho mais pressa em beijá-la do que os anos-luz que nos separam
Perdendo-se num tempo sem horas, e num espaço sem lugar, minha galáxia é meu mundo
e meu fim
Galanteio a galáxia em busca de um único corpo
que não seja celeste, mas que seja consistente
e que aguente todas as explosões de um louco amor.

sabato 22 gennaio 2011

Palhaço

Lápis nos olhos para transparecer meu profundo olhar, nariz vermelho, boca além de sorrisos, sou um palhaço. Exagero no pó em meu rosto, faço meu cabelo ficar azul, me visto com todas as cores e meus sapatos sempre são maiores que meus passos. Ainda assim, sou um palhaço, mas não porque faço estardalhaço: meu pequeno camarim é meu casulo, onde me escondo da multidão lá fora e ali metamorfiso-me para em seguida, dar asas à alegria que guardo em meus bolsos.
Sou um palhaço quando rodopio, canto, grito e caio. Sou um palhaço quando tento ser criança outra vez.
Uma vez, uma lágrima saiu-me dos olhos e borrou-me a maquiagem. Descobri que palhaços também choram... Descobri que também guardo mágoas nos bolsos da minha larga calça. Sou um palhaço.
Meus olhos translúcidos trazem os caminhos que andei. Escondo minhas rugas por debaixo de meu ser- este ser que insiste em tampar defeitos. Trago em minhas mãos flores que não tem cheiro, mas que arrancam risos quando cheiradas. Meus ouvidos veem gargalhadas e minha voz escuta a si mesma. Sou um palhaço.
De repente, vejo-me sozinho olhando para mim mesmo. O picadeiro é apenas mais um lugar como tantos. Não posso me desfazer, não posso me recompor, não posso tirar aquilo que faz de mim o que sou: um palhaço.

mercoledì 12 gennaio 2011

...e os anjos choraram esta noite



Cem anos se passaram desde que Gaston Leroux (1868-1927) escreveu uma das obras mais inspiradoras do último século: o livro "O Fantasma da Ópera".
Fonte de devaneios para leitores, artistas e adaptadores, a história de um suposto fantasma que assombrava a Ópera de Paris em meados do século XIX também tem sua origem em um momento de sensibilização do autor: foi durante uma visita a este teatro, que Leroux ao se infiltrar por bastidores, salas e corredores, chega às partes mais baixas do lugar, descobrindo uma espécie de lago entre grades de ferro. O ambiente, iluminado apenas por uma tocha, ganhou proporções na imaginação e no talento do escritor francês, que também foi jornalista e estudante de Direito.
Para compor o seu mais famoso livro, Leroux utilizou-se de conhecimentos e habilidades vindos das áreas em que atuou. Assim, o romance, com ares de suspense em cada página, tem em sua narração elementos do jornalismo e da justiça-policial da época. Estes dois meios auxiliam a marcar as características de estilo do autor, que sempre pendem ao diferente, macabro e altamente misterioso. No livro "O Mistério do Quarto Amarelo" (1907) é possível notar esses seus traços de escrita.
Em "O Fantasma da Ópera" (Ed. Ática, 2006), logo nas primeiras páginas há explicações sobre o inusitado que se encontrará logo adiante. Os comentários são de um “repórter-escritor”, tal como o próprio Leroux fora, e sua maneira de abordar o mistério do Fantasma da Ópera conduz os pensamentos de quem o lê a uma situação "verídica", repleta da mais profunda importância para o meio social e que por isto, deve ser trazida a tona. O personagem- que se mistura com o próprio Leroux, ao se apresentar como autor do livro-, traz documentos e entrevistas em sua narrativa, além de dar o seu entendimento dos fatos. Porém, a maior parte do enredo é composta por falas de outros personagens, como bailarinas, cantoras, demais funcionários e frequentadores do teatro. Contada desta forma, o realismo da história aumenta a cada minuto, devido ao efeito do instantaneísmo.
Porém, tal artifício, ao mesmo tempo em que cria a ilusão no leitor de estar vendo muito dos fatos no momento em que acontecem, por outro lado, levam o autor a pecar ao ir revelando os mistérios em torno do "fantasma": muitas das revelações ganham ares infantis e simplórios na boca dos personagens, como no momento em que a cantora Christine Daaé conta ao seu amado, o visconde Raoul de Chagny sobre algumas das peripécias de Erik, o Fantasma. Se a ideia foi mesclar a pureza infantil com a frieza da mente adulta, o resultado final não atingiu o objetivo de manter uma narrativa instigante e envolvente o tempo todo, pois não sacia o leitor em alguns dos pontos-chaves do texto. Este, já sensibilizado com a romântica ideia de um "Anjo da Música", tem ainda mais sede em saber da verdadeira identidade do “fantasma”, entretanto, não espera que as revelações deem-se de forma clara, objetiva e óbvia nos próximos capítulos. A simplicidade do descobrimento desaponta o leitor, que esperava por algo mais maduro para a situação.
Para aqueles que estão acostumados a ver as grandes produções musicais no teatro e no cinema da obra, não imaginam o quanto o escritor se preza de adjetivos para caracterizar personagens, lugares e situações. Erik e sua aparência horrenda é sem dúvida, a mais marcante descrição em todas as páginas. Por outro lado, as adjetivações originam vertentes na mente do leitor, que passa a refletir sobre a real personalidade do fantasma e sobre os sentimentos de Christine por ele.
Ao se ressaltar o papel de cada personagem na narrativa, Leroux define bem a importância de atuação de cada um deles na trama. É preciso que existam as inocentes bailarinas, como Jammes e Meg para assombrarem ainda mais a aparição de um "fantasma", como também é necessário que haja diretores céticos, para se contraporem aos pensamentos das artistas. Mais uma vez, são fundamentais as presenças da lanterninha Sra Giry, em sua "amizade" com a "caveira de olhos de fogo", além do enigmático Persa, peça-chave na explicação do mistério em torno de Erik e até mesmo criaturas como Joseph Buquet, o enforcado, e o Sr. Daaé merecem destaque por acrescentarem detalhes vitais na história como um todo. Quando se costura fatos a personagens, corre-se menos riscos de se ter uma trama com buracos, com pequenos enganos que raramente passam despercebidos aos olhos de quem a lê.
O clima de mistério e sombras que Leroux desenvolve no decorrer da história não é muito similar com relação a algumas de suas adaptações no teatro e no cinema. Principalmente nas mais recentes (como nos musicais apresentados na Broadway e no último filme lançado em 2004), as novas versões prendem-se mais ao triângulo amoroso entre Christine, Raoul e Erik, romantizando ao extremo o enredo, que nada mais possui do "relato jornalístico" do livro. Se não bastasse, também minimizam a postura tida como cruel de Erik, que adquire ares ainda maiores de piedade por parte do público. Como ocorre em muitas adaptações, em "O Fantasma da Ópera", várias situações e personagens originais têm ou seus papeis suprimidos ou alterados. O filme de 1925 baseado na obra, com Lon Chaney interpretando Erik é considerado por muitos como um dos pioneiros nas histórias cinematográficas de terror.
O trecho a seguir do livro, relata o instante em que Raoul flagra Christine conversando com uma voz misteriosa. Até aqui, não se sabe nada além disto:
"A voz de homem fez-se ouvir novamente:
-Você deve estar cansada.
-Oh! Esta noite eu lhe dei a minha alma e estou morta.
-A sua alma é muito bela, minha menina- replicou a voz grave de homem-, e eu lhe agradeço. Não há imperador que tenha recebido presente igual! Os anjos choraram esta noite.”

O livro "O Fantasma da Ópera" fez 100 anos de lançamento em 2010