Cos'è?



venerdì 21 agosto 2009

Diálogos de uma mente em transe



Papel e caneta na mão e alguma ideia na cabeça, se possível. Lá está a caneta a rabiscar o papel, deixando nele sua tinta em formato de palavras. Mas o que são as palavras, a não ser um monte de letras, porventura tortas, que ora sobem, ora descem e que muitas vezes são incompreendidas?
Os pensamentos fluem constantemente e por inúmeras vezes aquele famoso símbolo de uma lâmpada acesa bem acima da cabeça de seu pensador, aparece. Às vezes, a ‘lampadazinha’ permanece acesa por um período de tempo maior, o que dá a entender, que desta vez a caneta que desliza sobre o papel não terá suas palavras arremessadas para dentro da lixeira. Mas que nada! Lá vai mais uma bolinha branca com riscos azuis a misturar-se com as demais.
A lixeira ao lado da escrivaninha está transbordando de ideias mal estruturadas. São bolos e bolos de uma papelada que invade até mesmo o chão. Já não há mais limite para manter as pequenas frases ali escritas. É como se houvesse um grande vulcão, a vomitar com fúria sua lava de papel-palavras. Ainda que deformadas pelo amassamento do papel, tais frases insistem em se mostrar. É possível ver construções quase inteiras, pensamentos quase completos jogados ali. Anotações de uma mente em transe.Quem foi que disse que escrever é fácil?
-Você poderia ter a delicadeza de não me descartar com tanta frequência?- surge uma voz de repente.
-Quem está aí?-pergunta a pessoa que escreve, a caneta a ergue-se na mão.
-Ora, esta! Quem sou eu? Quem mais poderia ser? Sou o seu lado mais criativo e inovador, aquele que te garante prêmios, satisfações e elogios, às vezes, até mesmo uma promoção no emprego também. Não percebe quem sou eu?­
- Não!- responde a pessoa enquanto passa a mão pelos cabelos.
-Veja, sem você eu não poderia existir, assim como, sem mim, você não poderia ter feito muitas coisas. Sou a Ideia!
-Muito prazer, dona Ideia. Mas me diga, por que este tom de repreensão?
- Porque você simplesmente não está me dando o devido valor. Olhe para aquela lixeira, sim, esta mesma! O que você vê?
-Vários papéis amassados dentro e fora dela. Ou seja, nada mais do que lixo.
-Lixo???- responde a Ideia com grande indignação. Você está me chamando de lixo?
-Não a senhora, mas os papéis.
- E o que são os papéis a não ser uma prova documental da minha existência? Eles são a forma que você achou para me materializar. Palavras escritas, pensamentos concretos, isto nada te diz?
Dona Ideia estava realmente brava, ao passo que a pessoa responde:
-Eu não queria ofender a senhora, aliás, nem sabia que fosse possível nos encontrarmos aqui. Eu apenas descartei folhas de um caderno onde cri não ter achado a melhor maneira de começar o meu texto.
-Pois saiba, que ideia alguma deve ser descartada! Todas são válidas como forma de experiências, de melhorar a criatividade e de, portanto, originar novas outras ideias. Se para o momento alguma não foi útil, no futuro bem poderá ser utilizada.
Um silêncio toma conta do lugar. A pessoa que escreve está a pensar. Olha para o papel e para a caneta, que também lhe lançam olhares.
- E então, o que me diz?- fala a Ideia.
A pessoa que escreve está com um ar confuso. Apenas responde:
-Você me disse quem você é, mas não o quê você é...
-Pelo visto, muito preciso explicar a você... Eu sou o que você quer que eu seja. Digamos que sou como o vento a bater nas rochas: através de pequenas inserções, ações e insistências, vou modelando a “rocha”. Depois de um período bem prolongado, ela se torna diferente e única. Entende?
-Acho que sim.
-Mas se você me repreende, me atira e me minimiza, como posso me chamar Ideia?
A pessoa que escreve apenas assente com a cabeça. No final de tudo, o vulcão de papel-palavras parou de ebulir e a lâmpada na cabeça de seu pensador não parou mais de brilhar. Estava a iluminar seus pensamentos e dar cada vez mais luz às suas ideias. Assim, Pessoa e Ideia continuaram a dialogar. Falaram tanto, que inúmeras outras Ideias se juntaram à prosa. Conversaram até extinguirem todas as palavras que pudessem ser ditas.