Cos'è?



lunedì 29 ottobre 2012

Uma estrela caiu na minha coca-cola



Foi com um grito contido que anunciei ao mundo que uma estrela caíra no meu copo de coca-cola.

Era um final de tarde, desses de horário de verão, em que às 7h da noite, ainda é possível ver a cara do sol. Lá estava eu em um parque, sentado em um banco em pleno gramado, a contemplar um lago verde-musgo a minha frente. O copo de coca-cola gelava os meus dedos (que deliciosa sensação!) e no meio de um suspiro, ao me lembrar que uma segunda-feira me esperava em poucas horas, olhei para o céu, que ainda estava claro, e lá no alto, vi uma pequena estrela, a única a brilhar sobre o parque naquele instante. Voltei meu olhar para o lago verde-musgo e de repente, ploft!: algo caiu no meu copo de coca-cola. Por sorte, ele não estava completamente cheio, e por isto, as gotas que pularam, não me molharam. Para a minha surpresa, encontrei na minha bebida não um besouro, nem uma mosca ou pernilongo, mas sim, uma estrela.

Foi neste momento que o meu grito forte e mudo explodiu dentro de mim e seus estilhaços se espalharam pelo parque, sem que nenhum dos presentes desse atenção a mim e ao fato. Olhei para o céu e vi que faltava a estrela que havia visto há poucos segundos. Ela desgrudara-se do céu e caíra no meu copo. Mas como? Sempre pensei que estrelas fossem esferas de gás, cuja luz viaja milhões de quilômetros para chegar à Terra. Além disto, se as vemos pequeninas, é porque na realidade, são gigantescas bolas de calor e luz que se encontram muito distantes de nós. No entanto, o que vi em meu copo foi uma minúscula estrela de cinco pontas, tão pontiaguda quanto os espinhos de uma roseira e tão brilhante como os olhos de um esperançoso. Repousava com calma no fundo do copo, como se ali pertencesse, e da mesma forma que as estrelas-do-mar, balançava-se suavemente com as ondas criadas por mim ao sacudir o copo.

Como perdi a vontade de beber a minha coca-cola, fui para a casa, a fim de avaliar melhor a estrela em meu copo- que por sinal, estava pesadíssimo. A noite chegou e com ela, as demais estrelas. Entretanto, o lugar onde eu vira a estrelinha ainda no céu azul, estava vazio e silencioso: uma estrela calara-se ali. Sei que as estrelas morrem, mas daí, a tentar suicídio em meu copo de coca-cola, é uma ousadia um tanto quanto bizarra! Quando cheguei em casa, ela se mantinha quieta no fundo do copo, sem me parecer morta.

Com uma pinça, pesquei a estrelinha do fundo de meu copo e para aumentar a minha surpresa, vi que ela era transparente como um cristal. Coloquei-a na palma da mão e mais uma vez constatei que não era leve: pesava como um pedaço de ferro. Suas pontas feriram-me a mão, mas seu brilho reluzente encantou-me os olhos.

Então me lembrei do poder da coca-cola como adstringente. Na minha juventude, minha mãe sempre me dizia "cuidado, menino, com a coca-cola! ela faz mal ao estômago" e pegava minhas garrafas e latinhas de coca na geladeira para esvaziá-las em alguma pia ou privadas entupidas. Se a coca-cola chegou mesmo a desentupir a privada ou a pia, eu não sei; mas cheguei a pensar, que talvez, os componentes da coca tenham derretido a estrela, a ponto de reduzi-la ao tamanho de um grão de arroz.

O problema é que não sou cientista, mas contador e, portanto, não entendo nada de estrelas, galáxias e planetas. Também não conheço nenhum estudioso da área e caso levasse a estrela a alguma autoridade, poderiam tomar-me como lelé.

Nas semanas que se passaram desde então, conservo a estrela em um cinzeiro. Apesar de não mais fumar, o cinzeiro manteve-se na minha mesa da sala e agora, creio ter encontrado uma nova finalidade para ele. Todos os dias, quando chego do trabalho, vejo o raio de luz que sai da estrela e que se reflete no forro, sem perfurá-lo. Um pequeno ponto de luz forma-se no forro, como se ali houvesse um novo céu. É quando afrouxo o nó da gravata e corro a encher um copo com coca-cola, para em seguida, sentar-me no sofá e apreciar a estrela e o seu “céu”. Penso em infinitos e em insignificâncias. Penso no universo e no meu lar. Minha sala se enche de luz e minha vida solitária, também. Dou um gole em minha coca-cola.

Confesso que fiquei traumatizado com o tombo da estrela em meu copo de coca-cola. Imaginem se ela me cai na cabeça, o galo que formaria? E se me cai no olho, enquanto estivesse a observá-la no céu? Esmagar-me-ia a retina! Assim, com tamanho medo de que alguma outra estrela me atinja, passei a andar pelas ruas com um capacete de pedreiro e também com um guarda-chuva revestido a couro. Obviamente, chamo a atenção das pessoas com o meu novo look e no trabalho, já me apelidaram de "prevenção", ainda que não saibam do quê me previno. Eu não ligo; afinal, nunca se sabe quando uma estrela pode cair.

Minha consciência segue tranquila, pois aquele dia, avisei a todos com meu grito lá no parque do que acontecera. Mas as pessoas não me deram atenção: elas nunca ligam para coisas importantes, ainda que sejam anunciadas a gritos mudos. Uma estrela caiu no meu copo de coca-cola e o quê importa? Se nem todos observam as estrelas, como poderiam sentir a falta de uma? Aposto que se uma coca-cola atingisse uma estrela, todos falariam. “O poder da coca (não necessariamente o de desentupir privadas e afins) conquistou as estrelas”, diriam. Mas uma coca-cola ser conquistada por uma estrela? Nunca! Dessa forma, continuo a me prevenir. Até porque, por que se importariam se uma nova estrela caísse sobre mim?