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mercoledì 8 agosto 2012

Os 80 anos da múmia de Karloff


Imagine-se em 1932, época em que as imagens de cinema eram em preto-e-branco e que qualquer sombra mais distorcida fazia medo. Imagine-se agora em uma poltrona, a assistir a história de um morto-vivo, de um monstro, de um homem embalsamado que retorna dos mortos após 3700 anos. Assustador, não? Há oitenta anos, com toda certeza: afinal, era a primeira vez que o público via nas telas o filme “A Múmia” (“Ela vem à vida”, anunciava o cartaz oficial do filme, com a foto da terrível múmia ao lado); mas hoje, definitivamente, não (principalmente com um público acostumado a ver monstros “reais”, criados por meio de computadores, a arrancarem a cabeça dos atores em cena). Desde que a múmia “veio à vida”, este ícone do cinema nunca deixou de povoar o imaginário de cineastas e cinéfilos, servindo de inspiração para outras tantas versões.


Dirigido por Karl Freund, o elenco de “A Múmia” traz atores presentes em filmes de terror da época, como Bóris Karloff, Edward van Sloan e David Manners. O trio repete um pouco o posicionamento de cada um em filmes anteriores, como Karloff na atuação (impecável) da múmia (tendo feito o monstro em “Frankenstein” um ano antes), Sloan sempre na atuação do cientista (bem como em “Frankenstein” e “Drácula”, também de 1931) e Manners no eterno papel de amigo ou namorado da protagonista (“Drácula”). Entretanto, isto não minimiza a importância de seus trabalhos, que foram bem feitos. Pode-se até pensar que esses são os atores perfeitos para eternizar tais papeis- o que é mais evidente em Karloff, com seu porte alto e ossos fortes, além de seu olhar melancólico: teria múmia melhor do que ele?

Se Freund achou que não (e tinha razão), as características físicas da criatura em trapos foram muito bem elaboradas por Jack Pierce, o maquiador. Pierce não teve piedade de Karloff e o envolveu por completo em ataduras, sem nem ao menos pensar nas necessidades físicas do ator durante o dia. Também colou substâncias desagradáveis em seu rosto, que ardiam seus olhos e que eram dolorosíssimas para serem retiradas, tudo para que o ator parecesse um corpo embalsamado e ressequido pelo tempo, cujos trapos que se arrastaram pelo chão após o seu retorno à vida, levaram à loucura o jovem arqueólogo que o ressuscitou (e sabe-se mais, quantas outras pessoas enlouqueceram ao vê-lo!). Karloff, além de bom ator, era também considerado por seus colegas de trabalho um grande cavalheiro e por isto, jamais reclamou das “torturas” diárias que sofreu durante as maquiagens desse e de outros personagens- para ser transformado na múmia de Im-Ho-Tep, gastava-se cerca de oito horas.

Como se não bastasse, as horas de gravação eram longas e exauriam a equipe. No minidocumentário contido nos extras de “A Múmia” da Coleção Monsters (lançado em meados dos anos 2000 pela Universal, responsável por este e outros clássicos), conta-se que na cena em que Im-Ho-Tep (ou Ardath Bey, nome com o qual se apresentou à sociedade egípcia nos anos de 1930) mostra a sua amada, reencarnada no corpo de Helen Grosvenor, quem ela fora em tempos antigos, a atriz húngara Zita Johann, que vivia Helen e Anck-Es-En-Amon (a “amada”), perdeu os sentidos devido ao cansaço e à falta de alimentação após tantas horas de trabalho.

Apesar das dificuldades na produção, o resultado foi satisfatório. O filme, que mescla os gêneros terror e romance, foi um sucesso em seu lançamento. São 73 minutos em que o histórico e o lendário se misturam: múmias existem, mas daí a serem despertadas, ou ainda, a cair em desgraça quem violar suas tumbas é algo que só místicos afirmam- mas que podem virar notícias de jornais se coincidências (?) acontecerem. Além disto, o eterno amor de Im-Ho-Tep por Anck-Es-En-Amon é algo que enche os olhos dos mais sensíveis: um amor que ultrapassou milênios e também, até os mistérios da morte.

Com os elementos certos, “A Múmia” perambula pelos anos e por mais que hoje não assuste mais ninguém, sua narrativa ainda tem a força dos monstros consagrados. Não é preciso tapar os olhos no momento em que Im-Ho-Tep é despertado de sua morte, mas é preciso acreditar que ali existe uma múmia ressuscitada. Eis a força de “A Múmia” e de todos os clássicos de terror de sua época. Com elegância, fazem de um detalhe (seja ele uma maquiagem, uma música, ou um enquadramento, por exemplo) algo mágico. Como é difícil quebrar um encantamento, este, ao ultrapassar o tempo, produz seus feitiços em quem o olha. Este é o perigo. Esta é a emoção. Este é o verdadeiro susto do filme.