Cos'è?



martedì 8 maggio 2012

De repente se fez amor

De repente se fez amor. Assim, de um dia para o outro, sem que se esperasse, sem aviso, sem bilhete. O coração (aquele órgão que mais apanha do que bate) foi pego novamente de surpresa e agora suspira paixões eternas, palavras tolas, futilidades úteis. Mais uma vez tudo começa: a perfeição do instante, a beleza do azul, o quanto é magnífico viver! Sim, porque a vida sem o maldito amor não é nada além de vazio, de solidão, de frieza. Viver sem amor é igualar-se a um oceano, sempre superficialmente sereno, mas com profundezas escuras e gélidas, onde nem mesmo as mais extravagantes criaturas conseguem viver. O que sabem da vida os mau-amados? Mas para aqueles que amam e que sabem que são amados, o mundo é infinito! E lá está o coração, o símbolo de toda essa maluquice, a expor-se a mais uma prova, a tentar, tentar, tentar. Esforça-se por pouco e luta contra um leão, mesmo sendo do tamanho de uma formosa maçã. Dá vivas, saltos e olés, e quando se sente cansado, recebe uma enxurrada de melopraticidades (o seu combustível) e logo se revigora. Porque o amor que ele contém, é tão mais frágil do que um dente-de-leão: basta um simples sopro para desfazer-se em centenas de pequenas pétalas, que separadas, nada são. Deve-se saber que o amor é hoje, é ontem, mas também é (principalmente) amanhã. É uma construção do tempo, que tem o dever de renovar-se a cada dia, implorando ao coração para suportá-lo. Porém, lá do alto, o cérebro (aquele incansavelmente chato) questiona: "se o coração é uno, por que o amor pode ser multi?". Bem, daí, o coração, que em outras vezes possuiu o amor, recorda-se de todas as suas chegadas e de todas as suas partidas; nem sempre é possível vencer uma luta! Mas bom guerreiro que é, mais uma vez aceita a prova e agarra aquele maleável sentimento. E lá no dicionário, o Michaelis, suas linhas dizem: amor, "sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso". Certamente o amor dos inamorados cerca a grandiosidade do que é dignamente belo, ainda que isto não configure, necessariamente, a realidade aos olhos dos outros. Basta somente existir para sentir e sentir, para ser amor. O que importam as opiniões alheias? A "coisa", amor, é um culto, uma veneração ao seu objeto, e também uma ambição e uma cobiça, como bem ensina o dicionário. Quando de repente tudo se faz amor, o que mais resta ao corpo? E à mente? Tão próximo da ilusão está o amor, que algumas vezes, faz confusões entre os seus significados. Ainda assim, a alegria de portar aos olhos um belo dia cinzento de chuva ou um pôr-do-sol tão diferente dos outros custam muito àquela máquina que caminha e que pensa (e que agora sente). Porque o amor traz necessidades, necessidades antes nunca possuídas e imaginadas. É um mistério, talvez muito maior e mais profundo do que os das pessoas que são como os oceanos, pois não se pode compreender a sua ânsia em ser uma trilha selvagem a cada vez que surge. Esta é a necessidade do amor. E como as trilhas selvagens, surge e ressurge quando bem quiser. Imagem: Paul Cezzane, 1876/77