Cos'è?



mercoledì 23 febbraio 2011

Trevas, por onde andas?



Corpos maltrapilhos que se levantam de seus túmulos; lords refinados que dormem em caixões. Não importa a forma, a sede por sangue é a mesma ao longo dos séculos- tempo este que nunca deixou de ter em moda estes fantásticos seres mitológicos: os vampiros.

Lançado em 2010, o livro “Contos Clássicos de Vampiros- Byron, Stoker e outros” (Editora Hedra, 266 páginas) com tradução de Marta Chiarelli e introdução de Alexander M. da Silva, resgata com elegância um pouco dos primórdios do tema, exemplificando-o com autores consagrados no assunto, tais como Lord Byron, Bram Stoker, John Polidori, Theóphile Gautier e M.R. James.

O vampirismo, questão tão debatida na atualidade com seus vampiros adolescentes, nada mais é do que um dos mitos mais antigos da humanidade. Eis aí a primeira surpresa nos leitores que ainda pensam no surgimento do tema com os dráculas da Transilvânia. Mero engano... Logo na introdução, Alexander da Silva despe o vampiro e o mostra em suas origens: este ser que habita o imaginário humano existe há tão longos séculos e está presente em tantas culturas diversas (das ocidentais às orientais) que se torna um obstáculo desmascará-lo de uma única e exclusiva vez.

Talvez pela dificuldade de enquadrá-lo em algo tão simplório e objetivo que o vampiro tenha conseguido o destaque e a importância adquiridos ao longo dos anos- e que anos! Por muito tempo, intelectuais das mais importantes potências, como Inglaterra e Alemanha, dedicaram-se ao estudo do ser que causava pânico entre a sociedade e que era acusado de muitos ataques e homicídios. Mas como acreditar em mortos que ressuscitam de suas tumbas em busca de vingança pela morte tida? Obviamente, os estudos levaram a conclusões científicas que não foram suficientes em liquidar com o mito. A Europa dos séculos XVIII e XIX vivia uma Revolução Industrial e por consequência desses avanços, seus principais estudiosos não podiam acreditar em ditos populares. Entretanto, a lenda dos vampiros continuava em suas mentes: assim, os estudiosos-escritores deram o próprio sangue para produzir no papel muitas histórias vampirescas- que se petrificaram no “primitivo leste europeu”, onde os relatos de vampiros eram ainda mais fortes e creditados pela população. Deste imaginário e contexto, surgiu a mais famosa obra sobre vampiros: “Drácula” (1897), escrita pelo irlandês Bram Stoker, mas cuja introdução foi abolida pelos editores, por deixar a obra muito extensa. O resgate do texto, na atualidade, foi feito pelos responsáveis de “Contos Clássicos de Vampiros” sob o título “O Hóspede de Drácula” (1914).

Se por muito tempo o vampiro não passava de um morto-vivo em farrapos que vinha, por vingança, sugar o sangue dos vivos, na literatura do final do século XVIII, como produto histórico-cultural, isto mudou. Agora, ele é um “ser sofisticado e angustiado por dúvidas existenciais”; pode-se até dizer que “o vampiro vem se adaptando para refletir a angústia das sociedades nas quais ele se insere”. Obras como a de Stoker fazem contestações do período vivido (neste caso, o século XIX), incluindo às que dizem respeito às mulheres: “ Em uma época quando os papéis sociais reservados às mulheres eram apenas os franqueados por meio do matrimônio e da maternidade, o ataque do conde vampiro às personagens Lucy Westenra e Mina Murray se configura como uma ameaça ao status quo da rígida sociedade vitoriana visto que, ao se transformarem em vampiras, elas abandonam a sua condição futura de esposa e mãe e se transformam em mulheres sexualmente ativas, algo inconcebível para a moral da época” escreve Da Silva.

O questionamento de valores se quebrou com a passagem do tempo, fazendo do vampiro um ser alienado e, de certa forma, marginalizado. Mas tais fatores são relativos aos vampiros de hoje, que se acoplam ao social pelas veias da atual juventude: esta deixou de contestar o presente? Deixou de dar importância a certos valores? Certamente que não. O que mudou é a maneira de fazê-lo e o vampiro moderno é somente um torto reflexo (de um espelho, desta vez) de muitos jovens. Porém, como diria o próprio Da Silva, “ainda é cedo, todavia, para avaliar o impacto da série [Crepúsculo-2005] sobre a longa tradição da literatura de vampiros”, refere-se à obra de sucesso da americana Stephanie Meyer.

Pelas páginas de “Contos Clássicos de Vampiros”, o leitor se depara com os mais variáveis seres da espécie. Há histórias interessantes como “Porque o Sangue é Vida” (1905), de Marion Crawford; misteriosas, como “Um Episódio na Catedral” (1931), de M.R James; ousadas, como “A Morta Amorosa” (1836), de Theóphile Gautier e desengonçadas, como “O Vampiro” (1819), de John Polidori. Isto sem falar nos textos de Filóstrato (“Vida de Apolônio de Tiana” (?)), Heinrich August Ossenfelder (“O Vampiro”-1748), Johann Wolfgang von Goethe (“A Noiva de Corinto”- 1797) e Samuel Taylor Coleridge (“Christabel”- 1795/1816), que dão charme ao tema ao instigarem o leitor a pensar em mistérios e fantasias: eles não pontualizam o vampiro propriamente, que fica apenas nas trevas das palavras; são breves passagens de um enigma sedutor e fóbico e que por isto, viraram fontes de inspirações a outras páginas do mito: “Carmilla” (1872) de Joseph Sheridan Le Fanu é uma boa inspiração da “Christabel”, de Coleridge.

Os contos em prosa ou em verso não apenas criam situações pavorosas, mas também contextualizam a maneira de sentir medo da população de todos aqueles séculos. Em um tempo em que as noites eram ainda mais escuras pela falta de energia elétrica, em que cemitérios eram construídos em muitas residências, em que a ciência não tinha muitas das respostas levantadas, como então, justificar mortes, sumiços e barulhos sinistros? Um cenário perfeito para trazer à tona fantasmas e vampiros de outros mundos... Além disso, como explica Da Silva, a morte e o sangue sempre envolveram os seres humanos em curiosidade e respeito, criando assim, a simbologia existente ao redor desses elementos.

Aos humanos que ainda hoje têm preferência (madura) pelo tema, “Contos Clássicos de Vampiros” é uma boa sugestão para o assunto. Tal como uma fotografia, ele retrata o vampiro, deixando a mostra um pouco de seu contexto, história, clima e detalhes. Basta somente correr os olhos por sobre as palavras e enxergar na mente um pouco do que muitos já viveram com este mito.