
Lá vai a pipa voando, subindo sempre faceira, passando rasteira em todas as nuvens do céu. Quando alcança o ponto onde é preciso inclinar a cabeça e forçar a vista para vê-la é porque chegou bem lá no alto e lá no alto ela é ainda mais livre para voar um vôo dos sonhos dos meninos que ficaram aqui embaixo, na terra.
"Deve ser bom ser pipa e poder olhar o mundo lá de cima", pensa Zezé, que puxa levemente a linha, cutucando a pipa lá em cima. Esta rodopia uma, duas, três vezes e continua a flutuar soberana sobre os céus da cidade. Quem a olha vê logo um ponto vermelho com barbatanas coloridas a pairar na imensidão do azul do céu. Tal como um peixe solitário no mar, a pipa de Zezé segue adiante, deixando para trás ondas e ondas de ventos impulsores de força. Neste chacoalhar de brisas, nada mais belo do que ver uma pipa a bailar com a intensidade dos seres destituídos de alma, mas repletos de puros e simples significados.
