Cos'è?



venerdì 7 agosto 2009

Monólogos de um momento eternizado


México, 1955. Um fim de dia, talvez. Ou ainda, o início de uma bela manhã. Mas é claro que também pode ser o meio de uma tarde, quando o sol ainda está a pino e a vida apenas vive, sem se preocupar com a noite que tardará a chegar. Múltiplas possibilidades, e apenas uma certeza: tempos de revolução.
A América Latina é toda ela povoada por militares, golpes, vitórias e fracassos... Sangue... Sangue que escorre por diversos motivos, que lava ruas e becos e que coagula nas páginas da história. Líderes surgem por todos os lados, são políticos, são povo, são sonhadores e também, ditadores; podem ser até mesmo, heróis. As canções no rádio ainda são uma novidade que embalam uma geração. A televisão é um eletrodoméstico de luxo, na qual pouquíssimos latino-americanos tem.
E lá está o México, abaixo dos Estados Unidos até no mapa, ou, como diriam muitos, “A casa grande e seu quintal”. Naquele meados dos anos 50, o país é sede da segunda edição dos Jogos Pan-Americanos e obviamente, atletas e jornalistas de todo o continente encontram-se por lá.
No meio de tantos fatos, casos, desatinos, rumos, mesmices e detalhes, uma fotografia surge no cenário. Algo preto-e-branco, como convém para a tecnologia da época, mas cuja maneira incolor de ser, suscita um amplo e colorido leque de probabilidades, tão ressaltada é a imagem estática em sua negritude mesclada na brancura.
Lá está o mar, espremendo-se entre o céu e a praia. E como todo mar, este também não é diferente; gosta de fazer-se notar, de mostrar toda a sua amplitude e força, toda a sua magia e mistério. Suas ondas são fortes e utilizam-se da violência para alcançar a praia solitária. Talvez tão acostumado com o contexto sócio-político da época, o mar também quis mostrar o seu lado traiçoeiro e perturbador. Ele desliza, balança, ameaça e cai... Forma-se então, um grande e sacolejante lençol branco com suas espumas. Ondas de um tempo. Tempo de perseverança. Ondas de um tempo ali eternizadas.
Diante da brutalidade do mar, estão um homem e uma mulher parados, olhando um para o outro a conversar. Ele, metido em um terno que no ao vivo da situação deveria ser bege, marrom ou algo similar, e um chapéu da mesma coloração que repousa em sua cabeça. Ela, mais baixa do que ele, vestido branco a cobrir-lhe as curvas e outros adereços da carne e um lenço a envolver-lhe os cabelos. Um bom observador notaria uma cesta em seu braço esquerdo, enquanto o outro, curva-se na cintura. Sua face parece estar em movimento. Palavras devem sair de sua boca. Mas o homem mantém uma postura séria. Apenas a escuta, enquanto suas mãos estão para trás. Seriam eles um casal, meros amigos ou quem sabe, amantes?
A praia onde se encontram leva a crer que é um local bem movimentado. Uma provável chuva recente deixa à mostra inúmeras pegadas na areia. Mas o homem e a mulher em nada reparam ao que acontecem ao seu redor. Não notam os navios no horizonte, nem a violência do mar, nem a gradativa mudança de tonalidade do céu, nem as marcas de passos na areia, nem nada. Só tem olhos um para o outro.
Alguém se aproxima e percebe a distração do casal. O cenário está perfeito para um bom enquadramento. Esse alguém é Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967), um repórter fotográfico da Agência de Imprensa Argentina, que cobria os Jogos Pan-Americanos. Sim, é ele mesmo, o tão conhecido Che Guevara, revolucionário comunista que sacudiu a América Latina com sua ideologia e ousadia, e um dos nomes expoentes da Revolução Cubana (1959). Apesar de sua formação ser em medicina, Che, nas horas vagas, praticava uma outra sua grande paixão: a fotografia. Um “clique” mistura-se com o som ambiente. Assim, o fotógrafo Che Guevara eterniza aquele momento. Agora, para todo o sempre, o homem e a mulher da praia estariam se fitando.