Cos'è?



venerdì 25 giugno 2010

A wolf at the door


Quem são os lobos que nos rodeiam? Que matilha é essa e de onde vêm? Estão atrás da porta, estão por cima do telhado, estão dentro do guarda-roupa... prontos para dar um bote, prontos para atacar e rasgar nossas vísceras com seus finos dentes brancos, que apenas mastigam, enquanto seus pequenos olhos negros fitam impiedosamente o que restou de nós.
Mas eles não querem apenas a nossa carne: querem também a nossa alma! Querem cada pequeno detalhe daquilo que nos compõem; e querem as nossas coisas, os nossos familiares, os nossos amigos, os nossos mais profundos sonhos! Querem que fiquemos nus em algum caminho perdido e lá, em nosso abandono, olharão em nossos olhos uma última vez, como a nos dizer secamente: “adeus!”.
Os lobos que nos rodeiam são dóceis e frágeis e nunca nos dizem não. Seus uivos agudos grudam em nossos ouvidos e chegam até nossas cabeças, onde ficam a girar; somos aprisionados por dentro. Por incontáveis momentos eles ousam segurar as nossas mãos e as apertam com ternura e firmeza, enquanto entrelaçam suas finas garras em nossos dedos de pó. Para eles, o consolo é a primeira das armas, que apenas arranha, sem causar cicatrizes, enquanto a confiança, sim, é a maior de todas: está sempre na posição certa, com a mira exata para atirar e nos fazer cair, até estrebucharmos no chão. Nosso sangue tem gosto doce e um perfume suave.
A música dos lobos ainda toca e entre uivos e gemidos eles dançam a passos leves, saltitando de lá para cá. Suas roupas pretas, suas máscaras delicadas e suas longas capas criam um efeito mágico em suas coreografias: o rodopio é tão mais suave, os gestos tão mais precisos e a ocupação do palco tão mais completa e espontânea. Os lobos nos enganam com seus espetáculos e nós, suas presas tão fáceis, nos levantamos para aplaudi-los de pé, para depois sermos devorados no mesmo compasso por tais artistas; fomos ingenuamente derrotados. A cortina se fecha e por trás dela, os lobos continuam a ensaiar sua próxima peça. De onde vem essa matilha? Para onde partirá?

A Wolf at the Door- (Thom Yorke) Radiohead

Drag him out your window
Dragging out the dead
Singing "I miss you"
Snakes and ladders
Flip the lid
Out pops the cracker
Snaps you in the head
Knifes you in the neck
Kicks you in the teeth
Steel toe caps
Takes all your credit cards
Get up, get the gunge
Get the eggs
Get the flan in the face
The flan in the face
The flan in the face
Dance you fucker, dance you fucker
Don't you dare
Don't you dare
Don't you flan in the face
Take it with the love is given
Take it with a pinch of salt
Take it to the taxman
Let me back let me back
I promise to be good
Don't look in the mirror
At the face you don't recognize
Help me call the doctor
Put me inside
Put me inside
Put me inside
Put me inside
Put me inside

I keep the wolf from the door
But he calls me up
Calls me on the phone
Tells me all the ways that he's gonna mess me up
Steal all my children
If I don't pay the ransom
But I'll never see 'em again
If I squeal to the cops

No, no, no...
Walking like giant cranes
Ah, with my X-ray eyes I strip her naked
In a tight little world, why are you on the list?
Stepford wives, who are we to complain?
Investments and dealers, investments and dealers
Cold wives and mistresses
Cold wives and sunday papers
City boys in first class
Don't know we're born little
Someone else is going to come and clean it up
Born and raised for the job
Someone always does, always pick it up
Get over, get up, get over
Turn the tape off

I keep the wolf from the door
But he calls me up
Calls me on the phone
Tells me all the ways that he's gonna mess me up
Steal all my children
If I don't pay the ransom
And I'll never see 'em again
If I squeal to the cops

So I'm just gonna...

lunedì 21 giugno 2010

Crepúsculo


Não lhe restam mais forças para lutar. Se entregar? Talvez. Sentia que ia caindo gradativamente, declinando, declinando, declinando... Mas ainda não se encontrava em uma posição horizontal. Ao seu redor, era como se o céu acompanhasse-lhe o sofrimento e tingisse a sua ferida aberta como carne; vermelho que risca, corta e marca.
Os minutos passam devagar para que se chegue ao final da batalha, mas de forma rápida demais para se possa ter alguma reação contra o inimigo. O silêncio da disputa é insuportável: não há gritos, nem lamentos, nem vibrações. Apenas uma voz calada envolvendo os adversários e cobrindo-lhes de mistério e de agonia. As cores da ferida vão mudando de tonalidade, como se estivessem a ser cozidas: tornam-se amareladas, púrpuras, amarronzadas... E ele continua a cair, a ir flutuando, descendo até onde se possa enxergar e de repente, pesa sobre o horizonte.
É o fim. Ele perdeu. Ficará sepultado no pico de alguma montanha ou no fim de algum mar. Sombras pairam sobre a Terra para carregar-lhe a alma que lhe resta e com ela em mãos, passeiam por entre ruas, becos e labirintos. As sombras usam máscaras e nunca mostram o seu rosto; apenas derrubam o seu inimigo para sentirem-se poderosas por toda uma noite.

venerdì 18 giugno 2010

A Fuga de Pulcinella


por: Gianni Rodari ("Fábulas Ao Telefone")
tradução: Bruna Galvão

Pulcinella era a marionete mais inquieta de todo o velho teatro. Tinha sempre que protestar, seja porque no momento do espetáculo preferira passear, seja porque seu manipulador concedera-lhe uma parte cômica, enquanto ele preferira uma dramática.
-Qualquer dia destes- dizia em segredo a Arlecchino- corto a corda*! E assim fez, mas não durante o dia. Uma noite, ao conseguir tomar posse de uma tesoura esquecida pelo manipulador das marionetes, cortou de um topo ao outro os fios que lhe prendiam a cabeça, as mãos e os pés e propôs a Arlecchino:
-Vem comigo.
Só que Arlecchino não queria saber de separar-se de Colombina e nem Pulcinella tinha a intenção de ir atrás daquela manhosa, que no teatro, tinha-lhe pregado cem mil peças.
–Irei sozinho! - decidiu. Lançou-se corajosamente rua a fora e pernas para que te quero!
“Que beleza -pensava ao correr- não sentir mais os puxões daqueles malditos fios em lugar nenhum. Que beleza meter o pé bem aonde se deseja”.
O mundo, para uma marionete solitária, é grande e terrível e habitado (especialmente à noite) por gatos ferozes, prontos a se confundirem com qualquer coisa que fuja como um rato, a qual se dá a caça. Pulcinella conseguiu convencer os gatos- que se metiam com um bom artista- e lorota após lorota, refugiou-se em um jardim, encostou-se em um pequeno muro e ali adormeceu.
Acordou com o nascer do sol e tinha fome. Porém, ao seu redor, até onde a vista alcançava, não havia mais do que cravos, tulipas, zínias e hortênsias.
-Paciência- falava para si Pulcinella e ao colher um cravo, começou a mastigar-lhe as pétalas com uma certa indiferença. Não era como comer uma bisteca grelhada ou um filé de peixe pérsico: as flores têm muito perfume e pouco sabor. Entretanto, para Pulcinella aquilo parecia o sabor da liberdade e, na segunda bocada, estava seguro de nunca ter provado comida mais deliciosa. Decidiu permanecer para sempre naquele jardim e assim o fez. Dormia sob uma grande magnólia, cujas duras folhas não temiam nem mesmo às fortes chuvas, e se nutria das flores: hoje um cravo, amanhã uma rosa. Pulcinella sonhava com montanhas de espaguetes e planícies de muçarelas, mas não se rendia. Tornava-se seco, seco, mas tão perfumado, que a todo instante abelhas pousavam em seu corpo para sugar-lhe o néctar e logo afastavam-se frustradas, pois não conseguiam afundar o ferrão na sua cabeça de madeira.
Veio o inverno. O jardim, agora sem flores, esperava a primeira nevasca e a pobre marionete não tinha mais nada para comer. Sem dedos que pudessem recomeçar a viagem: as suas pobres pernas de madeira não suportariam levá-lo para longe.
“Paciência,- falava para si Pulcinella- morrerei aqui. Não é um lugar feio para se morrer. Além do mais, morrerei livre: ninguém poderá prender um fio à minha cabeça, para me fazer dizer sim ou não.”
A primeira nevasca o sepultou abaixo de uma mórbida coberta branca.
Na primavera, naquele exato lugar, nasceu um cravo. Soterrado, calmo e feliz, Pulcinella pensava: “ Eis que acima da minha cabeça cresceu uma flor. Existe alguém mais feliz do que eu?”.
Porém, não estava morto, porque as marionetes de madeira não podem morrer. Ainda continua soterrado, só que ninguém sabe disto. Se vocês pretendem encontrá-lo, não amarrem nenhum fio em sua cabeça: aos reis e rainhas do teatro, este fio não incomoda, mas a ele, pode fazê-lo sofrer.


*cortar a corda: 'tagliare la corda'(no original) é uma expressão idiomática que significa “ir-se embora”. No texto é utilizada em forma de trocadilho, devido ao fato de Pulcinella ser uma marionete (consequentemente, presa por cordas).

Gianni Rodari, "Favole al telefono",Einaudi, 1962