Cos'è?



domenica 9 agosto 2009

O jornalista invisível

Não foi há muito tempo que as palavras e as imagens começaram a dizer coisas por si mesmas. Na verdade, não faz muito também, que palavras soltas, textos completos, imagens provocativas e leitores individualizados vem misturando-se em um grande e complexo bolo de idéias e de padrões. Não que isto seja algo totalmente ruim (eu jamais pensaria uma coisa destas), mas a maneira como ocorre é com toda certeza, fascinante! Não sei se pela sua rapidez, ou pela mudança de velhos padrões, só sei que ler hoje em dia é muito mais do que simplesmente abrir uma página de um jornal (ou revista, que seja) e acompanhar com os olhos cada frase ali contida. E olha que muito já li em meus quase 80 anos de vida!
A revista a minha frente é chamativa por si só. Trás na capa a sombra de um jovem cabisbaixo. Mesmo não havendo uma fisionomia ali desenhada, sei que a fotografia remete a um garoto em torno de seus 13 anos. Um rapazinho pobre, violento, para quem a sorte não sorriu até o momento e cuja triste vida, o levou a ser capa da revista que está na minha mesa. A fotografia contrasta com um vermelho-sangue chocante, que escorre por todo o papel. As letras grandes amarelas apenas escrevem: “Infância perdida”. Uma imagem comum, para uma capa comum, com um assunto comum, com um tema comum para um leitor também comum. Será?! Eu, economista aposentado, com exatos 43 anos de carreira (a contar de quando comecei a vender pães na venda de meu avô, aos 10 anos de idade), com Marx, Nietzsche, Malthus, Dostoievski, Drummond, sem contar a minha amada Cecília Meireles na cabeça, não posso ser nunca alguém comum. Tenho minhas vaidades, que aliás, são muitas.
Meu olhar passa novamente pela revista. Vejo que há algo mais nela, algum detalhe importante, uma espécie de “dimensão”. Sei que em quase tudo o que vejo há mensagens subliminares, mas neste caso específico, é mais do que isto. Ainda não sei explicar do que se trata, talvez, dando uma olhada com mais atenção em seu conteúdo, eu venha a saber.
Leio toda a reportagem de capa. Há uma enorme contextualização sobre as crianças que se envolvem em crimes, desde os principais motivos para isto, a rotina de vida de muitas delas, as consequências disto para suas vidas e para a sociedade. Um texto interessante, devo dizer. Vejo minha mente fechar-se em milhões de questionamentos sobre o tema, a relembrar momentos em que me deparei frente-a-frente com crianças pedindo esmolas, a lamentar por tudo isto. Muitas de minhas ansiedades estão respondidas, lançadas e projetadas no texto que acabei de ler. É como se houvesse um diálogo entre eu e mais alguém a respeito do assunto. É isto! Aí está a “dimensão” a que me referi! Ela é o próprio jornalista. É ele quem me chama para esta conversa, quem me conduz, quem dialoga comigo. Quando não concordo com o que ele escreve, o que eu faço? Mando uma carta, um e-mail ou ainda, telefono para a redação e dou a minha opinião dos fatos. Mas é claro que isto também serve para elogiá-lo pelo trabalho feito, para dar ideias, sugestões e porque não, correções?
Quando um jornalista expõe a sombra de uma criança em um fundo vermelho, o que ele me diz? Que jovens estão sendo massacrados em uma sociedade desigual. E o que eu respondo a ele? Sim, jornalista, a sua capa chamativa me acorda para este problema. Quando abro a revista e leio a história de vida do ídolo de uma geração que agora está morto, como retorno tamanha consideração pelos fãs? Com palavras tão escritas quanto as que ali encontrei. É assim que o mundo impresso vem a cada dia se mantendo e se reformulando. É como se houvesse um pouco do jornalista enquanto ser em cada frase, em cada fotografia, desenho e gráfico. Ele dá vida, sentido, forma, conteúdo, interpretação para tais elementos... Escrita e imagens falam e ouvem por si mesmas...
Nesta interação entre eu, leitor, e ele jornalista, não há abismos, nem grandes barreiras; porventura, alguns buracos... Mas este último é fato isolado nos dias de hoje, estou certo disto. O que importa é que ele me vê e eu o vejo. Ele sabe exatamente de meus anseios e necessidades, e na minha individualidade, tenta me enquadrar junto com seres tão “Meireilistas” quanto eu. Também sei onde a mídia atua, sua importância e até mesmo, evoluções. Interagir torna-se sinônimo de compartilhar, testar e aproveitar oportunidades e anseios. Nossa troca de informações é diária e constante e isto nos faz pertencer ao mesmo emaranhado de posturas comuns.
O meu bate-papo nesta tarde com os jornalistas da revista de capa marcante, está me rendendo boas reflexões. Mas que falta de educação a minha! Eu, aqui, a conversar e nem ofereci ainda uma xícara de café para estes meus “caros colegas”. E vejam que mal comecei a ler toda a revista! Acho que não se importam em esperar um pouco no sofá, não é mesmo? Eu volto já.