Cos'è?



mercoledì 15 agosto 2012

O jeito burro de ser besouro


Não sei por que, mas aonde vou, encontro aquelas criaturinhas negras e de patas pegajosas, os besouros. Apesar de gostar de observá-los, confesso que há algo neles que me incomoda: como são idiotas! É óbvio que se fossem mais inteligentes, talvez não fossem besouros, mas quem sabe, cachorros, cavalos ou até burros. Eis aí outra coisa que me incomoda: se alguém tem pouca inteligência, é burro. Se faz algo estúpido, é burro. Se não entende a piada, é burro com certeza. No entanto, se o besouro é muito mais burro que o burro, por que não chamar os seres burros de besouros? Por que não dizer “como é besouro!”, ao invés de “como é burro!”?

É certo que o burro carrega cargas muito maiores do que pode suportar e nunca reclama de nada. Mas, quem é que quando cai fica com as perninhas para cima a se chacoalhar infinitamente? Quem é que segue em linha reta, somente pelo fato de ir, sem nem saber para onde vai? Quem é que se agarra ao primeiro objeto a sua frente, seja ele uma folha ou um palito de fósforos, sem imaginar para onde será levado?

Não que eu seja uma defensora dos burros (não faço parte de ONG alguma), mas o comportamento dos besouros é algo deplorável! Quantas vezes tentei salvá-los de um perigo, quando um de seus representantes caminhava a passinhos rápidos e sem rumo no meio da sala de estar? E o que eles fizeram (coloco no plural, pois todos têm a mesma atitude)? Ignoraram o apoio que tentei lhes dar! Preferiram continuar a caminhar sem rumo e correr o risco de serem esmagados por um gigantesco sapato, quando poderiam ser levados em segurança para os gerânios na jardineira! Isto sem contar quando tentei tirá-los da situação constrangedora de permanecer com as seis patas para cima em movimento. "Como se o mundo estivesse de cabeça para baixo", eles poderiam se justificar, ao tentarem uma desculpa esfarrapada para a situação. Mas não, são muito burros, digo, besouros para isto... Preferem continuar com as perninhas para o ar enquanto tentam desvirar o corpo sozinhos, a aceitar a minha mão amiga. Como são orgulhosos os besouros!

Por tudo isso, sou a favor de substituir o termo "orelhas de burro" por "cascas de besouro". Nos meus tempos de menina, quando as escolas tinham maneiras rígidas de ensinar e, até mesmo, de educar os alunos (estou informada de que hoje as escolas ensinam e os pais educam, conforme li em alguma rede social), ai daquele que não respondesse corretamente a tabuada ou que não tivesse feito o dever de casa! Era orelha de burro na certa! O coitadinho era obrigado a usar um cone na cabeça, que representava as orelhas do burro, e assim ficava até o término da lição (por sorte, nunca passei por isto, aluna aplicada que era). Enfatizo que uma casquinha de besouro seria muito mais apropriada para a situação: ao contrário de se imaginar com rabo e com grandes orelhas a percorrer uma estradinha, o aluno indisciplinar poderia imaginar a si próprio com cascas e antenas, a tentar desvirar o próprio corpo, enquanto pedalaria uma bicicleta imaginária para cima.

Sei que posso ter sido cruel com este exemplo, mas justiça seja feita, não é mesmo? Para reforçar o quão injustiçados são os burros em nossa sociedade, cito um novo exemplo, que me veio agora à mente: há alguns dias, estava eu em meu quarto a ler um livro de contos e recordo que me divertia muito com as histórias. Era já noite e nada melhor do que ficar quentinha na cama a devorar um livro. Bem, a certa altura, quando desviei momentaneamente o meu olhar do livro, o que vejo? Um besouro a caminhar pelo forro do teto! O burrinho (me desculpem a força de expressão!) queria chegar perto da luz emitida pela lâmpada, mas para isto, teria que enfrentar a fúria de minúsculos (quase invisíveis) mosquitos que ali estavam. Sei que o nosso inteligente herói andava um longo pedaço em linha reta, até se deparar com os horríveis mosquitinhos, que mostrando suas máscaras negras, o espaventavam. Então, o besouro retornava pela mesma linha reta, até se dar conta de que chegara novamente à parede, o que significava, em seu cérebro de besouro, que deveria retornar à lâmpada.

Eu, que li muitas páginas do livro, perdi a noção do tempo de quantas vezes o besouro foi de lá para cá. Até que, cansada daquela imbecilidade, apaguei a luz e fui dormir. No dia seguinte, não havia besouro e nem mosquitinhos no forro do meu quarto e, quem sabe, o besouro tenha sido devorado pelos mosquitinhos em um ritual sangrento, sem nem ao menos ter se dado conta disto até agora.


Imagem: Judite Pimentel