Cos'è?



giovedì 13 agosto 2009

A menina que morava no retrato


Era uma menina como qualquer outra, nem mais alta e nem mais baixa, nem mais velha e nem mais nova. Tinha longos cabelos de mel amarrados como as mães normalmente costumam amarrar os cabelos das filhas: sempre um pouco para cada lado do rosto e com dois grandes laçarotes.
Pensa-se que ela fosse feliz, porque seus lábios esboçavam aquilo que deveria ser o início de um longo sorriso. Um leve repuxar do contorno da boca em suas extremidades dão este ar de uma possível alegria. Não, ela não é a Monalisa de DaVinci, mas bem que poderia ser filha dela, se isto fosse possível. Lábios que brincam com os sorrisos deveriam ser uma característica genética. Afinal, não são todas as pessoas que conseguem manipular um riso e fazer dele algo totalmente duvidoso.
Só que ela esteve ali, o tempo todo presa no interior de quatro linhas retas. Um quadrado muito bem apessoado, como qualquer quadrado, diga-se de passagem, com todas as suas medidas tão simetricamente simétricas que seria impossível notar qualquer milímetro de assimetria. E neste mundo de medidas tão perfeitas morava a menina não-Monalisa de cabelos de mel. O lugar, apesar de rodeado de quatro traços que lembravam horizontes, não possuía nenhum rastro de céu, azul ou vermelho, cinza ou coberto de nuvens brancas. Também não havia ali nem sol, nem chuva ou vento, quem dirá então, um lindo arco-íris! Só uma coisa havia: verde! Obviamente que não era o verde de nenhuma mata ou de uma simples plantinha que fosse... não! Era o verde desbotado de uma velha cortina... E ele ocupava todo o espaço que o corpo da menina deixava vago. Ficava atrás dela, como um guarda-costas, como um segundo observador a olhar constantemente a garotinha.
Com toda a certeza, não devia ser muito aconchegante morar naquele lugar. Afinal, a menina do retrato não brincava de pular corda, nem de correr, nem de amarelinha, nem de nada. Por mais que segurasse uma boneca de cabelos cor-de-rosa no braço direito, nenhuma aventura as duas poderiam viver. Como ser livre quando os horizontes são tão quadrados e tudo é tão verde-desbotado? Como ir para muito além quando o além é logo ali? O que restava fazer, então, a não ser esboçar um pequeno sorriso e olhar somente para frente? Seus olhos melancólicos e castanhos conseguiam enxergar um outro mundo em uma outra dimensão, muito, muito distante de sua realidade. Eram olhos de súplica, que mesclavam curiosidade e atrevimento. A menina não queria que apenas a espiassem em seu pequeno universo; queria também, que dirigissem à palavra a ela. Mas isto, ninguém ousava fazer. Ninguém jamais perguntou a ela o por quê daquela intrigante expressão facial, nem o nome de sua boneca, nem o por quê daquele estranho sorriso. Também não se importaram em saber se ela gostava mais de balas ou chocolates, gatos ou cachorros ou se a cor de sua cortina de fundo a agradava. Apenas a olhavam e cochichavam coisas entre si que ela não conseguia entender. Depois, colocavam a menina e seu retrato novamente em cima da cômoda do quarto. E assim se sucedeu por um longo tempo. Até que um dia, cansada de tudo aquilo, a menina do retrato resolveu-se vingar. Pegou boneca, cortina e quatro horizontes e sumiu. Não acharam mais nada disto na cômoda nem em outro lugar. Nunca mais se soube do retrato da menina e nem da menina do retrato. Espera-se que pelo menos, ainda esteja tentando sorrir.