Cos'è?



mercoledì 27 marzo 2013

Outros tempos, mesmo circo


Na semana do circo, o gigantesco baú de sua história foi aberto e remexido (na vida, sempre há aqueles momentos em que caixas velhas, antigos baús e gavetas emperradas são revirados). Dentro dele, além de figurinos de grandes artistas, de trapos de lonas e de um coelho que fugiu da cartola de algum mágico, também foi achado um dos primeiros filmes sobre o tema: “O Circo”, de Charles Chaplin (1889-1977), o Carlitos.

Lançado em 1928, época em que o cinema era mudo, em que a Europa ainda se recuperava dos estragos da Primeira Guerra (1914-1918) e em que os Estados Unidos (e muitos países) estavam prestes a viver o período da Grande Depressão (com início em 1929), Chaplin, que por meio de seu personagem, o vagabundo, sempre achava um jeito de rir de seu tempo, também satirizou o mundo circense.

A trama dessa obra se inicia com a melancolia típica de seus filmes, que depois, passa a se dissolver no enredo humorístico: Merna, a enteada do dono de um circo e responsável pelas apresentações com cavalos, encontra-se triste e solitária a balançar-se em um dos equipamentos no alto da lona. A música que a embala, “Swing Little Girl”, composta pelo próprio Chaplin, ilustra a atmosfera hipocôndrica que muitos dos artistas de circo vivem, surgidas a partir de dificuldades a serem superadas no meio.

“Balance, garotinha,/ Balance, alto, para o céu,/ E nunca olhe para o chão/ Se você procura o arco-íris,/ Olhe para cima, para o céu/ Você nunca achará arco-íris,/ Se você estiver olhando para baixo/ A vida talvez seja monótona,/ Mas nunca é igual/ Um dia, é de sol,/ Outro dia, é de chuva”, diz o diretor, ator e compositor.

O circo de Merna passa por maus bocados: a moça erra sempre os passes de seu número, os palhaços não são mais engraçados e o público vaia as más atuações. O autoritário padrasto da artista cobra dela e dos demais os bons resultados: mas Merna é sempre a que mais sofre, por apanhar do dono do circo e por não ganhar, muitas vezes, comida como punição.

É neste cenário que surge o vagabundo: ao ser envolvido em um furto de uma carteira, no meio da fuga atrapalhada com a polícia e com o verdadeiro ladrão, Carlitos acaba por invadir o picadeiro do circo em pleno espetáculo; eis que seu jeito cômico traz de volta as gargalhadas do público, o qual acredita que aquela cena entre o policial e o vagabundo, seja parte da apresentação. E quando o inconfundível homenzinho de cartola e bengala consegue se livrar do policial e sair do picadeiro, a plateia chama por ele: “queremos o homem engraçado!”.

Com a naturalidade e a inocência de um bom palhaço, Chaplin supera em graça, a trupe de palhaços do circo (que até aí, só oferecia à plateia números desgastados e repetitivos). Ele é a inovação; ele é a luz das estrelas de um circo, ao atrair e divertir um público também sofrido com as mazelas socioeconômicas daquele período, sendo somente um personagem: ele mesmo.

As cadeiras do circo voltam a encher, as gargalhadas são gerais e constantes e a estrela, que até então, não sabia que era uma estrela, se aproxima cada vez mais da tristonha Merna. Esta, que um dia, se apaixona por um belo equilibrista, parte o coração do vagabundo, que ao continuar a ser ele mesmo, não pode mais ser cômico, por estar triste. Um novo período de declínio começa no circo.

São nesses altos e baixos que o diretor mostra os bastidores a que artistas e demais funcionários circenses estão submetidos em muitos casos: os problemas financeiros, a manutenção do circo (como limpeza do local e trato com animais), a falta de incentivos para a renovação dos números, os dramas pessoais. A ironia de Chaplin é profunda ao tocar na ferida da alegria: a lona de um circo abrange muito mais do que risos e luzes: são pequenos universos pertencentes a grandes seres humanos, os artistas.

Ao final, quando tudo parece estar resolvido, o circo parte e leva consigo todo este mundo de risos e soluços para algum novo lugar. A marca de sua lona permanece no chão e com ela, o vagabundo segue o seu caminho com seus passos desajeitados.