Cos'è?



lunedì 1 marzo 2010

O dia seguinte ao fim do mundo


Anunciaram o fim do mundo. Em todas as capas de jornais vê-se escrito: “Mundo acaba” (Le Monde), “Destruição no planeta é a maior de todos os tempos” (Folha de S.Paulo), “Planeta Terra chega ao fim” (O Estado de S.Paulo), “Os maias estavam certos” (The New York Times). Na televisão são constantes as imagens de crateras gigantes, de entulhos de tamanhos monstruosos, além de pilhas e pilhas de corpos humanos e animais... Nada de plantas, nada de rios, nada de nada. Na Internet, a notícia também é a mesma: “Destruição causada pelo fim do mundo deixa o planeta sem vida” ou ainda “É incontável o número de mortos com o fim da Terra”.
E assim, a cada minuto que passa, este é o único assunto a ser divulgado; afinal, perdeu-se o sentido de se tratar do “caso Arruda”, da candidatura da Dilma à presidência, de vitórias do Corinthians ou de lançamentos de filmes, livros e cd’s. Obviamente que este é um tema a ser esgotado pelos veículos de comunicação, como todos nós sabemos. É de se esperar que em grandes catástrofes, em grandes escândalos ou em qualquer outra coisa que renda ‘pano para manga’, como diziam muitas das vovós, a mídia aborde, mostre, comente e até aumente muitos dos fatos. Com a morte do Michael Jackson foi assim; com os terremotos no Haiti e no Chile também (isto, sem contar as enchentes no começo do ano de 2010), com a vitória de Obama nas eleições americanas e de Lula no Brasil há uns anos, idem, e assim por diante... Subitamente surge uma quantidade enorme de repórteres com suas câmeras de vídeo ou de fotografia, com seus microfones e gravadores, com seus papéis e canetas. Estão todos a rodear o fato e dispostos até mesmo a devorá-lo se for possível, para em seguida, vomitá-lo em longos jatos de informações agressivas . O fim do mundo é que não podia ficar de fora de tamanha pauta!
Aliás, muito antes de se pensar na criação da imprensa, do jornalismo e seus veículos, e nas agências de notícias, um povo habitante da América Central já previa destruições (há os que digam apenas “fortes mudanças”) no planeta: eram os maias. O tão esperado “fim do mundo” previsto para o ano de 2012 e que fora antecipado por eles, realmente aconteceu. Mesmo não sendo na data e no ano alertados e nem sabendo se foi o sol que recebeu uma forte luz da galáxia, provocando mudanças magnéticas (como eles justificavam ser um dos motivos), o mundo acabou e pronto! As evidências já vinham há muito tempo: um tsumani aqui, um terremoto ali, outro lá, uma forte nevasca nos países do norte, uma tempestade devastadora em ilhas ou em países tropicais, longas secas, muitas enchentes. Eram tantos os sinais da natureza que de repente, parece que todos se acostumaram com isto: “O quê? Terremoto no Chile?”, “Mas outro dia não teve no Haiti?”, “Terremoto de novo? Já me cansei deste assunto” e assim, viraram a página ou mudaram de canal -até porque, desta vez os estragos nem foram tão grandes assim...
Leio em meus jornais a respeito da “maior catástrofe que já pairou sobre a Terra”, como anunciam as mídias sensacionalistas. Noto que querem achar os culpados -sempre tem que haver um nome para se acusar- e desta maneira, os primeiros a entrarem na lista são a civilização maia. E haja contestações em cima dos pobres habitantes indígenas centro-americanos! O problema é que, como eles constituíam uma pequena população em países como México, Honduras, Guatemala e El Salvador até a poucos instantes do mundo ir para os ares, não há mais como colher suas versões do fato (lembrando que um dos princípios básicos do jornalismo é sempre “ouvir o outro lado”). Se resolverem culpar de ira qualquer deus em qualquer religião, também cairão no mesmo entrave dos maias; se jogarem a culpa no “aquecimento global” (qualquer mudança mínima na natureza era culpa do tal do aquecimento global- o El Niño perdera seu posto faz tempo!) também não terão quem responda por ele. Talvez, o Chávez, o governo da Coréia do Norte ou ainda o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sejam boas saídas para o caso: quem sabe, eles não sobreviveram à catástrofe? -afinal, se o Bin Laden deu um “jeitinho” de se “esconder” dos Estados Unidos, eles também podem ter dado um jeito de continuar vivendo- como por exemplo, proibindo o fim do mundo em seus respectivos países.
Ainda não sei onde vão dar as apurações da imprensa. Porém sei que ainda verei paisagens totalmente destruídas por um bom tempo. Também terei que andar pelas ruas no meio de tamanho caos e certamente, irei me deparar com algum jornalista pronto a apanhar meu depoimento sobre o caso. Mas um detalhe me consola e me faz lamentar ao mesmo tempo: o fato de que quando o mundo renascer, as notícias não serão maçantes, pois dificilmente um fato positivo vira notícia. Em uma probabilidade remota lerei nas manchetes de qualquer jornal: “Início do mundo é marcado por crescimentos em todo o planeta”.