Cos'è?



domenica 20 maggio 2012

Poetas também já foram crianças

"fiz 1/tinha 3/ fiz 10/tinha 30/ fiz 30/tinha 90/ hoje tenho 108/ na minha vida 1=3"- poema "Idades" do livro "Cor de Cadáver" de Jovino Machado


A pessoa que aqui escreve já foi criança. Assim como os pilotos de avião, os otorrinolaringologistas, os carteiros, os agricultores, os garis, o criador da “Monalisa” e também os poetas. A alma infantil, que é sempre a mesma em cada um destes e de outros corpos, esvai-se quando se atinge certa idade. O que sobra de sua pureza é somente a sensibilidade para permanecer no universo das pessoas “grandes”.

No ramo da poesia, a sensibilidade exacerbada na maneira de ver o mundo é algo fundamental nas entranhas de um poeta. E como a infância pode ajudar na construção dessa visão? O poeta mineiro Jovino Machado, um adulto de quase cinquenta anos, comenta por e-mail sobre a literatura no mundo infantil e a importância dela na sua formação. Ele, que brincava de ser Robin Hood e que fazia de uma caixa de maçãs uma biblioteca para as suas revistas em quadrinhos, afirma não ter talento para escrever poesias para as crianças. Sua sensibilidade, em livros como “Cor de Cadáver” (Anome Livros, 2008) e ”Fratura Exposta” (Anome Livros, 2005), é forte o bastante para brincar com sentimentos e sensações do mundo adulto. “Robin Hood” tornou-se grande.


O que é mais importante nas histórias infantis: reforçar valores (como a moralidade, o amor, a ética) ou formar leitores?
Jovino Machado Formar leitores. Um autor não tem que pensar em valores na hora de criar. Na hora de criar, ele tem que vender a mãe.

Quando uma criança abre um livro, de que maneira ela pode encontrar a verdadeira poesia naquela obra?
Jovino Machado Ela pode encontrar poesia em qualquer lugar. Quando ela abre um livro, pode encontrar poesia num texto bem feito que possa prender a sua atenção. Um texto feito com talento, originalidade e criatividade seduz o leitor e ele não consegue parar a leitura antes do final. Um bom casamento entre texto e ilustração (como por exemplo, nos livros de Ângela Lago) podem também contribuir muito nesse sentido.

Comente um pouco sobre as suas histórias preferidas e em como tais livros o ajudaram a se tornar poeta.
Jovino Machado Eu sempre tive livros em casa. Até hoje gosto muito das fábulas, mas acho que as histórias em quadrinhos me influenciaram muito. Com nove anos de idade eu já tinha uma pequena biblioteca de revistinhas dentro de uma caixa de maçãs. Eu gostava demais de desenhar na minha infância e era muito bom inventar novas caras para os artistas dos faroestes que eu via no cinema. Os livros que me ajudaram a me tornar poeta foram as obras dos próprios autores de poemas, como [Carlos] Drummond [de Andrade], [Manuel] Bandeira, Cecília [Meirelles], Olavo Bilac (que hoje acho chato, mas adoro a letra do Hino da Bandeira), Castro Alves e outros que conheci no quadro negro dos anos 1970. “Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, foi o primeiro romance adulto que eu li (tinha doze anos) e fiquei fascinado. Mas as histórias decisivas para a construção de uma obra poética foram as narrativas de Machado de Assis, Oswald de Andrade, Guimarães Rosa, Balzac, Autran Dourado, Fernando Sabino, Darcy Ribeiro, Proust, Sartre, Virgínia Woolf; o cinema de Nelson Pereira dos Santos, Godard e Glauber Rocha; a música de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Jobim além, é claro, do violão de João Gilberto. Gosto imensamente de pintura e as obras de Picasso, Modigliani, Rodin, Camille Claudel, Salvador Dali , Degas, Monet, Coubert e muitos outros também contribuíram muito na minha formação de artista.

Qual personagem de livro você brincava de ser? Em que sentido ele o instigava?
Jovino Machado Eu brincava de ser o Robin Hood e o Homem Aranha. Eu gostava muito de brincar de índio. Eu tinha “Forte Apache”.

Ainda lê ou relê livros infantis? Por quê?
Jovino Machado Eu leio muito jornal. [Livros] não releio quase. Para mim a leitura é uma coisa tão patológica que eu fico com medo de perder tempo e não conseguir ler todos os livros que me interessam e eles são muitos. Este ano, comecei as leituras de livros no domingo de carnaval e já li quatorze. Em 2013 faço cinquenta anos e quero chegar aos mil livros.

O que pensa da literatura infantil que é escrita hoje?
Jovino Machado Eu gosto muito dos livros da Ângela Lago.

Já pensou em fazer versos para os pequenos?
Jovino Machado Não !!! Não tenho talento para isso.