Cos'è?



lunedì 19 settembre 2011

Como se tornar um brontossauro


Três camaradas estavam em um rodízio vegetariano. Conversavam alegremente enquanto comiam beterraba com salsinha, tomate com cebola e coentro, rúcula e coxinha de jaca.
-Coxinha de jaca?!
-Sim, coxinha de jaca. Uma adaptação da receita, que substitui o frango pela jaca, explicou um dos garçons.
-Ah, sim! Sendo assim... E continuaram a saborear os pratos e a deliciar as coxinhas de jaca.
-Mais pepino, senhores?, perguntou subitamente o garçom.
-Sim, claro!, responderam dois dos três amigos, ao que o terceiro disse:
-Para mim, não muito. Você sabe, preciso deixar espaço para a lasanha de berinjela!!!, e deu um pequeno tapa no ombro do garçom, que saiu sorrindo.
A lasanha de berinjela não demorou muito a chegar (e estava uma delícia, segundo os três amigos). Aliás, berinjela era um dos destaques do rodízio: vinha na forma de lasanha, de fritura, grelhada com queijo, ou cortada em cubos com azeite.
-A berinjela pode até fazer sucesso, mas nada se compara a este suflê de espinafre, disse um dos rapazes.
-Você come suflê de espinafre a semana toda, Marcelo, e ainda pensa em comer aqui?, indignou-se um deles.
-Pois fique sabendo que o meu suflê de espinafre faz o maior sucesso com as garotas, ao contrário do seu bolinho de arroz, respondeu Marcelo dando risada.
-É verdade, Ricardo. A Sara e a Renata quase morreram comendo os seus bolinhos, acrescentou Flávio, o outro amigo, entre gargalhadas.
Ricardo ficou quieto, um tanto quanto sem graça, porque era verdade que era um péssimo cozinheiro de bolinhos de arroz. Para fingir que não estava nem aí para os comentários dos amigos, resolveu mudar de assunto:
-Cadê a salada de alface que nunca vem?
-Isto eu não sei. Mas olha só o que está chegando!, apontou Flávio.
-Os senhores aceitam batata recheada com quatro queijos?, ofereceu o garçom.
Os amigos ainda se empanturraram com a couve refogada, com quibebe de abóbora, mandioca frita, creme de cenoura e com trouxinhas de palmito.
Meia hora depois, estavam tomando um cafezinho na entrada do restaurante. Pagaram a conta e saíram. Saciados como estavam, lembravam brontossauros após a refeição.

martedì 6 settembre 2011

O sotaque brasileiro de Ammaniti



“Te pego e te levo embora” foi o que li na capa de um dos livros de Ammaniti. E assim o fiz. Peguei o livro, paguei 10,50 euros e o trouxe para o Brasil. A longa distância que separa a Itália do Brasil não se resume apenas à geografia, mas de certa forma, atinge também, o mercado editorial. “Ti Prendo e Ti Porto Via” (Mondadori, 2011, 452 páginas), lançado a primeira vez em 1999, é um dos principais livros de Niccolò Ammaniti, um nome de grande força na literatura italiana atual. Entretanto, não tem tradução no Brasil. Dizem, que o cantor de pop-rock Vasco Rossi escreveu a canção “Ti Prendo e Ti Porto Via” inspirado no livro, que continua sem tradução no Brasil. Mas justiça seja feita: em terras brasileiras, Ammaniti possui ao menos dois livros traduzidos: “Não Tenho Medo” (Companhia das Letras, 2003, 216 páginas) e “Como Deus Manda” (Bertrand Brasil, 2009, 436 páginas), dois títulos de destaque em sua obra, que além de romances, também possui contos e outros formatos.
Apesar da disparidade que existe entre ser muito traduzido no exterior (em cerca de 45 países) e pouco conhecido no Brasil, Ammaniti tem um quê de brasilidade... Uma coisa tropical que agita os ventos de inverno, um tempero nas palavras que sacode a imaginação, uma coisa cômica e triste, agitada e calma, irreverente, inteligente, emocionante, sarcástica e sentimental, tal como as linhas do mineiro Fernando Sabino ou do gaúcho Érico Veríssimo. Poderia citar uma boa dúzia de autores brasileiros que trazem como características da literatura brasileira o reforço de suas terras, a regionalização, a vida... E como há vida em “Ti Prendo e Ti Porto Via”! Nada daquela coisa francesa e fria do meramente descrever, em que se sente um abismo entre a personagem e o seu autor. O italiano Ammaniti dá vida às suas criaturas, transformando-as em seres que pensam e agem por si sós. O centro da trama é a pequena cidade de Ischiano Scalo, que apesar de não existir em um mapa real, pode ser visualizada rua a rua pelos leitores; pode-se até mesmo sentir asco do “esconderijo” do menino Pietro, uma lagoa cheia de salamandras, serpentes e insetos.
É a visualização de um “paesino” italiano, que realça muito da cultura daquele país, inclusive as mais clichês, como o gosto pelas massas. É a pintura de suas paisagens, de um país ocidental em fins do século XX; é a maneira italiana de festejar, de agir e de falar: tal qual a Belo Horizonte de Sabino, com a sua “mineirice”. E tudo isto escrito com tamanha naturalidade, que atinge a perfeição do contexto, sem torná-lo meramente vulgar ou frio, mas deixando-o na medida certa (assim como fez o nosso mineiro tantas vezes).
Desde que Dom Casmurro foi lançado, há mais de cem anos, o já lendário Machado de Assis vem causando nós na cabeça de muita gente. Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? “Ma, dái!”, diriam os italianos. Faça-se um perfil psicológico da personagem! Somente Ammaniti poderia responder, em uma entrevista, se leu este clássico machadiano (antes de tudo, brasileiro), mas o fato é que em “Ti Prendo e Ti Porto Via” as personagens também têm um aspecto psicológico muito forte. Para contar os impasses de Pietro, Graziano e Flora, Ammaniti cria um punhado de bons personagens, cujas características de personalidade são muito bem definidas, mas que em contato ao meio social, dão novos ares ao psicológico de seus portadores, como acontece na vida fora dos livros. Os humanos deste livro, bem como tantas pessoas fictícias ou reais, são impulsionados pelo meio e, muitas vezes, deixam traços pelo caminho. Marcas como as deixadas no final trágico por Pietro e Graziano: nos outros e em si mesmos.
A literatura de Ammaniti se aproxima ainda mais do Brasil quando ele se lembra da existência deste país sul-americano. Alguns breves exemplos: um cachorro fila-brasileiro, uma das andanças do músico Graziano em plena favela carioca (com muitos perigos, claro!) e o que poderia ser a melhor “brasilidade” de Ammaniti (ou melhor, de Graziano): enquanto faz amor com Flora, Graziano canta em seus ouvidos: “O minha macona, o minha torcida, o minha flamenga, o minha capoeira, o minha maloka, o minha belezza, o minha vagabunda, (...) minha galera, o minha capoeira, o minha cashueira, o minha menina”. É certo que a música “Minha Galera”, apesar de ser em português brasileiro é cantada pelo francês Manu Chao... Mas ao assistir a cena, percebo que Graziano-Ammaniti canta esta música da mesma forma que se fazem, por aqui, telenovelas “italianas”: com um sotaque um tanto quanto engraçado e irreal.