Cos'è?



venerdì 7 agosto 2009

A hora do eu


Mais uma vez um livro foi aberto e suas palavras consumidas. Palavras novas e velhas, desta e de outras leituras, que misturadas irão em breve parar em algum papel. Mas não pense você que sou uma devoradora de palavras. Não! Devorar é pouco. É apenas engolir de forma desesperadora, sem apreciar o seu sabor. Sou mais detalhista. Gosto do degustar, que me vai envolvendo em cada letra, em cada ponto, em cada sentido. Assim, tomo para mim as palavras e suas idéias. Sinto-me, então, saciada.
Se as horas e dias passam, minha “bagagem de conhecimento” passa com eles. Aquilo que possuo já não é suficiente. Já não bastam os mesmos autores e nem suas obras. Já não bastam as mesmas perguntas. Senso comum? Nem pensar! Abomino o clichê. A renovação caminha junto comigo, porque acredito na “metamorfose ambulante” de que já falava Raul Seixas em sua obra. Uma música, um filme, uma peça teatral ou ainda um bom bate papo são alguns elementos que constantemente ajudam a modificar o meu ser. Tento sempre absorver o melhor das coisas e das pessoas; estou sempre em fase de aprendizado. Acredito que boas fontes de conhecimento também podem ser encontradas nos mais simples seres, basta saber indagá-los. Perguntar, saber ouvir e observar atentamente são minhas armas preferidas para conseguir boas respostas às minhas questões.
Curiosidade, palavras, interrogações... Tantos pensamentos percorrem minha mente minuto a minuto. É como se houvesse um rio dentro de mim, onde minha cabeça fosse a nascente, que escoa a “água-pensamento” para as demais partes do corpo, os afluentes. E isto alimenta todo um complexo sistema constantemente. Nada há em mim que não seja fruto desse pensar. Pensar e agir... Jamais agir e pensar!
A noite se aproxima e eu aqui falando de um certo “eu”. Eu, pronome reto que corresponde à primeira pessoa. Mas que pessoa é esta? Nunca vi sua face, a não ser em fotografias. Nunca olhei diretamente em seus olhos. Tentei encontrá-la em muitos lugares, mas não achei. Lembro-me que uma vez vi sua fisionomia em um espelho, mas foi de forma tão indireta que nem sequer nos demos “oi”. Acho que não conheço a pessoa de que se fala porque muitos “eus” habitam seu interior. Conheço apenas aquilo que é visível, não a sua totalidade. Cada vez que a vejo, seja em fotografias, seja em espelhos, ela já não é mais a mesma da vez anterior. Não sei o que acontece, o que anda se passando. Só sei que vejo mudanças a longo prazo e espero que isto seja algo bom. Não estou certa de muitos de seus detalhes, mas de uma coisa tenho certeza: esse corpo que habita muitas pessoas chama-se “eu”.
Olho o relógio, são quase oito horas da noite. Mais uma vez, cá estou eu escrevendo enquanto o tempo passa. Papéis e canetas sempre foram parte constituinte daquilo que possuo. Sempre estiveram comigo nesta caminha de um pouco mais de 20 anos -e quero que assim continue. Somos bons amigos. Juntos, já compartilhamos segredos, dados, histórias de vida e até mesmo, frases banais. Em qualquer lugar que vou, lá estão eles dispostos a me ajudar. Papel e caneta nas mãos e muitas anotações a se fazer.
Se abro ou fecho livros, se escrevo ou se pergunto, não importa. O que importa é que algo, no início ainda sem nome, foi tomando conta de minha vida lentamente, foi se apropriando de mim. Sempre foi mais forte do que eu e, por mais que eu ainda não o enxergasse, lá estava ele ao meu redor. Estava na minha maneira de ler, estava em meus cadernos, estava presente em meu comportamento e na minha forma de ver o mundo. Até que um dia, quando eu estava deixando a minha infância para trás, ele apareceu de fato. Foi uma surpresa instantânea para mim, que disse comigo mesma: “Quero ser jornalista!”
Hoje, ao escrever estas palavras, percebo que o jornalismo não foi para mim uma escolha, mas sim, um fato. O que mais poderá fazer alguém que não consegue separar-se de seus papéis e canetas, que degusta livros e que vive por questionar? Identificação? Creio que não. É mais além. Só se escolhe aquilo que se quer ser, quando nada se tem a princípio. E quando eu nada tinha, pensava em ser engenheira, veterinária, astrônoma... Mas as palavras estavam em mim e eu sempre as deixei sair livremente, assim que as adquiria. Não, eu não escolhi ser jornalista. Foi o Jornalismo que me escolheu.