Cos'è?



martedì 9 agosto 2011

Crônica de um lugar distante


Certa volta, pegou o avião e foi parar em Londres. Mas Londres não era o seu destino e por isto, pegou outro avião e mais um carro para chegar a um lugar entre flores, nos arredores do Mar Adriático. Uma cidadezinha pequena, com imóveis antigos e ruas de pedras e que abriga em uma praça a torre de um castelo. Um certo Raimundo tem o seu nome envolvido na história da cidade e da torre, mas isto foi há tanto tempo, que hoje se pode contar até 700 anos!
O mês era somente julho, em seu quarto dia. Tal como o sol de verão que brilhava no céu e queimava a sua pele branca, julho também prometia um certo brilho especial: afinal, era a sua primeira vez em uma experiência daquelas. Olhava para todos os lados e via punhados de colinas que não se cansavam de subir e de descer. Muitas carregavam nas costas campos de girassóis que reluziam no horizonte. Por baixo da ponte que separava a sua residência provisória do resto da cidade, passavam os trilhos do trem: linhas e linhas de conexões com outros destinos.
Com o passar dos dias, descobriu ruas com tapetes em folhas, jovens praticando esportes, sorvetes de sabor especial, noites de música, termômetro que marca vinte e oito graus às onze da noite, idosos que observam, vaga-lumes que iluminam seratas, massas suculentas e um riacho que corta um endereço. De repente, silêncio. Quando a noite já era velha, só restavam os bares para se divertir. Só mesmo no "alemão" ou no "londrino", com suas decorações de "pub" para se encontrar com os novos amigos.
Mas se o dia amanhecia, ah, deixava a preguiça de lado! Lições de uma língua na qual tem um certo conhecimento, aliadas a conversas, caminhadas, cantorias e cochichos. Escadas que a empurravam para cima e para baixo, jardins de estudos e animais de estimação.
Pensava no tempo que corria e nas cinco horas à frente em que vivia; pensava nos minutos que passavam e nos segundos que viriam; colhia horas de expectativas e guardava nos bolsos da memória cada flash de instante. Era feliz. Uma felicidade provisória, era certo, mas qual felicidade é eterna? Qual felicidade é perfeita?
Nas fotografias e vídeos, o momento se eternizou. Nos papéis, a marca de um punho em vida. Ponto.
Pronto. Chegou a hora de partir. A manhã era calma e lembrava recordações. Por trás dos vidros do carro, viu dois amigos, um senhor e um cachorro se afastarem até ficarem tão pequenos que sumiram. Viu a ponte e as ruas e as árvores e o bar... Viu os girassóis que continuavam sob o sol, mas sobre as montanhas. E acima de tudo isto e debaixo de um novo sentimento, pegou a estrada e se foi.

lunedì 8 agosto 2011

Valores*



Valorizo a amizade inesperada e se espero alguma coisa, não é mais do que uma noite de estrelas.
Valorizo as fotos das crianças que têm imortalizadas a inocência em seus retratos.
Valorizo as palavras que dizem sem nada dizer, os cheiros que aguçam os sentidos, os toques que arrepiam a pele e os olhares que se encontram.
Valorizo o pôr-do-sol e os livros e todas as minhas e as suas recordações.
Valorizo as cartas de papeis amarelos cujas linhas pararam no tempo.
Valorizo as pegadas na areia, as risadas contidas, as balas de menta, a abelha que me persegue quando tenho um sorvete.
Valorizo a terra molhada e os girassóis.
Valorizo um relógio parado, um bilhete amassado, a comida fria e o adeus.
Valorizo o amor e os dias de chuva que trazem chuva ao coração.
Valorizo os cães da minha infância, a joaninha que faz detalhe na folha, a bicicleta da menina, assim como valorizo tudo o que conquistei.
Valorizo aquilo que não sei se terei.

*paródia do seguinte texto:

Valore

Considero valore ogni forma di vita, la neve, la fragola, la mosca.
Considero valore il regno minerale, l'assemblea delle stelle.
Considero valore il vino finché dura il pasto,
un sorriso involontario,
la stanchezza di chi non si è risparmiato,
due vecchi che si amano.
Considero valore quello che domani non varrà più niente e quello che oggi vale
ancora poco.
Considero valore tutte le ferite.
Considero valore risparmiare acqua,
riparare un paio di scarpe,
tacere in tempo, accorrere a un grido,
chiedere permesso prima di sedersi,
provare gratitudine senza ricordarsi di che.
Considero valore sapere in una stanza dov'è il nord,
qual'è il nome del vento che sta asciugando il bucato.
Considero valore il viaggio del vagabondo,
la clausura della monaca,
la pazienza del condannato, qualunque colpa sia.
Considero valore l'uso del verbo amare e l'ipotesi che esista un creatore.
Molti di questi valori non ho conosciuto.

Erri De Luca (da “Opera sull'acqua e altre poesie”, Einaudi, To, 2002)