Cos'è?



domenica 17 gennaio 2010

O homem de outros mundos- entrevista com o escritor Pedro Maciel


“Eu não sou deste mundo. (...): no mundo é preciso viver com o mundo”.(pág. 41)


O escritor Pedro Maciel tem um velho conhecido há anos; uma amizade que surgiu no dia de seu nascimento e que vem fortalecendo-se com o passar do tempo. Mas, quem seria tal companheiro? Nada mais, nada menos do que ele mesmo! Se Pedro Maciel apresentou-se para si mesmo alguma vez, isto não importa. O que importa é que ele se torna conhecido de seus leitores a partir de suas obras. Seus personagens, além de narrarem toda uma história, também dão pistas da personalidade de seu criador. São indicações de pensamentos, ideias, condutas, leituras e gostos (que também devem ser lidos nas entrelinhas). Assim, o autor dos livros “A hora dos náufragos” (2006) e “Como deixei de ser Deus” (2009) diz, em outros momentos, que não gosta muito de comentar sobre si. Também não vê necessidades em se produzir biografias: “(...) acho as autobiografias uma bobagem. Afinal, pode-se ler sobre a vida do escritor através das suas criações”. Discreto, ex-jornalista e hoje, totalmente ligado à literatura, Maciel fala um pouco sobre o seu mais recente livro, “Como deixei de ser Deus*”.
*Maciel, Pedro. Topbooks. Rio de Janeiro, 2009.

BRUNA-Baseando-se em seu último trabalho “Como deixei de ser Deus”, como surgiu a ideia de contar uma história em fragmentos? Por que não fazer como ‘todo mundo’ e abordar o tema em um grande texto corrido?

PEDRO-Ciência é antítese e arte é síntese. Os fragmentos me ajudaram a encontrar a forma mais sintética e contemporânea de contar uma história já contada há milênios. Muda-se a maneira de se contar a história mas os episódios se repetem ao longo da existência.

B- Você fala tantas vezes no pensamento e na ação de pensar. Que pensamentos lhe passavam pela cabeça enquanto escrevia o livro?

P-Pensar exige muito da memória. Escrevo para esquecer.

B - O narrador de seu último livro deixa de ser “Deus” ao fazer diversos tipos de reflexões. O que é Deus para você? Religião e fé podem andar juntas?

P-O ser humano já é naturalmente religioso. Ele está religado a outros tempos e espaços desde o surgimento do Universo. Religião é uma redundância da vida sobrenatural. Pode-se dizer que “Deus é a alma dos brutos”.

B -Dar margem para a múltipla interpretação é uma marca de seu livro. Porém, quando se permite multi-interpretar, pode-se perder o foco inicial. Você não teve ou tem nenhum receio quanto a isto?

P-Não tenho receio sobre as interpretações do meu livro, já que considero todo leitor mais inteligente do que o não-leitor. O meu livro é o que o leitor quiser que ele seja. Cada leitor vai interpretar o meu mundo conforme a sua cultura. Aliás, o leitor é mais importante do que o autor.

B -Este é o seu segundo trabalho como escritor e que tem uma boa aceitação pela crítica nacional. Que tipos de ansiedades e aspirações sente um escritor no pré e pós -lançamento?

P-Quando se exerce a autocrítica, a crítica não tem tanta importância. A crítica nunca nos diz nada de novo. Eu não alimento ansiedades, afinal eu me conheço há séculos. Deve ser por isso que não me importo em ser conhecido ou reconhecido.

B-Nomes como Luis Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar teceram bons comentários sobre a sua obra. Como é ter um livro criticado por grandes mestres da literatura brasileira contemporânea?

P-Os comentários destes escritores honram qualquer escritor brasileiro. Aliás, os comentários de Veríssimo e Scliar estão estampados em uma das orelhas do meu livro. Apesar de que adoro Van Gogh.

B -Você tem contato direto com eles? Como você recebeu a notícia de que seu trabalho estava em tais mãos?

P-Eu mesmo enviei os originais para estes escritores que admiro para que fizessem breves críticas. Eu só os conheço virtualmente. Desde o lançamento do meu primeiro romance “A Hora dos Náufragos”, ed. Bertrand Brasil, que envio os originais antes para escritores avaliarem. Só após receber os comentários que envio para o editor.

B -A originalidade é uma característica de sua obra. Mas ser original, muitas vezes, é correlacionar ideias anteriores. Por que criar é por vezes, tão difícil?

P-Creio na ‘confluência’ e não na ‘influência’. Busco a originalidade o tempo todo. Alguém já disse que para ser original é preciso voltar-se às origens. Por isso o leitor vai ouvir ecos de vários tempos e culturas em minha literatura. O difícil me estimula.

B -Por que também existe dificuldade em aceitar o novo? Quebrar paradigmas (nos mais diversos setores) é uma saída para o desenvolvimento da criatividade?

P-Às vezes uma obra não é aceita em seu tempo porque a geração não está preparada para entendê-la. Apesar de que certas obras de arte não necessitam de ser entendidas mas apenas de serem sentidas, me disse um leitor. Eu sempre ouço com a maior atenção os comentários dos meus leitores. Eu escrevo para eles. Afinal, não há literatura sem leitores.

B-O Pedro Maciel é rebelde?

P-Às vezes não sei volto ou revolto.

B -Quais são as maiores ilusões de um escritor?

P-Eu já não mais me iludo em plena luz do dia.

B- Muitas de suas resenhas publicadas em jornais como O Globo, JB, Suplemento Literário de Minas Gerais, entre outros, são de livros que você gostaria de ter escrito. Que autor e obra mais te causam “inveja” por não ter sido criação sua?

P-A obra de Shakeaspeare, Proust, Dostóiveski, Beckett, Rimbaud, Drummond, Guimarães Rosa e tantos outros não me causam ‘inveja’ mas me causam ‘emoção’.

B -Sua atuação como jornalista terminou em 2003. Por que o jornalista tem que saber a hora em que deve parar com a profissão para exercer a literatura?

P-Literatura é devaneio com método. Jornalismo é método, método, método.

B-Quais suas evoluções em termos literários e ideológicos com relação à “A hora dos náufragos” e “Como deixei de ser Deus”

P-Os comentários sobre as ‘evoluções’ ou ‘involuções’ da minha literatura deixo aos críticos. Torço para que os críticos herdeiros da crítica impressionista ou os críticos-mandarins não façam comentários acadêmicos ou artificiais sobre a minha sintaxe.