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giovedì 13 settembre 2012

Os 70 anos do intenso Zorba

Anthony Quinn e Alan Bates interpretam Zorba e o escritor no filme homônimo de Michael Cacoyannis, de 1964



Quando o cardápio é a literatura, é fato que existem livros para serem degustados e outros para serem devorados. No caso de “Zorba, o Grego”, uma degustação para os que têm um paladar delicado cairia muito bem, já que a obra é repleta de pequenas grandes frases. Por outro lado, o livro é um prato-cheio para os que têm uma imensa fome por páginas intensas, onde o sabor varia de doce a ácido com rapidez. Um bom vinho acompanha bem a ambas as leituras, pois assim, pode-se sentir com maior prazer o gosto encantador da Grécia.

Lançado em 1942, esta é a obra mais conhecida do escritor grego Nikos Kazantzakis (1885-1957). É com o fervor de quem lutava pela vida após descobrir-se com leucemia que Kazantzakis escreve. Assim, fala sobre a sua Creta, sobre guerras em seu país, sobre lugares distantes, sobre pessoas e suas vidas. Segundo o posfácio de uma edição de 1973, pela Editora Círculo do Livro (ao longo dos anos, “Zorba, o Grego” foi editado várias vezes no Brasil), talvez, esta seja uma das épocas mais produtivas do autor: como se “a pressa o impelisse a escrever mais e mais”.

Mas nem as guerras, nem os lugares, nem todas as pessoas são o tema central da história, que aborda algo muito mais belo e humano: a amizade. É a amizade entre Zorba, um sessentão rústico em educação (escolar), mas com uma sensibilidade incrível pela vida e um jovem escritor, com uma grande sensibilidade pelas letras, mas rústico pela vida que move a história desses dois homens, desses dois mundos. A dualidade transpassa ao leitor (que deve se sentir mais na pele do escritor do que na de Zorba) um sentido cru da vida. É a inteligência, o bom humor, a habilidade para produzir e sair de problemas (“a vida é encrenca, só a morte é sossego”), além das tristezas do grego Zorba que conduzem o leitor ao estado bruto de uma massa aparentemente sem sentido, que como uma pedra, só deixa a sua condição vazia de pedra ao ser observada com cuidado e ter uma utilidade.

Para se compreender o estado de hilaridade e de multiplicidade facetada do personagem, é melhor deixá-lo se apresentar sozinho: “Alexis Zorba. Me chamam ‘Pá de Forno’, de brincadeira, porque sou magro e de cabeça comprida. Mas podem falar! Me chamam ainda de ‘Passatempo’, pois durante algum tempo vendi caroços de abóbora torrados. E também de Míldio, por toda parte onde estive, pois parece que faço muitos estragos. Tenho ainda outros apelidos, mas isso fica para outra vez...”.

Esta personalidade divertida do personagem foi inspirada a partir de um outro Zorba, tão real e inesquecível para Kazantzakis: Georges Zorba. Conta-se que Kazantzakis conheceu Georges Zorba por acaso, em 1917, e que um dia, tentou explorar com este, uma mina de linhita: eis a base do enredo da obra, que faz do personagem-escritor um patrão (não no sentido estrito da palavra) do personagem-Zorba. O detalhe é que tanto no livro, quanto na realidade, a exploração da mina foi um completo desastre do ponto de vista econômico, porém riquíssima em termos de experiência de vida para os dois “escritores”.

Ao retratar um pouco da vida do povo de Creta nas primeiras décadas do século XX, Kazantzakis põe em evidência alguns dos fantasmas de outros séculos (trazidos principalmente devido a guerras) que assombraram muitos de seus moradores. A população, fechada em seus costumes e tradições, é representada por personagens como Mavrandoni, tio Anagnosti, além da cobiçada viúva: nenhum deles, em momento algum, abre mão de seus princípios, sejam estes a recepção de visitantes, a busca (ainda que violenta) por justiça ou o distanciamento do que é repugnante. O contraste com o modo de vida tradicional cretense fica por conta da francesa Madame Hortense, também intensa e apaixonada pela vida, e que na juventude, percorreu meio mundo através dos bordéis em que trabalhava, antes de passar a velhice em Creta e tornar-se dona de um hotel (e interessar-se por Zorba, que não sabia dizer “não” a ninguém da “espécie fêmea”).

A atmosfera da história é completada com o santuri, um instrumento de cordas, que nas palavras de Zorba, possui alma própria. Sua música ecoa pelo mar e pelas colinas, até chegar aos ouvidos do leitor, que neste momento, já está totalmente absorvido pela vida na ilha e digere com afinco seus frutos (independente se é do tipo “degustador” ou “devorador”). Na confusão de sons, o aventureiro Zorba (que por ser uma figueira, não consegue dar cerejas) diz: “Ou a Terra tem que diminuir, ou eu tenho que aumentar”.

As páginas passam, as estações mudam, o escritor aprende a dançar com Zorba, estes se separam, os anos correm e Zorba, um dia, morre. Seu animal selvagem (ou o seu santuri) é deixado de herança ao escritor, que relata em um papel as conversas, os gestos, os risos, as lágrimas e as danças de Alexis Zorba (ou se deve dizer aqui Georges Zorba?). “[Deus] deve olhar para mim das alturas e se torcer de rir”, comenta Zorba (e já pouco importa qual deles) sobre a sua vida.